27 de dezembro de 2024

Com foco em restaurantes e supermercados, ovinocultura se fortalece nos Campos Gerais

Atividade pode incrementar renda da propriedade em até 25%. Aliança entre associação, cooperativa e IDR-Paraná garante assistência técnica e garantia de venda. Produtores investem na ovinocultura focados em restaurantes e supermerca
Produtores da região dos Campos Gerais do Paraná têm apostado na ovinocultura e conseguido aumentar a renda em até 25%. A estimativa é do presidente da Associação Piraiense de Criadores de Ovinos (APISCO), Luiz Fernando Tonon.
“É um ganho de renda a mais para agricultores, avicultores ou suinocultores, que podem usar um cantinho vazio de pasto para criar esses animais. Depende de cada produtor, mas a atividade pode representar até 20% de sua renda, varia de 5% a 25% de aumento da renda com a ovinocultura. Se o produtor caprichar no pasto, com 150 matrizes, por exemplo, consegue tirar uma renda de R$ 5 mil por mês”, detalha.
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A espécie ovina abrange as ovelhas, que são as fêmeas adultas, os carneiros, que são os machos adultos, e os cordeiros e cordeiras, que são os filhotinhos. Há ainda os borregos e borregas, equivalentes aos animais “adolescentes”.
O foco da produção é principalmente o setor de restaurantes e supermercados.
Ao contrário de outras proteínas que estão à mesa no dia a dia dos brasileiros, a carne ovina ainda é restrita principalmente a ocasiões especiais e datas comemorativas, como Páscoa e festas de final de ano.
A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) calcula que cada brasileiro consome 46 quilos de carne de frango, 39 quilos de carne bovina e 18 quilos de carne suína por ano. Enquanto o consumo anual de carne ovina é de apenas 400 gramas por pessoa, segundo o Departamento de Economia Rural do Paraná (Deral).
Nicho de mercado
Ovinocultura cresce nos Campos Gerais do Paraná
Acervo pessoal
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Para muitos produtores, a atividade ainda é vista como hobby, e não como uma fonte de renda.
A Associação Piraiense de Criadores de Ovinos (APISCO), junto da cooperativa Castrolanda, de Castro, e com apoio de técnicos do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-PR), tem buscado fortalecer a atividade nos Campos Gerais.
Atualmente, são 100 produtores associados de Piraí do Sul, sendo 25 os ovinocultores que se dedicam mais fortemente à atividade na região.
Segundo o presidente da organização, a entidade nasceu em 2010 com o objetivo de viabilizar um trabalho iniciado pelo governo estadual na década de 90, em que matrizes foram trazidas do Rio Grande do Sul e repassadas aos pequenos produtores.
Porém, conforme o presidente, a iniciativa não rendeu muitos frutos. “Pensaram só em fomentar a ovinocultura, mas faltava assistência técnica, ajuda com a venda. Foi uma boa ideia, mas mal executada”, avalia.
Parceria do campo ao prato
Para mudar o cenário, Luiz Fernando Tonon foi atrás de cooperativas e do IDR-Paraná para que fosse possível melhorar a cadeia produtiva, com garantia de venda e assistência aos produtores.
O coordenador de Ovinocultura na Castrolanda, Tarcísio Bartmeyer, explica que a cooperativa tem parceria com um frigorifico em Castro que faz o abate, e uma planta anexa para o corte e processamento das carnes, que são vendidas principalmente para restaurantes.
Atualmente 20 produtores diretos e 30 indiretos fazem parte do grupo de cooperados.
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“O produtor não tem risco de produzir e não vender. E não importa se ele entrega 5 ou mil cordeiros, desde que tenha padrão de qualidade, nós garantimos a comercialização. Nosso objetivo é agregar renda nas propriedades e fortalecer a integração agricultura-pecuária. Em áreas de inverno onde tenha pastagem de azevém ou aveia, o produtor pode transformar o capim disponível em uma carne de qualidade e diversificar a renda da propriedade. Essa atividade exige baixo investimento em estrutura, então é fácil de ser acessada”, completa.
O coordenador afirma que a ovinocultura ainda representa uma parte muito pequena do faturamento da cooperativa, mas que o setor vem crescendo entre 5% e 10% ao ano. Os esforços atuais têm sido direcionados ao crescimento da atividade, com foco nas regiões de Piraí do Sul, Ventania, Tibagi e Castro.
“Por não ser a atividade principal da propriedade, nem sempre o produtor está focado no aumento do seu plantel, tem outras preocupações, o que dificulta o crescimento, por isso temos o foco de ampliar as regiões produtoras”, diz.
Atualmente, 5 mil cabeças são abatidas ao ano através da cooperativa, sendo que cada cordeiro comercializado pode gerar de R$ 500 a R$ 600 reais de renda bruta ao produtor.
“Trabalhamos com carne de cordeiros de até 6 meses de idade, o que garante um produto com maciez, suculência e marmoreio. O produtor consegue ter uma receita boa. Com o que entra de R$ 2 mil a R$ 5 mil por mês na propriedade, ele deixa de ver a atividade como um hobby. As mulheres e os filhos também se envolvem, o que evita o êxodo rural”, destaca.
Produção de ovinos é focada principalmente em supermercados e restaurantes
Acervo pessoal
Em Piraí do Sul, o produtor Gerben Jan Rabbers há 20 anos se dedica à ovinocultura. Da mesma forma que entrou na atividade por influência do pai, ele também incentiva o filho de 14 anos a ingressar na criação de ovinos, tanto que o menino já cuida dos próprios carneiros.
Ele já chegou a ter 400 cabeças, mas hoje seu rebanho concentra 150 animais.
“Hoje na propriedade tem que fazer de tudo um pouco, porque uma atividade ajuda a compensar a outra. Focar apenas em uma cultura é muito arriscado, e a ovinocultura é um negócio que está sendo rentável atualmente”, afirma o produtor que além de ovinos também cria novilhos para produção de leite, suínos, milho e soja.
Raio-x da ovinocultura no Paraná
O Paraná tem hoje o oitavo maior rebanho ovino do Brasil, com cerca de 570 mil cabeças, sendo a maioria destinada à produção de carne. Segundo o Deral, entre os dez maiores produtores, estão nos Campos Gerais e nas regiões sul e central do estado:
Cascavel
Guarapuava
Francisco Beltrão
São Mateus do Sul
Palmas
Turvo
Imbituva
Cruzeiro do Oeste
Bituruna
Cruz Machado
A professora Cristina Santos Sotomaior, da pós-graduação em Ciência Animal da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), explica que por muitos anos o Paraná foi um importante criador da raça Suffolk, inclusive revendendo animais reprodutores a outros estados.
Porém, ela destaca que com o tempo a raça foi perdendo a importância na região. Atualmente, segundo Cristina, as principais raças criadas no Paraná são a Ile de France e a Texel.
Também existem raças chamadas de deslanadas ou semilanadas por não terem lã, e, sim, pelo. É o caso da Santa Inês, uma raça brasileira selecionada no Nordeste, e a Dorper, originária da África do Sul.
“Se a pessoa não entender de ovinos, pode até achar que se trata de caprinos, porque não têm lã”, explica.
Com relação à melhor raça de ovinos, a professora afirma que não existe uma opção melhor ou pior do que a outra. “Existe a raça que é mais adequada para os objetivos do produtor”, ressalta.
O ovinocultor precisa contar com assistência técnica para que seja capaz de selecionar a raça que melhor se adapte ao seu sistema de produção, à região em que está inserido e ao clima local. Também vale se atentar às principais características de cada raça.
O produtor Gerben, por exemplo, trabalha com a Texel, alegando que os animais garantem a melhor carcaça.
“Existem raças mais precoces, em que os animais ficam prontos para o abate mais cedo, raças que abrangem animais maiores, raças cujos animais ganham peso mais rápido. Há outras com maior probabilidade de nascimento de cordeiros gêmeos, raças que se adaptam melhor a determinado sistema de criação e ainda raças com a melhor carcaça”, elenca.
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