Os partidos mais votados foram Aliança Democrática, Partido Socialista e Chega –a bancada da extrema direita pode ser triplicada no Parlamento. DW: brasileiros encampam discurso anti-imigração em partido de extrema direita de Portugal
A contagem de 98% dos votos nas as eleições em Portugal aponta que a Aliança Democrática, uma coligação do Partido Social Democrata, de centro-direita, com outros partidos menores foi a mais bem votada neste domingo (10). A apuração ainda está em andamento.
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O Partido Socialista, de esquerda, está em segundo, mas com uma diferença pequena. O Chega, de extrema direita, aparece em terceiro –o Chega deve ser o grupo que vai ganhar mais deputados na nova legislação; eles tinham 12, e já têm 37.
Aliança Democrática: 29,85% dos votos.
Partido Socialista: de 28,71% dos votos.
Chega: 18,26% dos votos
O número de deputados de cada partido no Parlamento ainda não foi revelado, mas nenhum deles terá a maioria. Mesmo a Aliança Democrática, que é o grupo mais bem colocado, só consegue maioria com os deputados do Chega, de acordo com o jornal português “Público”.
O Partido Socialista não consegue formar nem mesmo um governo de coalizão só com os outros partidos de esquerda, de acordo com o “Público”.
Ascensão do Chega
Os eleitores portugueses votaram neste domingo (10) para eleger 230 deputados da Assembleia da República (nome do Parlamento no país). A votação terminou às 19h de Lisboa (16h de Brasília). A abstenção foi de cerca de 33%, que é uma porcentagem significativamente abaixo média das últimas votações.
Os legisladores eleitos neste domingo vão escolher um novo governo. O país foi liderado durante décadas por dois partidos moderados:
O Partido Socialista, de centro esquerda.
O Partido Social Democrata, de centro-direita.
Nos últimos meses, políticos dos dois partidos foram denunciados por esquemas de corrupção, e por isso, o Chega, de extrema direita, teve uma votação significativa. Nas eleições passadas, o partido teve 7,2% e eles elegeram 12 deputados. Como a votação deles mais do que dobrou, o número de parlamentares deve passar de 24.
As negociações para formar uma maioria no Parlamento devem começar logo depois da definição da distribuição de cadeiras.
Os líderes dos três principais partidos
Os votos, diferentemente do que ocorre no Brasil, são para um partido, não em um candidato.
O partido que obtiver mais votos pode ganhar o controle do Legislativo, mas só se conquistar um número mínimo de assentos no Parlamento.
Montagem mostra Pedro Nuno Santos (PS), Luís Montenegro (PSD) e André Ventura (Chega)
Reuters
Veja abaixo quem são os líderes os três principais partidos.
Partido Socialista
O líder dos socialistas é Pedro Nuno Santos, de 46 anos. Ele é deputado e já foi ministro de Moradia e Infraestrutura de Portugal.
Ele pediu demissão do governo por dois casos que tiveram repercussão ruim no país:
A forma como o governo resgatou financeiramente a empresa aérea TAP.
Uma disputa sobre a localização de um novo aeroporto em Lisboa.
Nuno Santos é de uma família rica do norte de Portugal. Quando ele era bem mais jovem, o socialista chegou a dirigir um Porsche, mas, segundo ele, não se sentiu bem com o carro e o vendeu.
Partido Social Democrata
Luis Montenegro, o líder do Partido Social Democrata, de 51 anos, é advogado de formação e está no Parlamento há 16 anos.
O Partido Social Democrata formou uma frente eleitoral para concorrer nas eleições, a Aliança Democrática, com pequenos partidos de centro direita.
A polícia chegou a investigar Montenegro em 2017, quando ele era suspeito de ter recebido viagens para jogos de futebol pagas por uma empresa de mídia, mas os agentes desistiram do caso.
Chega
O líder do Chega, André Ventura, de 41 anos, não deve ter votos suficientes para se tornar primeiro-ministro, mas após as eleições o partido dele pode ser fundamental para formar alianças para que algum grupo tenha maioria no Parlamento.
Ventura foi advogado e professor de direito tributário a comentarista de futebol na TV.
Eleições em Portugal
Há apenas um ano, Portugal tinha um dos governos mais sólidos e estáveis da Europa, formado por maioria absoluta –ou seja, o Partido Socialista, sozinho, tinha deputados suficientes para garantir maioria.
Os anos de crise financeira profunda e da chamada “geringonça” –o pacto inédito entre socialistas, comunistas e esquerda radical em 2015 – tinham ficado para trás.
Bastaram alguns meses, no entanto, para a instabilidade voltar a tomar conta do país: em novembro, o primeiro-ministro António Costa, do Partido Socialista, renunciou —após o Ministério Público anunciar que ele era investigado em um caso de corrupção. Só que, semana depois, o próprio MP reconheceu que havia errado; o acusado não era o primeiro-ministro, mas sim um homônimo. A renúncia fez Portugal antecipar as eleições, que só aconteceriam em 2026.
Foi nesse cenário que, neste domingo (10), cerca de 10,8 milhões de eleitores de Portugal voltaram às urnas .
Como são as eleições em Portugal
Em Portugal, o regime não é igual ao Brasil. O país europeu funciona sob o regime semipresidencialista, formado por um presidente e por um primeiro-ministro. Neste domingo, os eleitores votarão para escolher deputados da Assembleia da República, como é chamado o Parlamento português.
Nas eleições de 2022, o Partido Socialista (PS), de esquerda, obteve 117 das 230 cadeiras do Parlamento e conseguiu a maioria absoluta para governar, sem depender de alianças;
Caso isso não ocorra, o partido vencedor pode tentar se associar a outras siglas até chegar ao número mínimo de assentos no Parlamento necessários para governar. O primeiro-ministro inclusive pode vir de um desses partidos coligados.
Como era a composição do Paralmento
Até as eleições deste domingo (10) , o Partido Socialista tinha, sozinho, 120 das 230 cadeiras da Assembleia.
A segunda maior bancada era a do Partido Social Democrata (PSD), com 77 –agora, o PSD faz parte da Aliança Democrática.
O Chega já era a terceira força, mas com 12 deputados, um número de deputados bem menor do que deve obter agora.
Com discurso radical, Ventura, o presidente do partido, explora o tema da corrupção no país e evoca pautas comuns à extrema direita, como o combate a uma suposta “ideologia de gênero” e postura contrária à imigração. É aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e, na quinta-feira (7), afirmou que proibiria a entrada do presidente Lula (PT) em Portugal caso vencesse as eleições.
Ventura, um ex-comentarista de futebol e professor universitário que quase se tornou padre, costuma fazer seus discursos incendiários em púlpitos e tem o lema “Portugal precisa de limpeza”.
O cartaz faz referência aos imigrantes do país, que atualmente representam quase 8% da população. Segundo o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras de Portugal (SEF), o país fechou o ano com quase 800 mil imigrantes. A maioria é de brasileiros.
Jovens portugueses seguram folhetos com o slogan “Portugal precisa de uma limpeza” durante ato do partido de extrema direita Chega, em fevereiro de 2024.
Patrícia de Melo Moreira/ AFP
Eleições antecipadas
As eleições foram convocadas pelo presidente de Portugal, Marcelo de Sousa, no ano passado, após Costa renunciar em um dos episódios mais inusitados da política recente em Portugal.
Em novembro de 2023, o Ministério Público de Portugal tornou pública uma investigação que conduzia contra o então primeiro-ministro. O nome do premiê havia sido citado em um inquérito sobre suposto esquema irregular de exploração de lítio e de hidrogênio verde.
Diante da investigação, Costa anunciou sua renúncia, embora tenha negado envolvimento no esquema.
A reviravolta, no entanto, veio semanas depois, quando o Ministério Público reconheceu que o então premiê havia sido indiciado por engano – o verdadeiro alvo era um homônimo de António Costa.
A renúncia de Costa, no entanto, já havia sido aceita pelo presidente português, que atua como chefe de Estado no país – o premiê é o chefe de governo –, protocolada e publicada no Diário Oficial.
O ex-premiê socialista cumpria no seu terceiro mandato, o mais forte deles. Em janeiro de 2022, após dissolver seu então governo da geringonça, ele venceu as eleições com maioria absoluta.
Costa era considerado um dos chefes de governo mais estáveis e experientes em exercício da Europa, e seu governo, uma das principais referências para a esquerda do continente —apenas em Portugal e em Malta a esquerda governava sem qualquer aliança.
Sua queda mudou esse quadro e deve lançar o país de volta nas negociações pela formação de um governo após os resultados deste domingo, segundo as principais projeções.
O ex-premiê de Portugal António Costa (no centro, segurando o guarda-chuva), ao lado do atual líder do Partido Socialista de Portugal, Pedro Nuno Santos, em ato de campanha, em 8 de março de 2024.
Joao Henriques/ AP