7 de janeiro de 2025

Cobras desaparecidas há mais de 40 anos são redescobertas no ES

Espécies raras foram avistadas novamente em 2016 e 2018, nas cidades de Jaguaré, Barra de São Francisco e Colatina. Apostolepis longicaudata
Thiago Marcial de Castro
Um estudo publicado em fevereiro de 2024 pela revista Check List revela que as espécies de cobra Apostolepis longicaudata e Drymoluber brazili, que estavam desaparecidas há mais de 40 anos, foram reencontradas no Espírito Santo, em 2016 e 2018, respectivamente.
Os animais foram encontrados durante um levantamento de campo, no qual o objetivo dos pesquisadores era detectar quais espécies de répteis habitavam os fragmentos de floresta às margens de uma rodovia. Para isso, foi feita uma busca visual inspecionando folhas, tocas e galhos. Também foram usadas armadilhas de captura, conhecidas como pitfalls (baldes colocados no solo).
O indivíduo de A. longicaudata foi encontrado dentro de uma dessas armadilhas, no município de Jaguaré (ES), enquanto dois indivíduos de D. brazili foram registrados atravessando uma rodovia na Barra de São Francisco (ES) e outro durante uma atividade de resgate em Colatina (ES).
Apostolepis longicaudata só ocorre no Brasil, havendo outros registros no Tocantins, Piauí, Paraíba. Embora não se tenha estudos de ecologia com esta espécie, o gênero Apostolepis preda anfisbênias e outros répteis serpentiformes.
Já Drymoluber brazili ocorre tanto no Brasil quanto no Paraguai, com outros registros em nosso país nos estados de São Paulo, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, Distrito Federal, Bahia, Tocantins, Ceará e Paraíba. A espécie se alimenta de lagartos.
Drymoluber brazili
Thiago Marcial
De acordo com a pesquisadora e autora do artigo, Flávia Chaves, as duas são raras no Espírito Santo, sendo que A. longicaudata também é rara no Brasil como um todo.
“A raridade de A. longicaudata pode estar relacionada ao seu hábito de vida, no qual tende a passar boa parte do tempo enterrada sob a vegetação, o que dificulta seu encontro, além de também ocorrer em fragmentos florestais em melhor estado de conservação, o que hoje tem se restringido a poucos lugares na Mata Atlântica”, diz Flávia.
“Já D. brazili pode estar relacionada aos limites de sua distribuição geográfica. As espécies, sejam de animais ou plantas, tendem a estarem em menor quantidade na borda de sua distribuição geográfica, e o estado do Espírito Santo é exatamente um desses limites”, finaliza.
A. longicaudata passa boa parte de sua vida enterrada sob a vegetação
Thiago Marcial de Castro
O primeiro registro de A. longicaudata no Espírito Santo foi feito no município de Sooretama, no ano de 1950. Já D. brazili teve dois registros no município de Baixo Guandu, em 1933 e 1934 e, mais tarde, um terceiro registro no município de Colatina, em 1974.
O estado do Espírito Santo possui apenas 10% de suas florestas remanescentes, e a redescoberta dessas espécies florestais enfatiza a importância de preservar remanescentes florestais – área com vegetação nativa primária ou em regeneração – para a conservação de espécies. Conforme o artigo, as cobras foram avaliadas como “Em Perigo Crítico” (CR) e “Em Perigo” (EN) no estado.
Para Flávia, a falta de estudos é o maior motivo para as espécies terem permanecido desaparecidas por tanto tempo. Segundo ela, o estado do ES possui grandes hiatos de amostragem, e a ausência de pesquisas sistematizadas em grande parte da região deixam lacunas de conhecimento destes grupos.
A redescoberta das duas espécies indicou o quão importante é realizar pesquisas básicas, como levantamentos de fauna, os quais trazem informações importantes sobre a ocorrência das espécies. Com base nesses dados, é possível traçar estratégias para uma conservação a longo prazo.
*Texto sob supervisão de Giovanna Adelle
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