Essa chuva histórica já é suficiente para provocar grandes estragos no Rio Grande do Sul, mas o Vale do Taquari tem outra característica que aumenta o poder de destruição das tempestades. Combinação de fatores explica impacto devastador das chuvas no vale do Taquari
Uma combinação de fatores explica impacto devastador das chuvas no Vale do Taquari.
Mais uma chuva acima do normal e, mais uma vez, as cidades do Vale do Taquari, no Rio Grande do Sul, estão debaixo d’água. Em setembro, a passagem de um ciclone tropical deixou casas submersas e matou 54 pessoas. Dois meses depois, tempestades deixaram mais cinco mortos.
Agora, as chuvas começaram no início de abril. Até o dia 18, choveu 230 milímetros na região central do vale, já acima da média para a região, que é de 151 milímetros. O nível do rio subiu e começou a invadir as cidades.
E de 28 de abril até esta quinta-feira (2) de manhã, foram mais 501 milímetros, em quatro dias. O solo já encharcado ajudou a água a correr das cabeceiras dos rios menores até o Rio Taquari e inundar cidades. Uma imagem de satélite mostra o trajeto normal do Rio Taquari. A mancha escura é o terreno que foi coberto pela água. Essa foto foi feita nesta quinta.
Imagem mostra o trajeto normal do Rio Taquari; mancha escura é o terreno que foi coberto pela água
Jornal Nacional/Reprodução
O meteorologista Gilvan Sampaio explica que três fenômenos se somaram. Da Amazônia, vêm ventos úmidos. A mancha branca sobre a região sul é uma forte frente fria. E, no centro do país, uma área de alta pressão não deixa as nuvens passarem. Elas estão estacionadas e provocam as chuvas constantes.
“Isso é mais um sinal do fenômeno El Niño. Isso permite com que as frentes fiquem bloqueadas ali no sul do Brasil. Então, foi o que aconteceu lá no final do ano passado, no segundo semestre de 2023, e é o que está acontecendo agora. Embora o El Niño esteja agora perdendo intensidade, ele ainda contribui também para esse fenômeno que está ocorrendo agora”, diz Gilvan.
Essa chuva histórica já é suficiente para provocar grandes estragos no Rio Grande do Sul. Mas o Vale do Taquari tem outra característica que aumenta o poder de destruição das tempestades. E essa não vem do céu, tem muito mais a ver com a terra.
As cidades do vale foram construídas nas margens do rio, em áreas planas e baixas, chamadas pelos geólogos de planícies de inundação, porque são naturalmente alagadas quando o nível do rio sobe. A cidade de Muçum é um exemplo disso. E o padrão se repete nas cidades vizinhas.
Cidades do vale foram construídas nas margens do rio, em áreas planas e baixas
Jornal Nacional/Reprodução
“A bacia do Rio Taquari, ela é muito muito ampla, né? Acho que extensão são mais de 200 km. Toda a água que cair dentro dessa área vai convergir para dentro do rio principal que é o Rio Taquari. Por isso que esse volume converge todo e acaba transbordando”, explica Edilson Pizzato, professor do Instituto de Geociências da USP.
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