7 de janeiro de 2025

Caso Marielle: outros assassinatos cometidos enquanto Rivaldo Barbosa era chefe da DH do Rio e da Polícia Civil ficaram sem solução

No relatório da Polícia Federal, os investigadores afirmam que o delegado esteve a frente de um esquema criminoso na Divisão de Homicídios do Rio de Janeiro. Segundo a PF, Rivaldo constituiu uma verdadeira organização criminosa nas entranhas da Polícia Civil. Polícia Federal detecta sabotagem em investigações de assassinatos pela Divisão de Homicídios do Rio
As prisões de domingo (24) trouxeram à tona assassinatos que deveriam ter sido apurados no período em que Rivaldo Barbosa era chefe da Divisão de Homicídios do Rio e da Polícia Civil. Segundo a Polícia Federal, houve sabotagem na investigação desses crimes.
No relatório da Polícia Federal, os investigadores afirmam que o delegado Rivaldo Barbosa esteve a frente de um esquema criminoso na Divisão de Homicídios do Rio de Janeiro. Segundo a PF, Rivaldo Barbosa constituiu uma verdadeira organização criminosa nas entranhas da Polícia Civil. O documento cita uma investigação do Ministério Público do Rio aberta para apurar a prática dos crimes de organização criminosa, corrupção passiva e lavagem de dinheiro praticados por Rivaldo Barbosa e policiais a ele subordinados, familiares e empresários.
O procedimento investiga se a Delegacia de Homicídios da capital recebia vantagens indevidas da contravenção para não investigar ou não deixar investigar homicídios decorrentes de disputas territoriais para a exploração do jogo do bicho.
A Polícia Federal diz que houve sabotagem em investigações de homicídios durante a gestão de Rivaldo Barbosa como delegado e chefe da Polícia Civil do Rio. O relatório da PF aponta que Rivaldo atuou nesse esquema entre maio de 2016 até abril de 2019. Os documentos que embasaram as prisões de domingo (24) citam cinco homicídios com apurações colocadas em xeque.
Caso Marielle: outros assassinatos cometidos enquanto Rivaldo Barbosa era chefe da DH do Rio e da Polícia Civil ficaram sem solução
Jornal Nacional/ Reprodução
Um dos crimes foi o assassinato de José Luis de Barros Lopes, conhecido como Zé Personal. Genro do falecido bicheiro Waldomiro Paes Garcia, o Maninho. Zé Personal foi morto a tiros dentro de um centro espírita em setembro de 2011. Rivaldo deveria ter dado continuidade às investigações.
O relatório da PF usa uma sentença do juiz Bruno Ruliere, de 2023, para reforçar as suspeitas sobre Rivaldo. O magistrado afirma a apuração na Delegacia de Homicídios e na 23ª Promotoria de Investigação Penal se arrastaram por sete anos sem que fosse realizada qualquer diligência efetiva, apesar da magnitude da repercussão do crime.
Outro caso mencionado foi o de Marcos Vieira de Souza, conhecido como Falcon. Ele foi fuzilado em setembro de 2016. Falcon era subtenente da Polícia Militar, presidente da escola de samba Portela e candidato a vereador no Rio. O documento cita que o juiz percebeu “dificuldades anormais para o esclarecimento dos fatos”.
O relatório também aponta mais um crime de grande repercussão. Em junho de 2017, câmeras de segurança flagraram o assassinato do contraventor Haylton Carlos Gomes Escafura, filho do bicheiro José Escafura, o Piruinha. Ele foi morto com tiros de fuzil e pistola em um quarto de hotel na Barra. A PF novamente menciona o que o juiz diz que a investigação não avançou, “não se desenvolveu rumo a uma conclusão”.
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O caso de Marcelo Diotti da Matta foi na mesma noite em que Marielle Franco e Anderson Gomes foram mortos. Câmeras de um restaurante registraram os disparos. O relatório da Polícia Federal cita uma frase do magistrado: que, apesar dos autores terem sido, a princípio, identificados, possivelmente tenha ocorrido “falhas graves na colheita de provas”.
Mais um crime aparece no inquérito. O do policial militar Geraldo Antonio Pereira. Ele foi morto em maio de 2016 com com tiros de fuzil. O PM foi apontado como miliciano. O magistrado afirmou que o inquérito instaurado para apurar o assassinato de Pereira foi mais um em que se detectou a concessão de “indefinidas dilações de prazo, sem efetivo avanço das investigações”.
Ainda de acordo com a PF, a Divisão de Homicídios se tornou um ambiente livre para o crime. Os investigadores afirmam no inquérito que o assassinato de Marielle foi idealizado pelos irmãos Brazão e meticulosamente planejado pelo delegado Rivaldo Barbosa.
O advogado de Rivaldo Barbosa contesta as acusações.
“Isso é uma coisa que tem que ser vista caso a caso. Não se pode formular uma acusação usando-se seis palavras para destruir uma vida inteira. Seis palavras que não trazem nenhum elemento que as corrobore. Portanto, essa acusação me parece uma acusação vazia”, afirma o advogado Alexandre Dumans.
O advogado de Domingos Brazão não atendeu às ligações do Jornal Nacional. O JN não conseguiu contato com a defesa de Chiquinho Brazão.
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