Segundo a defesa, Rivaldo Barbosa também vai prestar esclarecimentos sobre o inquérito que apurou a morte da vereadora. Defesa se queixa de demora para realização do depoimento. Rivaldo Barbosa, preso na investigação da morte de Marielle, em imagem de abril de 2018
Fábio Motta/Estadão Conteúdo
O ex-chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro Rivaldo Barbosa vai dizer à Polícia Federal nesta segunda-feira (3) que não participou dos assassinatos da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes.
Segundo o advogado de Rivaldo, Marcelo Ferreira, no depoimento marcado para esta segunda-feira, o delegado da Polícia Civil também dirá aos investigadores que não há provas contra ele; e que a prisão foi decretada com base apenas na delação premiada de Ronnie Lessa.
“Ele vai esclarecer novas questões da investigação e da condução do inquérito sobre a morte de Marielle. E vai reforçar que a PF não tem provas contra ele”, disse Ferreira ao blog.
O advogado também afirmou que, no depoimento, Rivaldo vai declarar:
que a condução da Polícia Civil do Rio, que era chefiada por ele, é diferente da condução do inquérito sobre as execuções
que não há provas na investigação além do que Ronnie Lessa disse na delação, que é apenas um lado e que resultou em medidas gravosas, como prisão, indiciamento e denúncia
que a demora para ouvi-lo “causa estranheza”. O delegado ressaltará, no depoimento, que o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, já tinha determinado o depoimento imediato após a prisão, mas a PF só marcou a oitiva após quase três meses da prisão e depois que Rivaldo escreveu um bilhete “implorando” para depor
Em entrevista ao blog, o advogado ressaltou que a “a demora foi fora da curva”. “Ele foi preso, indiciado e denunciado sem sequer ser ouvido”, disse.
Rivaldo foi preso em 24 de março, no Rio de Janeiro, junto dos outros dois mandantes do assassinato da ex-vereadora: o deputado federal Chiquinho Brazão e o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ), Domingos Brazão.
Os três foram enviados, no mesmo dia da prisão, para a Penitenciária Federal de Brasília. Mas, no dia 27 de março, Chiquinho foi transferido para o presídio federal de Campo Grande e o irmão dele, Domingos Brazão, para Porto Velho.
Pedido da defesa
Nesta segunda-feira, a defesa de Rivaldo pediu novamente à direção da penitenciária de Brasília para se reunir com o delegado da Polícia Civil, antes do depoimento à PF.
No ofício encaminhado à direção da penitenciária, a defesa reiterou o pedido de “entrevista reservada” com o seu cliente, “em sala distinta do parlatório, no horário de 09h00 às 12h00 do mesmo dia, conforme já solicitado”.
O advogado Marcelo Ferreira diz que até a última atualização desta reportagem o pedido não foi atendido. “Não entendemos o porquê, uma vez que a lei é clara quanto ao nosso direito”, afirmou ao blog.
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Ronnie Lessa
Em delação premiada, homologada pelo STF em março, Ronnie Lessa, acusado de ser o autor dos disparos contra Marielle, afirmou que Rivaldo Barbosa atuou para tentar protegê-los da investigação depois do assassinato.
“Falaram o tempo todo que o Rivaldo estava vendo, que o Rivaldo já está redirecionando e virando o canhão para outro lado, que ele teria de qualquer forma que resolver isso, que já tinha recebido pra isso no ano passado, no ano anterior, ele foi bem claro com isso: ‘ele já recebeu desde o ano passado, ele vai ter que dar um jeito nisso’. Então, ali, o clima já estava um pouco mais tenso, a ponto até mesmo na forma de falar”, relatou Lessa.
Mudanças na polícia
Na véspera do crime, Rivaldo Barbosa se tornou o chefe de polícia do Rio de Janeiro e, um dia depois dos assassinatos, nomeou o delegado Giniton Lajes para comandar a Delegacia de Homicídios.
No relatório da investigação, a Polícia Federal afirma que a escolha de um homem de confiança serviu para que os trabalhos de sabotagem se iniciassem no momento mais sensível da apuração do crime.
Os investigadores dizem ainda que Rivaldo e o delegado escolhido por ele só prenderam os executores por pressão imposta pela sociedade e pela mídia — e para preservar os autores intelectuais.
A defesa de Giniton Lajes chamou a acusação contra ele de “infâmia grosseira”. Disse que ele é o responsável por descobrir a autoria do crime e não a Polícia Federal.