28 de dezembro de 2024

Casamento durante passagem de furacão Catarina é relembrado por marido 20 anos depois: ‘Voou tudo’

Noivos e convidados se esconderam em banheiro. Passagem do furacão Catarina completa 20 anos neste mês de março. Confira imagens do casamento de Charles e Cleimar, realizado durante passagem do furacão Catarina
Há 20 anos, Charles Sousa e a então noiva Cleimar se casaram. A cerimônia não é só lembrada por eles e convidados por causa da celebração da união dos dois. Um elemento que o casal não planejou afetou diretamente o casamento: a passagem do Furacão Catarina.
“Voou decoração, os presentes, taças, copos. Voou tudo”, resumiu Charles.
O furacão passou pelo Sul de Santa Catarina entre 27 e 28 de março de 2004, deixando um rastro de destruição. Foram 11 mortos e mais de 30 mil pessoas desabrigadas e desalojadas. O furacão causou fortes ventos e muita chuva.
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Era final da tarde de 27 de março de 2004, um sábado. Ele e a esposa, Cleimar, se casaram no salão de festas do Parque Ecológico de Maracajá, no Sul de Santa Catarina.
A cerimônia reuniu familiares e amigos de Santa Catarina, do Paraná e até do Rio Grande do Sul. Pelo menos, os que conseguiram chegar, pois muitos desistiram depois dos alertas de vento forte na cidade.
“A gente não ficou muito preocupado, estávamos mais nervosos por estar casando. Também já estava tudo pago, comida, decoração, músico… Não tinha como cancelar”, disse Charles.
A cerimônia e a festa foram no salão. Quando as portas se abriram para a entrada da noiva, Charles se lembra do assovio do vento e do véu de Cleimar voando atrás dela. “Não dava pra ter dimensão da coisa. A gente ouvia o vento e a chuva, mas nada que nos deixasse preocupados”, ele contou.
A cerimônia e o jantar seguiram normalmente. Por volta da meia-noite, no momento em que o DJ começaria a tocar a valsa dos noivos, a energia elétrica caiu.
Casamento de Charles Sousa e Cleimar, ocorrido durante a passagem do furacão Catarina
Chales Sousa/Arquivo pessoal
Nessa hora, parte dos convidados já tinha ido embora. Algumas pessoas já haviam levado cadeiras para o banheiro feminino, que ficava parcialmente subterrâneo, para se proteger.
O prefeito de Maracajá na época, que estava no casamento, saiu no meio do evento junto com a Defesa Civil. Quando voltou, avisou aos convidados e aos noivos: “fiquem aqui”.
Por volta da uma da manhã, a energia retornou brevemente, seguida de novo apagão. O salão de festas tem duas portas de vidro, de quatro folhas cada uma. O vento que vinha castigava a porta de trás, onde os convidados resolveram colocar os freezers de bebidas para tentar segurar a estrutura.
Abrigados no banheiro
Logo depois da 1h, o vento acalmou. Segundo a Defesa Civil, foi o momento em que o olho do furacão passou pela cidade. A calmaria, no entanto, durou pouco. Foi depois disso que começou a pior parte do furacão, quando ventos alcançaram 200 quilômetros por hora.
A chuva entrava pelas frestas das portas e o zunido do vento deixava tudo ainda mais assustador. Neste momento, todas as cerca de 30 pessoas que ainda estavam no salão, incluindo os noivos, foram para o banheiro feminino.
Esse local, que ficava no subsolo, com uma janela para fora, se tornou o abrigo do grupo. Dessa janela, era possível ver as árvores quase dobrarem com as rajadas.
“Pegamos as cadeiras e colocamos no banheiro em duas fileiras, uma de frente para a outra. Era um espaço bem comprido, e no final conseguíamos ver a chuva e o vento lá fora”, relembrou Charles.
Do lado de fora, o vento virou e passou a atingir com mais força a porta da frente do salão. Do banheiro, Charles lembra ter ouvido o vidro se estilhaçar com o vento. Uma das telhas ecológicas usadas na cobertura da estrutura se desprendeu.
“Voou decoração, os presentes, taças, copos. Voou tudo. A gente só foi sair do banheiro de manhã. A esposa foi embora umas 8h, mas eu fiquei lá até umas 11h para ver o prejuízo. De lá, fomos para casa. Não tinha mais clima para lua de mel”, relatou.
Da família e amigos, ninguém se feriu. A casa de Charles e Cleimar, em Criciúma, cidade a pouco mais de 20 quilômetros de Maracajá, perdeu apenas uma telha, o portão de ferro saiu do trilho e o registro de água foi quebrado.
“O vento não foi tão forte lá. Mas a gente via, no caminho, as casas destelhadas, árvores caídas”, disse Charles.
No fim, as fotos do casamento não saíram como eles planejaram. No parque onde houve a cerimônia, havia uma ponte pênsil que seria o cenário para o ensaio. Mas ela voou e foi destruída.
“A gente fica triste, era um dia que gostaríamos de ter comemorado com a família e os amigos. A gente queria ter amanhecido festejando. Queríamos um casamento inesquecível, e nesse ponto, ele foi”, declarou Charles.
O casal Charles Sousa e Cleimar com as duas filhas
Charles Sousa/Arquivo pessoal
Para celebrar os 20 anos de casados, eles planejam uma comemoração especial, e, nos 25, querem celebrar as Bodas de Prata com os amigos e parentes que estavam naquele 27 de março de 2004 para dar a festa tão desejada.
Os anos de união deram frutos: Isabela, de 15 anos, e a pequena Alice, que completou 6 anos no início de março.
Furacão Catarina
Mais de 30 mil pessoas desabrigadas e desalojadas em Santa Catarina por causa do furacão. Ao todo, 14 municípios decretaram calamidade pública e outros sete declararam situação de emergência.
Os ventos alcançaram 180 quilômetros por hora, o que coloca o Catarina na categoria 2 da escala Saffir-Simpson, que mede a intensidade destes fenômenos. Ela vai até a categoria 5.
Furacão Catarina veio do mar em direção a Santa Catarina
UFSC/Divulgação
Os prejuízos totalizaram aproximadamente R$ 1 bilhão. A força do vento arrancou 115 árvores pela raiz.
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