Testemunhas dizem que ele passou um ano levando o carro para casa nas folgas. Ele foi afastado do cargo de chefe de cartório após denúncias de assédio moral e ameaças. https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2024/06/13/funcionarias-delegacia-pf-denunciam-chefe-de-cartorio.ghtml Fachada da Delegacia de Nova Iguaçu da PF
Reprodução
A Polícia Federal afastou do cargo de chefe de cartório o policial Fábio Sarno dos Santos, depois que um grupo de funcionárias da Delegacia da PF de Nova Iguaçu denunciou assédio moral e ameaças sofridas.
Segundo testemunhas, fora o assédio moral, o policial federal teria cometido também improbidade administrativa.
As testemunhas afirmam que o agente costumava levar o carro e a arma da corporação para casa, mesmo se estivesse de folga, e passava esse período utilizando o combustível do veículo, que era abastecido com o dinheiro da polícia.
O registro de ameaça foi feito na Delegacia de Atendimento à Mulher do município, que fica na Baixada Fluminense, na última semana. Mas, a situação já tinha sido denunciada dentro da própria corporação em maio de 2023.
O agente foi afastado do cargo em abril deste ano, quase um ano depois da primeira denúncia. De acordo com a PF, as informações de improbidade também serão checadas dentro do Processo Administrativo Disciplinar, que foi aberto no último mês como resultado da sindicância feita pelas vítimas.
O g1 teve acesso, com fontes, ao documento da portaria da corregedoria de abertura do processo, que diz que o objetivo é “apurar a responsabilidade funcional do servidor […] por ter, supostamente, agido com falta de urbanidade, desrespeito e não cumprimento de seus deveres, no trato com funcionárias colaboradoras, contratadas e estagiárias, utilizando sua arma funcional de forma indevida”.
A portaria não deixa claro se as denúncias de improbidade serão investigadas. O g1 apurou que uma sindicância que apurava esse delito de forma separada tinha sido arquivada. O policial teria passado um ano usando a viatura de forma irregular e depois desse período apresentou uma formalização da permissão para o uso da viatura, segundo testemunhas.
De acordo com os relatos, um dos argumentos usados foi de que “ele poderia ser acionado a qualquer momento”.
Nos depoimentos, tanto à Polícia Federal quanto à Polícia Civil, elas contaram que o dia a dia com o chefe de cartório Fábio Sarno dos Santos era de “medo, violência e pavor”.
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Segundo as mulheres, que preferiram ter suas identidades preservadas, eram constantes as vezes em que o agente federal levava a mão à arma durante o trabalho ou batia com o armamento na mesa.
Em um dos relatos, uma mulher disse que cenas como essa ocorriam pelo menos duas vezes na semana.
Uma vez, segundo elas, Fábio chegou a ameaçar “arrombar uma porta no tiro”, já que estagiárias tinham trancado um cômodo para trocar de roupa.
Quando questionadas pela Polícia Federal, as mulheres descreveram o comportamento do chefe do cartório como ”dissimulado”, “desnecessário”, “desagradável”, “ameaçador” e “agressivo”.
À Polícia Civil, uma funcionária contou que precisou ser afastada do trabalho por danos psicológicos depois que Fábio apontou a arma para ela, quando estava nervoso.
O g1 apurou que a funcionária tem tido dificuldades financeiras em manter o tratamento psiquiátrico e que sofre de depressão e ansiedade.
Uma outra mulher contou à polícia que passou por dois constrangimentos: ao procurar uma bala para chupar, Fábio teria desmontado a arma e entregado um projétil para ela.
RELEMBRE: em 2022, o presidente da Caixa foi denunciado por assédio sexual. Assista à reportagem da época:
Em outra situação, essa mulher relatou que Fábio imprimiu o desenho de um alvo na impressora e pediu que ela colasse na parede. Ao se virar, contou que se deparou com a arma apontada para ela.
Denúncia a outros órgãos
O caso também foi denunciado para o Ministério Público do Trabalho. Testemunhas disseram que, quando o ofício pedindo esclarecimentos chegou, o chefe da delegacia chamou o policial para uma conversa reservada, o que levantou suspeitas sobre a sua parcialidade.
Diante disso, as vítimas encaminharam uma notificação para o Ministério Público Federal. O g1 procurou os dois órgãos, que disseram que o caso está sob sigilo e que, por isso, não podem comentar, mas que a apuração está em trâmite.
Além disso, o inquérito foi aberto na Polícia Civil.
“Como não se trata de crime de competência da Polícia Federal, a DEAM Nova Iguaçu irá investigar e o suposto autor será chamado para prestar declarações. As supostas vítimas também foram orientadas a nos trazer o máximo de provas possíveis”, explicou a delegada titular Mônica Areal.
O g1 também entrou em contato com o policial e o chefe da delegacia, mas, não teve retorno. A corporação explicou que eles não podem comentar, uma vez que o processo está sob sigilo.
O que diz a PF
Procurada, a Polícia Federal disse que, inicialmente, os fatos foram apurados em uma sindicância investigativa, que se tornou um Processo Administrativo Disciplinar (PAD), que deve ser aberto pela corregedoria regional.
“Cumpre destacar que o servidor foi afastado da chefia do cartório pelo próprio Chefe da Delegacia de Polícia Federal em Nova Iguaçu. Por fim, informa que os fatos, em trâmite interno, seguem sob sigilo”, diz o posicionamento.
Ainda segundo a PF, o delegado afastou o funcionário assim que soube das denúncias. A data do afastamento, no entanto, não foi informada pela PF à reportagem.
O g1 apurou que a sindicância foi aberta em dezembro de 2023, sete meses após as denúncias, e que o policial foi afastado em abril deste ano.