18 de janeiro de 2025

Caso Eloáh: inquérito conclui que tiro que matou menina partiu de PM, que estava preso por outro motivo

Garota foi morta baleada no peito enquanto brincava dentro de casa, na localidade conhecida como Cova da Onça, na Ilha do Governador. Um inquérito policial-militar apontou que partiu da arma de um PM o tiro que matou a menina Eloáh da Silva dos Santos, em agosto do ano passado, na Ilha do Governador. A conclusão do caso foi revelada pelo jornal “Extra” e confirmada pelo g1.
Segundo a Corregedoria da corporação, o autor do disparo é o terceiro-sargento André Luiz de Oliveira Muniz. Os laudos periciais confirmaram que foi da arma utilizada por ele, um fuzil calibre 556, série A0142706, que saíram as balas que atingiram fatalmente Eloáh.
O g1 também apurou que Muniz já estava preso por um outro motivo. Ele vai responder pela morte de Eloáh na Auditoria Militar. Desde janeiro, a decisão da Corregedoria da PM tramita no órgão.
De acordo com a Delegacia de Homicídios da Capital, o inquérito foi concluído e enviado ao Ministério Público em setembro do ano passado. “As investigações concluíram que o tiro que atingiu Eloah da Silva dos Santos partiu da arma de um policial militar. Ele foi indiciado pelo crime de homicídio qualificado”, informou a Polícia Civil.
Eloáh Passos, de 5 anos, morreu durante uma troca de tiros no Morro do Dendê, na Ilha do Governador
Reprodução/ TV Globo
Mãe pede justiça
A dona de casa Ana Claudia de Silva de Souza, 31 anos, mãe da pequena Eloah, disse ao g1 que sempre soube que o disparo que atingiu a filha veio da arma de um policial.
“A gente sempre soube que o tiro veio deles. O disparou pegou de baixo para cima, de onde eles estavam. Eles, sem responsabilidade nenhuma, e sem saber quem estava ali, chegaram atirando como eles sempre fazem”, declarou.
A mãe de Eloáh lembrou um caso semelhante: o de Ana Beatriz, baleada ao voltar do balé, também na Ilha. A menina está internada, e a família pediu doações de sangue.
“Olha o que aconteceu com a Ana Beatriz, aqui na Ilha. Foi do mesmo jeito que aconteceu com a minha filha. No caso da Ana Beatriz, tem esperança de que ela saia dessa. Temos esperança em um milagre. Com a Eloáh foi diferente”, disse.
“A PM é negligente ao fazer operações em comunidades. Infelizmente, foi a minha filha. Mas ela não será a última. Outras Eloáhs morreram. Espero que esse policial seja punido pelo que ele fez. E espero que a polícia mude o protocolo ao entrar em uma favela.”
Eloáh Passos
Reprodução
Relembre
A criança brincava no quarto de casa quando o tiro a acertou. A tragédia aconteceu pouco depois de um jovem de 17 anos ser morto pela Polícia Militar no acesso do morro. A corporação diz que Wendell Eduardo era traficante.
Moradores protestaram pela morte na Avenida Paranapuã, e barricadas foram incendiadas em protesto. Já havia a suspeita de que um PM que tentava conter essa manifestação acabou disparando.
Um mês após morte da menina Eloáh família diz que não teve assistência do governo do RJ
O caso de Wendell
A Corregedoria da Polícia Militar entendeu que o caso da morte de Wendell Eduardo Almeida, 17 anos, acusado pela polícia de ser traficante local, tem indícios “de crime de competência da Justiça Comum”. O órgão ressaltou que há elementos que indicam que o policial agiu em “excludente de ilicitude”. O caso era apurado pela Delegacia de Homicídios.
De acordo com o depoimento do 1º sargento Marcelo Fontoura Silva, apontado como autor do homicídio, Wendell estava armado com uma pistola, na garupa de uma moto, quando teria percebido a presença dos agentes e atirado. O militar revidou e baleou o adolescente, que morreu após ser socorrido ao hospital.
Mudanças de protocolo
Dias após a morte de Eloáh, o então secretário estadual de Polícia Militar, coronel Luiz Henrique Pires, anunciou mudanças no treinamento da corporação. Além dela e de Wendell, o adolescente Thiago Menezes Flausino tinha sido morto na Cidade de Deus.
Pires disse lamentar as mortes recentes. “O protocolo é não atirar”, afirmou.
“Era um treinamento preventivo por que toda a tropa passava. Mas, agora, quem se envolver nesse tipo de ocorrência vai ser obrigado a passar, e a gente vai dar um tratamento diferenciado a esse policial que se envolveu nessa ocorrência”, afirmou.

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