15 de outubro de 2024

Castro diz que soube de caso de HIV em transplantes 3 dias antes de sair na imprensa; polícia não foi avisada de imediato

Governador do Rio diz que avisou imediatamente a Polícia Civil, que afirma ter ficado ciente na sexta, dia da publicação na imprensa, quando abriu inquérito. Governador comenta caso de pacientes transplantados infectados pelo HIV
O governador Cláudio Castro (PL) disse que só soube do caso de seis pacientes infectados por HIV após transplantes de órgãos três dias antes de sair na imprensa. A notícia sobre os órgãos infectados por HIV foi dada pela BandNews FM nesta sexta-feira (11).
“Eu soube no dia do fechamento do laboratório, coisa de uma semana e pouca atrás. O laboratório foi fechado e tomamos ciência e imediatamente determinei que procurassem as pessoas e que começasse toda a questão de contraprova”, afirmou Castro.
“O Hemorio está fazendo todas as contraprovas. Mandei que fossem rescindidos todos os contratos que este laboratório possa ter com o governo do estado. Já estão suspensos cautelarmente e já estamos preparando a rescisão”, disse o governador.
A declaração foi dada nesta terça-feira (15), durante o lançamento do Programa Rio Clima II no Palácio Guanabara.
O governador falou que adotou três ações logo após receber a notícia, uma delas, segundo ele, foi pedir à Polícia Civil que abrisse um inquérito para punir os responsáveis (veja mais detalhes ao fim desta reportagem).
Cláudio Castro fala sobre o caso dos pacientes transplantados infectados com HIV
Cristina Boeckel/g1 Rio
Apesar de Castro dizer que avisou imediatamente a Polícia Civil, a corporação afirmou ao g1 que só tomou ciência do caso no dia 11 e que abriu inquérito no mesmo dia.
“Imediatamente após tomar ciência do caso, o secretário, delegado Felipe Curi, determinou a instauração de inquérito policial”, diz a nota da polícia.
Já a Secretaria Estadual de Saúde (SES-RJ) disse que a situação foi descoberta no dia 10 de setembro, quando um paciente transplantado foi ao hospital com sintomas neurológicos e teve o resultado para HIV positivo; ele não tinha o vírus antes.
Esse paciente recebeu um coração no fim de janeiro. A partir daí, as autoridades refizeram todo o processo e chegaram a 2 exames feitos pelo PCS Lab Saleme. O laboratório foi contratado pelo governo do estado em dezembro do ano passado, em um processo de licitação via pregão eletrônico no valor de R$ 11 milhões, para fazer a sorologia de órgãos doados.
O laboratório investigado por testes positivos para HIV após transplantes tem como um dos sócios Matheus Sales Teixeira Bandoli Vieira. Ele é primo do ex-secretário de Saúde Doutor Luizinho, deputado federal e líder do PP na Câmara dos Deputados.
No domingo (13), a juíza Flavia Fernandes de Melo, do Plantão Judiciário, acatou um pedido da Polícia Civil e mandou prender temporariamente, por 5 dias, quatro pessoas ligadas ao laboratório.
Cláudio Castro durante assinatura do acordo com UFRJ para reduzir os impactos das mudanças climáticas
Cristina Boeckel/g1 Rio
‘Dr. Luizinho não interferiu’, diz Castro
Castro negou qualquer indício de favorecimento de Dr. Luizinho, seu aliado político, em contratos emergenciais. Segundo ele, a contratação emergencial se deve ao processo de fim das OSs.
“O Estado do Rio de Janeiro era tomado pelas OSs. Foi votada uma lei na Assembleia Legislativa de que nós teríamos que acabar com as OSs. Qual o processo de acabar com as OSs? Quando acaba o contrato, a Fundação Saúde assume esse hospital, UPA. Eu não posso parar o serviço, e inclusive existe uma decisão do Tribunal de Contas falando isso: quando a fundação saúde assume o equipamento, faz uma contratação emergencial. E, em seguida, abre a licitação”, disse.
O governador do Rio de Janeiro afirmou ainda que os contratos da saúde estão sendo auditados. Disse que o contrato com o PCS Labs Saleme foi feito por pregão eletrônico, com a participação de outras empresas, e definiu como “muito difícil” qualquer possibilidade de favorecimento.
O governador afirmou ainda que chegou a conversar com Dr. Luizinho depois que o caso das contaminações foi levado ao público.
“Ele falou que está muito tranquilo, que não fez nada de errado. Ele publicou uma nota, inclusive, falando que puna quem estiver errado. Uma coisa eu garanto: Luizinho não interferiu em nada, não pediu que não fosse feito. Tanto que foi feita a operação, está seguindo normalmente e prendeu uma pessoa próxima à família dele. E a coisa está acontecendo com toda a tranquilidade”, destacou.
‘Crise sem precedentes’
O governador destacou o caso como uma “crise sem precedentes” e destacou a segurança do sistema de transplantes. Disse ainda que todas as pessoas que passaram por ele recentemente estão sendo testadas.
“Queria me solidarizar às pessoas e famílias, dizer que é uma crise sem precedentes. Eu estou tão indignado quanto qualquer um. É revoltante que uma situação como essa aconteça. Já percebemos que foi um lapso temporal entre dezembro e maio. Todos os exames estão sendo refeitos e, até sexta-feira todos terão sido refeitos e teremos o laudo de todos. São cerca de 286. Até ontem tínhamos 202 prontos. Nenhum resultado falso negativo”, afirmou.
Castro disse ainda que as investigações acontecem em três frentes no poder estadual.
“Nas primeiras horas que eu soube, eu fiz três primeiras ações. A primeira foi a abertura de uma sindicância no âmbito da Secretaria de Saúde. A segunda é uma auditoria na Controladoria Geral do Estado para todas as contratações, se houve possível irregularidade e se está tudo dentro da lei, se houve algum favorecimento ou não. A terceira é pedir à Polícia Civil que abrisse um inquérito para analisar qualquer percepção penal que houvesse de responsáveis tanto públicos quanto privados. A operação de ontem, inclusive, teve elementos da sindicância”.
Auditoria no Ministério da Saúde
O governador afirmou ainda que foi aberta uma auditoria do Ministério da Saúde sobre os protocolos do programa e que conversou com a ministra Nísia Trindade sobre o episódio. O resultado da análise do órgão federal deve ser conhecido em cerca de dez dias, de acordo com o governador.
“Temos que achar os culpados deste erro gravíssimo, mas pontual, porém sem tirar a credibilidade do programa”, ressaltou.

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