15 de novembro de 2024

Caso Anic: assassino confesso de advogada mandou mensagens e deu ordens para filha de dentro da cadeia, indica relatório da polícia


Em um primeiro relato público, a defesa de Lourival Fatica tinha relatado um soco no pescoço como o que causou a morte. O g1 apurou que o meio utilizado foi uma abraçadeira, também conhecido como “enforca-gato”. Anic
Arquivo Pessoal
O laudo de exame de necropsia de Anic Peixoto Herdy diz que a vítima foi morta por estrangulamento, através de asfixia mecânica. O documento indica que o meio utilizado pelo assassino para o estrangulamento foi uma abraçadeira, também conhecido como “enforca-gato”, segundo o g1 apurou.
Um relatório da Polícia Civil indica que Lourival Fatica, assassino confesso da advogada Anic Herdy, trocou mensagens com a filha em dias diferentes depois de ser preso. Na ocasião, ele estava usando o celular na Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica, onde estava desde o dia 22 de março.
Uma das mensagens é datada de 27 de março. Lourival pede que a filha, Maria Luiza, orientar o advogado sobre o carro que foi apreendido no ato da prisão. Ele diz: “Fala pro adv sobre o carro, pra ele ter cuidado pois pode voltar contra mim, sacou?”.
Depois, ele avisa: “Hoje não chamo mais, amo você, tô na sala dos polícias”, indicando que não conseguiria mais contato com a filha.
Em outra conversa, ele diz que é para Maria salvar as mensagens e apagar a conversa. Ele dá diversas ordens de pagamentos a serem feitos, como luz, gás, aluguel, seguros e parcela de veículos.
Ele diz que é para o namorado de Maria Luiza “trocar R$ 2 mil toda semana no Rio. Você [Maria] fica na loja e ele desce. Assim que trocar, deposita na conta dele no Rio, saca em Teresópolis e dá pra sua mãe”.
Caso Anic: defesa de um dos réus dá nova versão do crime
Reprodução simulada
Lourival participou da reprodução, no mês passado. Na primeira parte, ele ficou dentro de um carro semelhante ao que utilizava no dia que a vítima foi vista viva pela última vez, perto de um shopping em Petrópolis. Uma perita da Polícia Civil fez o papel de Anic.
A segunda parte da reprodução aconteceu em um motel no distrito de Itaipava, em Petrópolis. Segundo Lourival, foi lá que ele teria matado a vítima.
Uma reprodução simulada também aconteceu na casa de Lourival, em Teresópolis, onde o corpo de Anic foi encontrado.
A polícia chegou ao local pouco depois das 15h e tirou a terra da frente da garagem para tentar reproduzir a dinâmica do momento em que o corpo de Anic foi enterrado e concretado, segundo a versão de Lourival.
Polícia faz reprodução simulada na casa de Lourival Fatiga, em Teresópolis
Marcus Wagner/Intertv
Um homem que teria ajudado Lourival a cavar o buraco também foi chamado para participar da reprodução. Segundo a Polícia, ele não é investigado por suspeita de participar do crime. Uma boneca chegou a ser usada para simular o corpo de Anic.
Relembre o caso
Reconstituição do caso Anic
Reprodução; Carlos Miranda/g1
A busca por Anic durou quase 7 meses. Inicialmente, acreditava-se que ela tinha sido sequestrada.
A advogada foi vista pela última vez em 29 de fevereiro, parando o carro em um shopping na Rua Teresa, em Petrópolis, e andando a pé pelo polo comercial. Nenhuma câmera flagrou Anic sendo rendida, mas o carro de Lourival foi visto na região e no mesmo horário.
Ainda no 29 de fevereiro, à noite, o marido de Anic, Benjamin Cordeiro Herdy, recebeu no celular uma mensagem enviada do número dela comunicando do sequestro. Mas, nessa hora, Anic provavelmente já estava morta.
A pessoa que escrevia a Benjamin exigiu um resgate de R$ 4,6 milhões e mandou que todas as tratativas até a soltura fossem conduzidas por Lourival. O homem era um faz-tudo dos Herdy e virou amante de Anic.
Para os investigadores, o “sequestrador” era Lourival o tempo todo. Entre transferências, compras de bitcoins e saques em dólar, Benjamin pagou R$ 4,6 milhões aos “sequestradores”, na esperança de rever a esposa. A soltura seria no dia 11 de março, mas Anic não apareceria.
O esquema só foi descoberto graças à filha de Anic, Lara, que desconfiou da atitude de Benjamin diante de Lourival, e procurou a polícia em 14 de março.
A defesa de Lourival afirma que Benjamin foi o mandante do crime. Os advogados que representam Benjamin negam as acusações.
A família de Anic divulgou o seguinte texto, assinado pelo advogado João Vitor dos Santos Ramos:
“Em relação à reprodução simulada realizada no dia 23 de outubro de 2024, quem acompanhou a diligência teve a oportunidade de testemunhar mais um lamentável episódio de espetacularização do caso.
Conforme amplamente noticiado, a diligência tinha como objetivo reproduzir a mais recente versão inventada por Lourival. Sem entrar no mérito da excentricidade da iniciativa dessa reprodução, que foi determinada pelo juízo, sem oposição do Ministério Público, após meses de investigação e a partir do requerimento convenientemente formulado por Lourival após novamente modificar a sua versão, Lourival apenas comprovou, na prática, seguir mentindo.
Embora as inconsistências da última narrativa de Lourival sejam evidentes, o excelente trabalho realizado pela Polícia Civil do estado do Rio de Janeiro mais uma vez não teve dificuldade em elucidar, agora no contexto da reprodução simulada, que o medíocre discurso ensaiado por Lourival não tem o mínimo indício de veracidade.
Por esse motivo, não é correto falar em conflito ou guerra de versões entre Lourival e Benjamim, principalmente porque Benjamim é vítima e os fatos imputados a Lourival, Rebecca, Maria Luiza e Henrique decorrem de criteriosa apuração realizada pela Policia Civil e constam de denúncia oferecida pelo Ministério Público, de modo que, se é possível falar em conflito de versões, esse conflito existe internamente e tão somente entre as inúmeras versões contadas por Lourival – pessoa que por anos se apresentou falsamente como policial federal, conforme atestado por diversas testemunhas.
Nesse contexto de sucessivas alterações nas versões de Lourival, o resultado da reprodução simulada, que será externado de maneira técnica pelos peritos, será somado ao vasto acervo probatório dos autos e corroborará a extorsão mediante sequestro e com resultado morte, além da grave ocultação de cadáver, perpetrada pela organização criminosa familiar formada por Lourival, Rebecca, Maria Luiza e Henrique.
Assim, a família de Anic segue acreditando no avanço das investigações, sobretudo em relação à localização e à recuperação dos 950 celulares, cuja aquisição e remessa foi negociada por Maria Luiza, assim como em relação aos dólares e demais valores ainda não recuperados e que estavam sendo manejados por Henrique, quando ambos estavam em liberdade – que na última semana fora restabelecida, em franco prejuízo das iniciativas de recuperação dos produtos e dos proveitos do crime”.

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