Mapeamento do órgão indica que 219.700 famílias vivem em regiões com risco de deslizamentos ou enchentes na capital. Moradores se mostram cientes sobre os riscos, mas dizem não ter opção. Cresce número de moradias em áreas de risco na Capital
A cidade de São Paulo teve um crescimento de 7,2% no número de moradias localizadas em áreas de risco entre maio de 2023 e o início deste mês de junho. É isso o que apontam dados de monitoramento da Defesa Civil Municipal aos quais a TV Globo teve acesso.
Foram registradas 14.840 novas moradias em regiões com risco de deslizamento ou enchentes nesse período, totalizando 219.700 unidades habitacionais.
O número de áreas mapeadas pelo órgão também aumentou, passando de 696 para 785.
“O mapeamento de risco é o primeiro passo de interpretação do município pra ele conhecer as suas regiões a partir daí utilizar políticas públicas para poder mitigar os riscos”, afirma Henguel Pereira, coordenador da Defesa Civil Estadual.
Segundo dados obtidos via Lei de Acesso à Informação (LAI), a prefeitura da capital retirou 18,2 mil famílias de áreas de risco desde 2010.
Contudo, o número de unidades familiares beneficiadas com imóveis de programas habitacionais nos últimos 14 anos chega a apenas 40,1% do total de removidas.
Neste ano, das 227 famílias retiradas até 5 de maio, nenhuma recebeu imóvel para habitar, mas quase todas (220) foram beneficiadas com auxílio-aluguel.
Vida nas áreas de risco
Córrego poluído na Favela Portelinha, no Capão Redondo, Zona Sul de SP
Reprodução/TV Globo
O pintor Ernando dos Santos é pai do pequeno Miguel, de 8 anos. Sem condições de pagar seguir pagando aluguel, ele construiu uma casa para a família na Favela da Portelinha, na Zona Sul de São Paulo, uma das áreas de risco hidrológico (enchentes e inundações) da capital. O material utilizado foi fruto da doação de parentes.
“As condições para construir aqui são meio complicadas. Aqui não tem nada, não tem saneamento básico, não tem energia, não tem nada aqui”, relata Ernando. “Para viver aqui é meio difícil, a gente vive porque tem hora que a gente não tem opção mesmo”.
Algo semelhante foi dito pelo encarregado de serviços gerais Robson de Oliveira, que vive na Portelinha há 20 anos.
“A gente não tem pra onde ir, lugar melhor, condições pra pagar um aluguel. Tem aqueles riscos que a gente sabe, mas fazer o quê? Tem que correr o risco, não tem o que fazer”, disse ele.
“Eu queria uma oportunidade pra dar uma vida melhor pra minha família, aí eu trabalho todos os dias em busca dessa oportunidade”.