8 de fevereiro de 2025

Com maresia mais forte do mundo, novos prédios na Praia do Futuro têm concreto com defesa anticorrosão


Investimentos em infraestrutura, estratégias de construção que contornam a maresia e escassez de terrenos em outros bairros atraem construtoras para a região, apontam especialistas. Construtoras investem na Praia do Futuro após dez anos sem obras de condomínios verticais
Morar em um local com vista para o mar faz parte dos sonhos de uma parcela da população. Não é à toa que hoje a avenida Beira Mar de Fortaleza está repleta de prédios residenciais e outros ainda estão por vir. Contudo, uma das mais importantes praias da capital cearense, a Praia do Futuro, parece ter ficado esquecida da rota das construtoras na última década. Até que a partir de 2022, o cenário começou a mudar.
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Segundo dados do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Ceará (Sinduscon-CE), os bairros Praia do Futuro I e Praia do Futuro II ficaram por dez anos sem a entrega de um único condomínio vertical.
A última obra concluída antes desse período foi em 2014, e somente no ano passado um novo condomínio foi finalizado. Atualmente, estão em construção pelo menos três prédios residenciais e um condomínio de casas. Todos os quatro empreendimentos foram anunciados em 2023.
Linha do tempo mostra a evolução de obras de condomínios verticais nos bairros Praia do Futuro I e Praia do Futuro II
Louise Dutra/SVM
Especialistas apontam que os efeitos da maresia, as restrições de proteção ambiental e as lacunas na infraestrutura justificam a ausência de obras na região durante a última década.
No entanto, Fortaleza é capital com maior densidade demográfica do país, conforme o IBGE, e a demanda por novas moradias — especial na área nobre e com vista para o mar — e a falta de opções em outras áreas fizeram com que a Praia do Futuro fosse alvo da construção civil.
Houve um certo esgotamento de empreendimentos para o lado do Meireles, para o lado mais próximo do mar. O metro quadrado lá é bem mais caro. Então, é possível lançar empreendimentos na Praia do Futuro mais baratos, mais competitivos”, diz o professor e coordenador do Laboratório de Materiais de Construção Civil (LMCC) do curso de Engenharia Civil da UFC, Eduardo Cabral.
Uma obra foi finalizada em 2024 e outras quatro estão andamento
Paulo Alberto/SVM
Efeitos da maresia
Um dos motivos que afastou as construtoras da Praia do Futuro nos últimos anos foi o nível de agressividade da corrosão provocada pela maresia, aponta o professor Cabral. Uma pesquisa publicada em 2018, conduzida por ele, revelou que a região possui a maior maresia já documentada do mundo.
Mas, afinal, como a maresia afeta a construção civil? No Brasil, o principal sistema estrutural utilizado na construção civil é o concreto armado, que combina concreto com barras de aço, aumentando a resistência da estrutura. Em áreas com alto nível de maresia, como a Praia do Futuro, a armadura fica mais sujeita à corrosão, o que pode fragilizar a estrutura, apresentando risco à população.
“A agressividade não afeta só a estrutura, afeta a televisão, dobradiças, torneiras, tudo que é metálico é afetado”, aponta Cabral.
Porém, o professor ressalta que hoje há estratégias que possibilitam construções seguras na região. O professor ainda acredita que o estudo publicado em 2018 contribuiu para que as construtoras tivessem mais confiança em investir na Praia do Futuro.
Entre as estratégias adotadas, Cabral cita o melhoramento da qualidade do concreto, para que o material proteja o aço de maneira ainda mais eficaz. Outras ações incluem o uso de adições minerais no concreto, que fecham a porosidade; o uso de aditivos cristalizantes, que regeneram o concreto em caso de rachaduras; e pinturas protetivas.
Proteção Ambiental
A Praia do Futuro está inserida numa Macrozona de Proteção Ambiental e dividida em duas zonas urbanas principais: a Zona de Orla – Trecho VII (ZO-VII) e a Zona de Interesse Ambiental da Praia do Futuro (ZIA). Segundo Odilo Almeida, presidente do Instituto de Arquitetos Brasil (IAB), a região exige maior cuidado no planejamento e na implementação de empreendimentos urbanos e de arquitetura, o que pode ter afastado as construtoras por tanto tempo.
Diante do aumento de obras residenciais na região, o presidente pontua que as diretrizes de planejamento garantem um equilíbrio entre crescimento econômico, preservação ambiental e qualidade de vida para a população local.
A preservação dos ecossistemas costeiros, o respeito à legislação vigente e a adoção de práticas sustentáveis são indispensáveis para evitar danos irreversíveis. Do ponto de vista social, é fundamental que o desenvolvimento urbano seja inclusivo e não acentue desigualdades.
Infraestrutura
A infraestrutura de um bairro é fundamental para o desenvolvimento econômico de um bairro. Para Jorge Dantas, vice-presidente de tecnologia do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Ceará (Sinduscon-CE), a Praia do Futuro foi “pouco explorada” no passado. Hoje, ele acredita que a região tem evoluído, o que pode ter contribuído para o surgimento de novas construções.
“A Praia do Futuro começou a ser mais vista. É uma região com altíssima qualidade, tem praias, é um bairro agradável de se frequentar. É uma região que é altamente viável, mas que estava sendo pouco explorada. Começou a ter mais serviços, está tendo supermercado, shows, teve a reforma da praça 31 de março, então ela começou a ter mais vida. Quanto mais vida, mais famílias vão para lá. Acredito que no futuro, se tiver um trabalho como foi feito na Beira Mar de Fortaleza, nós vamos ter uma região belíssima para se viver, com uma qualidade de vida muito boa”, declara.
Para o IAB, o aumento de empreendimentos na Praia do Futuro deve ser acompanhado de um planejamento de melhoria em infraestrutura, contemplando o transporte público, saneamento básico e áreas de lazer acessíveis. “Essa abordagem integrada é essencial para assegurar que o crescimento seja sustentável e traga benefícios para toda a cidade”, destaca.
A reportagem entrou em contato com a Secretaria Municipal da Infraestrutura (Seinf) para saber quais investimentos estão previstos na região, mas foi informado que a nova gestão “ainda está fazendo o levantamento das obras a serem finalizadas e posteriormente vai definir as prioridades”.
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