De acordo com o CIATox, na maioria dos atendimentos, a intoxicação foi causada por uso abusivo como droga recreativa. Cetamina pode ter matado empresária Djidja Cardoso no Amazonas. Cetamina: com intoxicações em alta, Unicamp monitora consumo abusivo em festas
O Centro de Informação e Assistência Toxicológica da Unicamp (CIATox) está monitorando a tendência de aumento nos casos de intoxicação por cetamina. Anestésico para humanos e animais, o fármaco pode causar efeitos alucinógenos e é consumido como droga recreativa – no entanto, se utilizada sem orientação médica, pode ter consequências graves.
Uma overdose de cetamina é investigada como possível causa da morte da ex-sinhazida do Boi Garantido, Djidja Cardoso, no Amazonas. De acordo com a Polícia Civil, ela, o irmão e a mãe, que estão presos, eram investigados há mais de um mês por envolvimento em um grupo religioso que forçava o uso da droga para alcançar uma falsa plenitude espiritual.
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Dados da Unicamp enviados a pedido do g1 indicam que a cetamina provocou casos de intoxicação e fez pacientes buscarem atendimento médico no CIATox entre janeiro de 2023 e maio de 2024. Nesses anos também foi detectado o uso da substância entre frequentadores de festas de música eletrônica pelo Brasil (confira os detalhes abaixo).
👉 A Unicamp ressalta que o cenário continuará sendo observado e, caso haja um aumento expressivo nos casos, o centro notificará a população e profissionais da saúde, em um alerta de saúde.
Nesta matéria você vai conferir:
Número e perfil dos atendimentos a intoxicados no CIATox
Uso comum em festas
O que é a cetamina
Como é a intoxicação por cetamina
O caso Djidja Cardoso
Atendimento a intoxicados
Segundo informações levantadas pela enfermeira Náthaly Bueno, pesquisadora em toxicologia clínica do CIATox, a cetamina não está entre os principais causadores de intoxicação monitorados pelo setor, mas já foi identificada em diversos atendimentos. Inclusive, os dados dos últimos meses mostram a tendência de aumento:
🚨 De janeiro a dezembro de 2023, foram 11 atendimentos, enquanto nos primeiros cinco meses deste ano o número já chegou a 8.
No ano passado, os pacientes tinham entre 18 e 50 anos. A gravidade das ocorrências variou entre leve (27,3%), moderada (18,2%), grave (27,3%) e fatal (18,2%). Em 2024, a faixa etária dos pacientes variou de 5 a 40 anos e o estado foi de leve (12,5%) e moderado (37,5%) à grave (50%). Outros não foram classificados.
Uso abusivo, violência sexual e erro médico
O levantamento do centro traz detalhes sobre as circunstâncias que levaram à intoxicação dos pacientes. Confira os destaques abaixo:
Na maioria dos atendimentos, a intoxicação foi causada por uso abusivo da cetamina como droga recreativa;
Em um caso, a morte foi relacionada ao uso da cetamina associado a outras substâncias, como cocaína e álcool;
Houve ainda um paciente intoxicado por cetamina durante uma ocorrência de violência sexual;
No caso que envolveu uma criança, a intoxicação ocorreu por erro na dose da cetamina aplicada em um hospital, um caso de possível erro médico.
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Karla Melo/Rede Amazônica
Uso em festas
A cetamina também foi identificada pelo CIATox durante as coletas do Projeto Baco, que está mapeando novas substâncias psicoativas em circulação no país. A iniciativa coleta saliva de voluntários em festivais de música eletrônica.
💊 Os pesquisadores do Projeto Baco detectaram a droga em 143 amostras entre setembro de 2023 e abril de 2024.
Sendo usada de forma recreativa, a cetamina é popularmente conhecida como “key”, “keyla”, entre outros apelidos. Além da presença da droga isolada, nas amostras analisadas também foram detectados dois derivados dessa substância, a desclorocetamina e a 2-fluoro-desclorocetamina.
Entenda: os derivados da cetamina são classificados como Novas Substâncias Psicoativas (NSP), um grupo de substâncias de abuso que não estão listadas na Convenção Única de Entorpecentes (1961) ou na Convenção sobre Substâncias Psicoativas (1971).
Elas são criadas, justamente, com a intenção de contornar restrições legais e de saúde para serem implementadas no mercado ilícito de drogas. Ainda de acordo com o CIATox, elas são quimicamente semelhantes à cetamina e produzem um efeito dissociativo e alucinógeno.
O setor destaca que, embora tenham menor prevalência em relação a outras drogas que aparecem no mapeamento, essas substâncias continuarão sendo monitoradas, “uma vez que dados sobre seus mecanismos de toxicidade ainda são escassos na literatura”.
O que é a cetamina?
A cetamina é um anestésico dissociativo com propriedades analgésicas e amnésicas comumente utilizadas na medicina humana e veterinária. Nos últimos anos vem sendo utilizada, devido a sua segurança, para procedimentos intra-hospitalares como sedação, principalmente em pacientes pediátricos.
Ainda, do ponto de vista terapêutico, tem sido introduzida no cenário do tratamento da depressão refratária a outros medicamentos.
Atualmente, a cetamina pode ser encontrada em diferentes fontes de produção:
farmacêutica, onde o seu uso é intra-hospitalar de forma controlada;
veterinária, a qual também possui controle sanitário;
mercado ilícito de drogas, onde não há nenhum controle e pode ser misturada a outras substâncias, elevando o potencial tóxico.
Como é uma intoxicação por cetamina?
Ainda de acordo com o CIATox, os efeitos da cetamina começam de 1 a 2 minutos após a injeção intravenosa e de 20 a 30 minutos na forma oral. A meia-vida (tempo necessário para que a droga reduza pela metade sua concentração no sangue) é de 2 a 3 horas.
Entre os sintomas que exigem maior atenção, estão:
catatonia (a pessoa fica paralisada)
espasmos e contrações musculares
convulsões
coma
aumento da pressão
taquicardia
psicose aguda (especialmente na fase de recuperação do uso)
A longo prazo, o uso pode interferir na memória, aprendizagem e atenção. O telefone do CIATox para auxiliar no diagnóstico e no tratamento em situações de intoxicação é o (19) 3521-7555
Caso Djidja Cardoso
Caso Djidja Cardoso: a investigação sobre a morte da jovem que ganhou fama como estrela do Festival de Parintins
Djidja Cardoso, que por cinco anos foi uma das estrelas do Festival de Parintins, no Amazonas, foi encontrada morta no último dia 28. O laudo preliminar do Instituto Médico Legal (IML) aponta que o óbito foi causado por um edema cerebral que afetou o funcionamento do coração e da respiração.
O laudo preliminar não aponta o que teria levado Djidja ao quadro, mas a principal hipótese da Polícia Civil é que tenha sido provocado por uma overdose de cetamina. O resultado final da necrópsia e o exame toxicológico devem ficar prontos ainda este mês.
Dez pessoas foram presas por suspeita de envolvimento no caso até este sábado (8).
Ex-sinhazinha do Boi Garantido, Djidja Cardoso, foi encontrada morta em Manaus.
Reprodução/Redes Sociais
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