25 de dezembro de 2024

Como agia a empresária mineira suspeita de desviar R$ 35 milhões usando cartões de benefícios

Segundo as investigações, Samira Bacha fraudava cartões de benefícios das empresas onde trabalhava. A fortuna ilegal foi conseguida em quatro anos. Veja o passo a passo do golpe. Como agia a empresária suspeita de desviar 35 milhões
Samira Monti Bacha Rodrigues é uma mulher discreta. Nunca foi de ostentar em redes sociais. Quando aparece usando joias, não mistura muitas. Parece conhecer o valor de cada uma. Mas essa elegância toda não evitou que a empresária mineira de 40 anos fosse presa em seu apartamento. Localizado, aliás, em um dos metros quadrados mais caros de Minas Gerais. Um imóvel avaliado em R$ 6 milhões.
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Samira Bacha é suspeita de desviar um total de R$ 35 milhões das empresas em que foi sócia. Todas elas especializadas em crédito financeiro e cartões. Os golpes teriam começado em 2020 e seguiam um método.
Segundo as investigações, Samira fraudava cartões de benefícios. Benefícios como vale-refeição, por exemplo. Cada cartão com cerca de R$ 600. A polícia diz que Samira emitia cartões que extrapolavam esse valor e embolsava a diferença. Só em um cartão no nome dela, o valor falso teria chegado a R$ 500 mil. Para sacar o dinheiro, Samira recorria a agiotas.
“O que que ela faz nessa gestão? Ela começa então a fraudar esses cartões médicos, começa a aumentar os limites mais ainda, coopta novas pessoas e ela descobre nesse momento que ela podia pegar o valor que estava nos cartões e fazer o que a gente chama de descarregar cartão, que é procurar aqueles agiotas que utilizam o cartão, você passa o cartão, eles cobram uma taxa e te devolvem uma parte, ou em espécie, em dinheiro, ou te devolve via bancária mesmo”, afirma o delegado Alex Machado.
Segundo os investigadores, Samira gastava o dinheiro em espécie em viagens internacionais para comprar joias e outros itens de luxo. Na volta ao Brasil, repassava as mercadorias por preços abaixo do mercado.
No balanço da operação policial, que apreendeu dinheiro e automóveis caros, o que chamou mais atenção foram os artigos de luxo: bolsas avaliadas em R$ 200 mil reais e muitas joias.
De acordo com a investigação, os itens luxuosos na casa de Samira, avaliados em R$ 15 milhões, teriam sido adquiridos com dinheiro sujo.
A polícia afirma, também, que eles eram usados na lavagem desse dinheiro.
Os investigadores descobriram também que Samira Bacha se associou à dona de uma joalheria para revender os produtos que comprava com o dinheiro desviado. O estabelecimento funciona em um edifício que concentra lojas de alto padrão. A polícia também cumpriu mandados de busca e apressão nesse local.
Os investigadores dizem que uma peça de R$ 200 mil trazida do exterior por Samira poderia ser revendida para a joalheria por R$ 80 mil. Como Samira fazia as compras com o dinheiro do golpe, os R$ 80 mil eram puro lucro pra ela. Segundo a polícia, o lucro da joalheria vinha da revenda das peças pelo valor de mercado.
Os valores gastos por Samira tinham que ser pagos pelas empresas das quais ela era sócia. Mas Samira maquiava as planilhas para que a dívida não aparecesse.
“Ela já vinha desde o início maquiando. Maquiando as planilhas, os saldos. Na hora que os sócios perguntaram pra ela: ‘Como está a empresa?’, ‘A empresa está ótima, a empresa está crescendo, ganhando dinheiro’. E com isso mantendo eles distantes do assunto. Ela deu ordem para os funcionários que nada deveria ser passado para os outros sócios. Apenas pra ela, para que ela passasse pra eles; ela tinha o poder de manipular tudo isso”, afirma o delegado.
Para não deixar rastros, Samira, segundo a polícia, também apagava do sistema os cartões que ela usava na fraude. O problema é que as dívidas eram reais e cresciam, acabando por causar um rombo financeiro na empresa.
Thiago de Faria, advogado dos ex-sócios de Samira, diz que a descoberta quebrou uma longa relação de confiança.
“A descoberta ocorreu, está dentro do inquérito policial de maneira bastante farta demonstrando que planilhas foram maquiadas, dinheiros foram desviados pra conta, enfim. (…) A gente pode dizer o seguinte: de fato há uma robusteza de evidências de que houve sim ilícitos penais que estão sendo apurados pela polícia civil, e a reação dos sócios foi de perplexidade. Porque havia uma relação de grande confiança nela”, afirma o advogado.
Por ser mãe de duas crianças, Samira Monti Bacha Rodrigues cumpre prisão temporária em casa.
Em nota, a defesa de Samira disse que, “em razão do segredo de justiça e de as investigações estarem ainda no início, os advogados e a própria Samira Bacha não se manifestarão pela imprensa. E que ela e seus familiares sempre estiveram à disposição da justiça para esclarecimentos, e assim permanecem”.
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