27 de dezembro de 2024

Como funciona a vacina ‘personalizada’ contra melanoma, que promete revolucionar tratamento de forma mais letal de câncer de pele

Pesquisadores estão trabalhando nos últimos testes de uma vacina contra o melanoma projetada “sob medida” para ajudar cada paciente. Steve Young participou dos últimos testes de vacinas em Londres
PA MEDIA via BBC
É um ensaio importante e pioneiro que pode representar um avanço significativo na luta contra o câncer.
Pesquisadores em Londres estão testando a primeira vacina “personalizada” de RNA mensageiro (mRNA) projetada para combater o melanoma, a forma mais letal de câncer de pele.
A vacina, chamada tecnicamente de mRNA-4157 (V940), utiliza a mesma tecnologia das vacinas contra a covid-19 mais recentes e está sendo testada em ensaios de fase III, última fase de testes antes da avaliação final para aprovação e liberação do uso em larga escala.
Participam também do programa de testes os Estados Unidos e a Austrália, porém, o Reino Unido foi o primeiro dos três países a iniciarem a fase III, após apreciação positiva dos resultados nas duas fases anteriores.
Um dos primeiros pacientes a testar esta vacina na fase III é Steve Young, de 52 anos, que teve um melanoma removido do couro cabeludo em agosto do ano passado.
O objetivo é ajudar o sistema imunológico dele a reconhecer e eliminar qualquer célula cancerígena que possa ter permanecido em seu corpo. Se tudo correr bem, isso impedirá que o câncer retorne.
Os médicos do University College London Hospitals (UCLH) estão administrando a vacina em conjunto com outro medicamento, o pembrolizumab ou Keytruda, que também auxilia o sistema imunológico a destruir as células cancerígenas.
Câncer de pele: como identificar se pintas, manchas e outros sinais podem indicar doença
Assinatura genética
O tratamento com a vacina e o medicamento, fabricados pelas empresas Moderna e Merck Sharp and Dohme (MSD), ainda não está disponível fora dos ensaios clínicos. Especialistas de outros países, incluindo a Austrália, também estão testando em pacientes para reunir mais evidências e determinar se deve ser generalizado.
É chamada de vacina personalizada porque sua composição é modificada para se adequar a cada paciente. É gerada especificamente para corresponder à assinatura genética única do próprio tumor do paciente e age instruindo o corpo a produzir proteínas ou anticorpos que atacam os marcadores ou antígenos encontrados apenas nessas células cancerígenas.
A Dra. Heather Shaw faz parte dos testes realizados nos hospitais da University College London
PA MEDIA via BBC
A Dra. Heather Shaw, pesquisadora do UCLH, explicou que a vacina tem o potencial de curar pacientes com melanoma e está sendo testada em outros tipos de câncer, como pulmão, bexiga e rim. “
É uma das coisas mais emocionantes que vimos em muito tempo”, afirmou. “Por ser personalizada, não poderia ser administrada a outro paciente, porque não se esperaria que funcionasse.”
“É verdadeiramente personalizada. Essas coisas são muito técnicas e são pensadas para o paciente”, acrescenta.
“Com as luvas postas”
O objetivo do ensaio internacional no Reino Unido é recrutar entre 60 e 70 pacientes em oito clínicas nas cidades de Londres, Manchester, Edimburgo e Leeds.
Os pacientes do experimento devem ter sido submetidos à remoção cirúrgica de melanoma de alto risco nas últimas 12 semanas para garantir o melhor resultado. Alguns deles receberão uma injeção simulada ou placebo em vez da vacina. No entanto, nenhum deles sabe qual irá receber.
“[O ensaio] me deu a oportunidade de sentir que realmente estava fazendo algo para lutar contra um possível inimigo invisível”, disse Young à emissora Radio 4 da BBC.
“Os exames mostraram que eu estava radiologicamente limpo, mas obviamente ainda havia a possibilidade de células cancerígenas flutuando por aí sem serem detectadas. Então, em vez de ficar sentado esperando que não voltasse a aparecer, tive a oportunidade de vestir as luvas de boxe e enfrentá-lo”.
Em janeiro de 2023, era assim o caroço no couro cabeludo que Young
PA MEDIA via BBC
Sintomas do melanoma
Young, que é músico de profissão, teve um caroço no couro cabeludo por muitos anos antes de perceber que se tratava de um câncer. Ele disse que o diagnóstico causou um “impacto enorme” nele.
“Passei literalmente duas semanas pensando ‘é o fim'”, explica. “Meu pai morreu de enfisema aos 57 anos e eu pensei ‘vou morrer mais jovem que meu pai'”.
Os sinais mais comuns de melanoma que as pessoas devem ficar atentas são:
Um novo sinal (como pinta, mancha ou verruga) anormal
Um sinal existente que parece estar crescendo ou mudando
Uma mudança (de cor ou textura, por exemplo) em uma área da pele que era normal.
É importante detectar a tempo a alterações suspeitas na pele no caso de melanoma
GETTY IMAGES via BBC
Qual o aspecto do melanoma?
A mudança de aparência de um sinal, como nessas quatro imagens, pode ser um sinal de melanoma. A lista de verificação ABCDE pode ajudar a identificar se um sinal é anormal:
A – assimétrico (o sinal tem uma forma irregular?)
B – borda (as bordas são irregulares ou desiguais?)
C – cor (o sinal tem uma cor irregular com diferentes tons ?)
D – diâmetro (o sinal é maior que os outros?)
E – evolução (está mudando? Começou, por exemplo, a coçar, sangrar ou formar crostas?)
Essas mudanças nem sempre são cancerígenas, mas é importante fazer uma revisão. Quanto mais cedo um melanoma for detectado, mais fácil será tratá-lo e maiores serão as chances de sucesso.

NHS via BBC
Os dados do ensaio de fase II, publicados em dezembro, revelaram que as pessoas com melanomas graves de alto risco que receberam a injeção junto com a imunoterapia Keytruda tinham quase metade (49%) das chances de morrer ou de ter o câncer reaparecido após três anos em comparação com aquelas que apenas receberam o medicamento.
Shaw afirmou que havia uma esperança real de que a terapia pudesse “mudar as regras do jogo”, especialmente porque parecia ter “efeitos colaterais relativamente toleráveis”.
Estes incluem cansaço e dor no braço quando a injeção é administrada, e acrescenta que, para a maioria dos pacientes, não parece ser pior do que a vacina contra a gripe ou a covid-19.
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