16 de outubro de 2024

Cerca de 80% dos corais da maior área de conservação marinha do Brasil morreram nos últimos seis meses, diz instituto

Segundo pesquisadores, degradação dos recifes está mais veloz desde o início deste ano, na Área de Proteção Ambiental (APA) Costa dos Corais, que tem 130 quilômetros entre PE e AL. Cerca de 80% dos corais da maior área de conservação marinha do país morreram
Nos últimos seis meses, cerca de 80% dos corais que viviam entre os litorais de Pernambuco e Alagoas morreram. De acordo com o Projeto Conservação Recifal, organização não governamental (ONG) que monitora a região há dez anos, a morte dessas espécies é resultado do processo de branqueamento dos recifes, causado pelo aquecimento dos oceanos (veja vídeo acima).
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Os casos foram registrados na Área de Proteção Ambiental (APA) Costa dos Corais, que se estende de Tamandaré, no Litoral Sul de Pernambuco, até Paripueira, na Grande Maceió. Com cerca de 130 quilômetros de extensão, é a maior unidade de conservação marinha do país, segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
Ao g1, o pesquisador Pedro Pereira, que é coordenador do Projeto Recifal e doutor em biologia de corais pela Universidade James Cook, na Austrália, informou que, em alguns locais, o percentual de perda chega a 90%. O assunto é tema do minidocumentário “Morte e Vida Submarina”, lançado pela ONG na semana passada.
“Em todas as áreas que a gente monitorou, no mínimo, 70%, 80% [dos corais] morreram. É como se tivesse 100 árvores na floresta e 70 ou 80 delas tivessem morrido”, afirmou Pedro Pereira.
Processo de degradação
O processo de degradação dos recifes tem se acelerado, ao menos, desde o início deste ano. Em maio, a previsão era que, até dezembro de 2024, o estado perderia um terço das espécies que não só embelezam as praias como têm uma importância fundamental para a sobrevivência dos mais diversos seres que vivem do mar (entenda mais abaixo).
Conforme o especialista, o branqueamento dos corais está diretamente ligado ao aquecimento dos oceanos, provocado pelas mudanças climáticas. Isso porque, como as espécies são muito sensíveis, as variações na temperatura da água geram estresse nas zooxantelas, microalgas que habitam os recifes e são responsáveis pela sua coloração.
“O coral é uma simbiose. Tem algas simbióticas que vivem dentro dele. É como se, dentro do nosso tecido, do nosso osso, do nosso sangue, tivéssemos algas que nos ajudassem na produção de alimentos. Quando o coral está fraco, essas algas acabam fugindo e ele branqueia. Então, o coral branco é um coral doente”, explicou o pesquisador Pedro Pereira.
Segundo a comunidade científica, 2024 caminha para ser o ano mais quente da história. “O que a gente viu foi algo sem precedentes, uma mortalidade de corais de praticamente 90%. A gente fala assim: ‘No futuro, daqui a 50 anos…’. Mas foi muito rápido, muito chocante”, afirmou o especialista.
Corais antes e depois do processo de branqueamento
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Como recuperar os corais?
Segundo Múcio Banja, professor de oceanografia da Universidade de Pernambuco (UPE) e pesquisador do Instituto Avançado de Tecnologia e Inovação (Iati), nem todo coral branco está morto. A parte “rochosa” corresponde ao esqueleto, feito de carbonato de cálcio, que perde a maciez e a consistência depois que as microalgas se separam dele e, com o tempo, morre.
“Durante o branqueamento, eles têm menos oxigênio, que as zooxantelas produzem. Essa baixa de oxigênio deixa o animal numa condição de maior fragilidade. (…) Como é uma colônia, se morrerem todos, aquele carbonato fica ali e vai se desgastando. Às vezes, uma pequena parte sobrevive. Essa pequena parte, se encontrar condições favoráveis de temperatura, oxigênio e alimento, se recupera”, falou.
Múcio Banja explicou que costuma monitorar os recifes de outras praias do Litoral Sul de Pernambuco fora da APA Costa dos Corais, como Porto de Galinhas e Paiva. De acordo com Banja, também nesses locais o processo de branqueamento das espécies tem sido intenso.
“Na Praia do Paiva, onde há formação de recifes, os corais estão, de certa forma, se recuperando. Lentamente, mas estão se recuperando. Pode ser que, com o verão, com a maior quantidade de nutrientes, as zooxantelas voltem, mas é uma coisa muito lenta”, afirmou Múcio Banja.
Uma possibilidade é que os corais se adaptem às novas temperaturas, mas isso também não é certo.
“Daqui para que a genética se adapte, isso leva tempo. E o pior é que a tendência é que as temperaturas continuem mudando. É muito complicado para os animais. Eles estão lutando com uma situação muito complexa”, comentou o professor.
Para restaurar os corais, existem algumas técnicas, feitas em laboratório, pelas quais é possível recriar artificialmente as condições que favorecem a reprodução das espécies.
No entanto, a tecnologia é pouco acessível atualmente e não substitui as ações de mitigação dos efeitos da emergência climática, o que exige uma melhor relação do ser humano com a natureza, além de investimentos em pesquisa.
“Localmente, existem estratégias, como a redução da poluição, a redução do turismo desordenado, de uma pesca desqualificada. Qualquer degradação vai somar. O coral já está doente, então qualquer pressão a mais acaba danificando mais o organismo. Quanto mais saudável estiver o ambiente, mais o coral vai ter uma chance de sobreviver”, afirmou Pedro Pereira.
Processo de branqueamento dos corais tem avançado no litoral de Pernambuco
Bora Acervo/Pedro Pereira
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