17 de janeiro de 2025

Casa de 70 anos onde homem nasceu e viveu em Porto Alegre é demolida por causa da enchente: ‘A história da gente passou’

Casal de moradores do bairro Sarandi, na capital, abandonou a residência em 4 de maio e vive de serviço desde então. Imóvel, que era de madeira, não pôde ser recuperado. Casa de 70 anos onde homem nasceu em Porto Alegre é demolida por causa da enchente
Casa de 70 anos onde homem nasceu em Porto Alegre é demolida por causa da enchente
As enchentes que atingiram Porto Alegre levaram à demolição de uma casa de cerca de 70 anos, onde o morador Silvio Luiz de Souza, de 67 anos, nasceu e morou durante toda a vida. A residência estava localizada no bairro Sarandi, o mais atingido da capital, com 26.042 afetados.
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O aposentado vivia na casa com a esposa, Vera Maria de Souza, de 68 anos, e precisou abandonar o local em 4 de maio, após o extravasamento do dique do Arroio Feijó durante a madrugada. Um mês depois da inundação, poucas coisas foram salvas além das memórias.
Casa de Silvio Luiz de Souza é demolida no bairro Sarandi após 70 anos
Arquivo pessoal/Luiz Henrique Rodrigues de Souza
“[Meu sentimento] foi de que não adiantava mais nada, porque o que tinha lá dentro já foi, né? Agora a história da gente passou. Agora a gente tem que resolver montar outra história”, revela. “Eu nasci ali, eu jogava bola. Brincava, jogava futebol na rua. Foi uma infância gostosa”, complementa Silvio.
A demolição ocorreu em 8 de junho, quando a água baixou, e foi necessária porque a inundação chegou próxima ao teto, estragando o imóvel, que era de madeira. Os cupins consumiram a estrutura, e os pisos e as paredes começaram a cair. Uma retroescavadeira foi emprestada para a operação.
Imóvel de 70 anos no bairro Sarandi ficou inundado
Arquivo pessoal/Liamara Souza e Luiz Rodrigues de Souza
Mesmo com as cheias, a água nunca havia chegado até a casa da família. O morador relata que o nível mais próximo em que uma inundação se aproximou da residência foi em 2013, quando as cheias chegaram à esquina da rua onde morava.
“Eu me sinto assim, meio anestesiada, sabe? Parece que eu estou em outro mundo. É uma sensação que eu não desejo para ninguém. Tu vê tudo, todos os anos que tu construiu as coisas indo por água abaixo”, lamenta a esposa, Vera.
A família conseguiu retornar ao imóvel no dia 1º de junho, quando a água ainda atingia a altura da canela. Porém, o acesso definitivo foi mais de um mês depois, em 6 de junho, data em que avaliaram os prejuízos e salvaram parte das louças.
Destroços de casa de 70 anos no bairro Sarandi
Arquivo pessoal/Luiz Henrique Rodrigues de Souza
No momento, o casal vive de favor na casa dos sogros do filho até conseguir uma moradia definitiva – um planejamento que segue em aberto. Os filhos, Luiz Henrique Souza e Liamara Souza, seguem com um financiamento coletivo aberto nas redes sociais para ajudar os pais.
“A gente não tem mais nada. Meus pais, graças a Deus, foram acolhidos por uma família. Eles estão na casa dessa família, aguardando até a gente conseguir reconstruir alguma coisa, alguma casa, umas peças, enfim, conseguir móveis, tudo, né, porque é do zero”, afirma a filha do casal, Liamara.
Justiça determina plano da prefeitura
A Justiça exigiu, na noite de quarta-feira (12), que a Prefeitura de Porto Alegre apresente um plano de ação em áreas atingidas pelas enchentes e pelos temporais na capital, mesmo que provisório. O prazo foi de 10 dias, e não há punição prevista em caso de descumprimento.
Trevo da BR-290 sobre a Avenida Assis Brasil, entre Porto Alegre e Cachoeirinha (ao fundo)
Reprodução/TV Globo
A determinação foi do juiz Thiago Notari Bertoncello, da 7ª Vara da Fazenda Pública do Foro Central de Porto Alegre. O magistrado ordena que o município esclareça quais ações já foram tomadas e o que ainda deve ser feito.
O despacho menciona a necessidade de uma “prova pericial complexa” para compreender o que causou a falha do sistema anti-cheias na capital, bem como compreender se houve eventuais erros de agentes públicos.
O nível do Guaíba, na Usina do Gasômetro, em Porto Alegre, atingiu 5,35 metros em 5 de maio, superando a enchente histórica de 1941.
Números da tragédia no RS
Os temporais e as cheias que atingem o Rio Grande do Sul já deixaram 176 vítimas, segundo o boletim da Defesa Civil de sexta-feira (14). 39 pessoas estão desaparecidas e 806 ficaram feridas.
O órgão afirma que 433,5 mil pessoas estão fora de casa – 10,7 mil em abrigos e 422,7 mil desalojadas (em casa de amigos e parentes).
Dos 497 municípios do estado, 478 registraram transtornos relacionados aos temporais, afetando mais de 2,3 milhões de pessoas.
‘Cemitério de carros’ após enchente no RS
Reprodução/RBS TV
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