Projeto de economia circular impulsionou a renda dos moradores da Lagoa Mundaú. Marisqueira comenta como a fabricação dos cobogós mudou sua vida
Há alguns anos, caminhar pela orla lagunar do bairro do Vergel, em Maceió, era uma tarefa difícil: apenas quem tinha o estômago forte suportava o cheiro das toneladas de cascas de sururu que ficavam dias amontoadas na calçada e na Avenida Senador Rui Palmeira.
O marisco, que é considerado patrimônio imaterial de Alagoas desde 2014, é a principal fonte de renda para os moradores da orla da Lagoa Mundaú, que abriga cinco favelas e vive em situação de vulnerabilidade econômica, abaixo da linha da pobreza.
Para reverter esse cenário, uma iniciativa de parceria público-privada criou em 2019 um plano para resolver o problema do descarte das cascas e alavancar a economia das marisqueiras: o Projeto Sururu, que utiliza a casca do marisco na fabricação de cobogós e fomenta a economia na Lagoa Mundaú.
Cobogós 🧱
No antigo modelo de economia, tradicional na lagoa, as cascas sempre sobravam. Não tendo utilidade e sem um despejo correto, os restos orgânicos eram jogados na pista, até serem levados para aterros sanitários ou lixões. Esse descarte, além do mau cheiro, era também responsável por problemas de saúde pública, atraindo insetos e aves.
O Projeto Sururu nasceu com o objetivo de direcionar melhor esses resíduos e gerar uma economia circular para os moradores da região. Antes, o que era jogado hoje serve como matéria prima na construção civil: os Cobogós Mundaú.
Os cobogós são tijolos resistentes feitos com a casca do sururu. A mistura é simples: leva cimento, água, desodorizantes e a casca do sururu. Esses tijolinhos são vendidos em lojas de alto padrão, com alto valor agregado.
Os cobogós são fabricados às margens da Lagoa Mundaú e contam com a mão de obra de membros da própria comunidade. O projeto não parou apenas na fabricação dos cobogós, principal produto da fábrica, dali também nascem revestimentos com as cascas do sururu, resultando em um aproveitamento maior na construção civil.
Roberta Roxilene explica como nasceu Projeto Sururu
Impacto na comunidade ♻️
Nesse novo processo, adotado pelas marisqueiras após o início do projeto, as cascas são separadas e colocadas no sol para secar depois de serem separadas da carne. Quando elas estão secas o suficiente, são limpas novamente e ensacadas.
Processo de fabricação do Cobogó Mundaú
Cortesia/Portobello
O destino destes sacos é a fábrica da IABS, também conhecido como entreposto, onde eles serão pesados e trocados por recibos denominados Sururotes, moeda social adotada que vem rendendo uma nova rede de apoio financeira para as marisqueiras, onde o resíduo também vira renda.
Uma das marisqueiras que participam do projeto é a Josiane dos Santos, mais conhecida como Geléia. Ela conta como a casca tem se tornado sua principal fonte de renda, superando o que ela ganhava com sururu e sendo fundamental em momentos difíceis, como a baixa do marisco ou durante os invernos.
“Com o dinheiro do sururu eu não posso mais comprar o meu feijão e arroz, porque é muito baixo. Mas o dinheiro da casca não me deixa faltar comida na geladeira. Essa semana comprei carne e sabão, mas foi com o dinheiro da casca. O sururu, infelizmente, não me dá mais essas condições”
Roberta Roxilene apresenta o entreposto da Lagoa Mundaú
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