8 de fevereiro de 2025

Com casa alagada há uma semana, família do Jardim Pantanal se muda para telhado


O g1 visitou o bairro na Zona Leste de SP que é afetado por enchentes desde os anos 1980 e conversou com moradores que são obrigados a lidar com a situação de formas inusitadas. Com casa alagada há uma semana, família do Jardim Pantanal se muda para telhado
Improvisada com material de feira, uma grande barraca armada no telhado de uma casa do Jardim Pantanal, na Zona Leste de São Paulo, abriga há uma semana uma família que teve a casa tomada pela água da enchente que se formou no lugar após fortes chuvas.
Barras de ferro fazem o papel das vigas, lonas verdes funcionam como telhado, e engradados de bebida se transformam em chão e sustentam a pia. Uma mesa de ferro dobrável vira apoio para escalar o muro e acessar o local.
“Tive que colocar as crianças aqui, porque não tinha como. Acordei 2h da manhã para ir trabalhar, a água já estava subindo. Tive que pegar as crianças, fazer esse barraco e tô aqui em cima. Botei essa barraca aqui pras crianças não ficarem na chuva e pra não depender dos outros”, explicou Vânia Alves, que trabalha como feirante.
Ela e os cinco netos estão desde o último sábado (1°) nessa situação. A água subiu na altura dos colchões e diversos móveis e eletrodomésticos foram perdidos. A mulher contou que o nível da enchente subiu de uma hora pra outra e não deu para pensar num plano B.
Vânia disse que as crianças estão com “caroços” nos pés por conta da água suja e alguns tiveram febre.
Os colchões ficam no chão mesmo. Quando vão dormir, são colocados sobre as mesas. Mesmo tentando driblar a situação, a feirante falou que convive com o medo constante de chover de novo.
No dia em que o g1 esteve no local, na última quinta (6), a família estava fazendo um mutirão de limpeza para, quem sabe, voltar a viver com os pés no chão, e não no teto.
O bairro como um todo exalava um cheiro muito forte de esgoto. As crianças, uniformizadas, passavam com suas bicicletas no meio do alagamento que ainda restava.
Vânia usa uma mesa de ferro para subir e descer para a casa improvisada
Gustavo Honório/g1
A Prefeitura de São Paulo afirmou que quer retirar os moradores da região e, para isso, pensa em oferecer indenizações de R$ 20 mil a R$ 50 mil.
Moradora do local há 20 anos, Vânia lembra que só viveu algo parecido em 2009, quando a água também tomou para si as casas do bairro. Ela nem cogita em sair de lá:
“Não posso abandonar o que eu fiz por causa de R$ 50 mil. Não dá pra comprar nada, né? São três famílias que moram aqui. Eu vou construir aqui em cima e, da outra vez que chover, tô aqui em cima. A gente gastou muito mais aqui”.
A Kombi azul que carrega os legumes e verduras que a família vende em feiras da capital também foi tomada pela água. A cebola roxa deu brotos e o chuchu mofou. “Foram uns R$ 2 mil ou R$ 3 mil de prejuízo”, lamentou Vânia.
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Com a pureza de quem ainda não tem a real noção do que aconteceu, as crianças só pensavam em brincar. No dia, fazia muito calor. Alguns potes de plástico e água bastaram para que elas dessem um show de fofura e inocência.
Crianças no Jardim Pantanal
Gustavo Honório/g1
Família se muda para teto de casa para fugir do alagamento no Jardim Pantanal, Zona Leste de SP
Gustavo Honório/g1
Família se muda para teto de casa para fugir do alagamento no Jardim Pantanal, Zona Leste de SP
Gustavo Honório/g1
A situação no Jardim Pantanal
O Jardim Pantanal está desde a madrugada do último sábado (1º) embaixo d’água devido às fortes chuvas que atingiram a capital paulista.
O distrito tem 45 mil moradores, fica dentro do Jardim Helena e é uma área de várzea que se estende por nove bairros ao longo da Zona Leste, divisa com Guarulhos. Localizada na beira do Rio Tietê, a área é onde justamente o rio corre devagar e faz curvas.
A região deveria ser uma Área de Proteção Ambiental (APA), em que são proibidas construções de casas e ruas. Contudo, a ocupação irregular e desordenada da cidade transformou a região em um bairro de muitas famílias e comunidades.
Em uma grande enchente, no ano de 2009, o bairro ficou alagado por mais de 20 dias.
Em 2023, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) prometeu construir um pôlder na região para tentar minimizar as enchentes na área do Jardim Seabra – que faz parte do distrito, mas a obra até o momento não foi entregue pela gestão municipal.
Um pôlder é uma porção de terrenos baixos e planos, usados como áreas alagáveis para que a água não invada regiões habitadas ou de plantio na agricultura.
Comuns na Holanda, que é um país conhecido por estar no nível do mar, o pôlder é geralmente seguido por alguns diques, que impedem a passagem da água em situações de grande volume de chuvas.
O pôlder do Jardim Pantanal foi prometido durante uma enchente de 2023. Na época, a previsão da prefeitura de Sâo Paulo era entregar a obra em 150 dias, pelo valor de R$ 6 milhões.
Porém, passados quase dois anos da promessa, a obra ainda não foi entregue pela gestão municipal.
* Sob supervisão de Cíntia Acayaba

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