27 de dezembro de 2024

Com poder fragmentado, milícia de Zinho é alvo de ações da polícia em meio à disputas internas e ataques de traficantes

Criminosos concorrem para dominar dez bairros que garantem lucros milionários pela exploração de serviços, além de tentativas de indicação de candidatos nas eleições deste ano. Miliciano Zinho após dar entrada no sistema penitenciário do Rio
Reprodução
Pouco mais de 70 dias após, o seu chefe, Luís Antônio da Silva Braga, o Zinho, se entregar à Polícia Federal, a maior milícia do Rio de Janeiro se fragmentou.
De acordo com investigadores, a quadrilha perdeu o comando central e vive de disputas internas. Além disso, traficantes tentam tomar seus territórios, o que aumentou a sensação de insegurança nestas regiões.
O g1 apurou que o baque na maior milícia começou dois meses antes da rendição de Zinho.
Em 23 de outubro, Matheus da Silva Rezende, de 24 anos, sobrinho de Zinho, morreu após ser baleado, em uma troca de tiros com a Polícia Civil, na comunidade Três Pontes, em Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio.
Teteu, como era conhecido, era o principal elo do acordo de cooperação e não ataque que vinha sendo costurado entre a milícia e a facção Comando Vermelho. Uma das coisas acertadas foi que a quadrilha de Zinho não se envolveria nos ataques dos traficantes a outros grupos de milicianos na região de Jacarepaguá, na Zona Oeste da cidade.
Por temer traições e de morrer como seus irmãos, Zinho só contava a Teteu seu paradeiro durante o dia e os locais onde passaria a noite. Após a morte do sobrinho, isso acabou. Zinho passou a evitar deslocamentos com grande quantidade de seguranças até ser convencido a deixar um sítio e se entregar à Polícia Federal na véspera do Natal.
Matheus da Silva Rezende, conhecido como Teteu, foi morto em troca de tiros com a Polícia Civil
Reprodução/TV Globo
Só pedia para não ser transferido para um presídio federal, o que o Ministério Público não concordou, segundo apurou o g1. A Justiça já determinou a transferência mas até agora, o criminoso permanece isolado no Rio.
Quatro dias após Zinho se entregar, três milicianos morreram na comunidade Três Pontes, reduto tradicional da sua família. Os assassinatos marcam o início das traições na quadrilha.
A polícia têm informações de que sem Zinho no comando, milicianos fugiram com armas e dinheiro dos vários negócios explorados pela quadrilha e que eram acompanhados de perto pelo miliciano, que sempre foi a figura responsável pela contabilidade do grupo desde que seus irmãos, Carlos Alexandre Braga, o Carlinhos Três Pontes, e Wellington da Silva Braga, o Ecko, eram os chefes.
Esse enfraquecimento do grupo tem sido aproveitado pela polícia. A seguir, algumas das ações contra a milícia do Zinho desde que ele se entregou:
5/1 – PRF, Draco e Subsecretaria de Inteligência apreende armas com a milícia;
8/1 – Milicianos foram presos na comunidade Cesar Maia, no Camorim;
25/1 – Policiais civis prenderam, em flagrante, Marcos Antônio Souza Silva e Luiz Carlos de Souza Girão.
23/2 – Três homens com tatuagens em homenagem aos irmãos Carlinhos Três Pontes, Ecko e Zinho são presos pela Draco e pela Subsecretaria de Inteligência, em Guaratiba;
28/2 – A Seap prendeu Peterson Luiz Almeida, o Pet, aliado de Zinho;
7/3 – A Polícia Rodoviária Federal, a Draco e a PM interceptaram um grupo de 15 milicianos. Doze fuzis foram apreendidos;
8/3 – Polícia prende 5 milicianos e apreende 5 fuzis em favela da Zona Oeste do Rio
Com tatuagens da família Braga, três homens são presos por integrar milícia na Zona Oeste
Reprodução
Apesar dessas ações, o patrimônio financeiro e eleitoral dessa milícia segue grande. De acordo com o Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado, do Ministério Público estadual, por exemplo, foram aplicados R$ 135 milhões em empresas em sete anos.
Isso é do negócio da milícia que explora ainda na região transporte clandestino, venda de gás, água, internet, remédios e até extorsões de empresas que estejam construindo em bairros dominados pelo grupo.
Fuzis e outras armas apreendidos
Henrique Coelho/g1
Além disso há o patrimônio eleitoral: todo candidato olha com atenção para o número de eleitores nos dez bairros em que a milícia domina na Zona Oeste do Rio: algo em torno de pouco mais de 250 mil, segundo dados do Tribunal Regional Eleitoral (TRE).
As ligações de Zinho com políticos são investigadas pelo Ministério Público e pela Polícia Federal. Uma investigação apontou a deputada Lucinha como elo político da quadrilha. Foram identificados15 encontros de Lucinha ou de sua assessora, Ariane de Afonso Lima, com integrantes da milícia – entre eles o próprio Zinho, quando estava solto. Os investigadores também acreditam que gravações mostram a deputada preocupada em favorecer pautas do grupo criminoso.
Lucinha chegou a ser afastada pela Justiça da Alerj, mas o plenário da casa decidiu restabelecer ela no posto enquanto corre a investigação. Em seu retorno à casa, a deputada negou que é “braço” da milícia na assembleia.
PF e MPRJ cumprem mandado na casa da deputada estadual Lucinha, em Campo Grande, na Zona Oeste do Rio
Reprodução/TV Globo

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