3 de outubro de 2024

Como funcionará repatriação de 3 mil brasileiros que fogem de guerra no Líbano

A BBC News Brasil apurou que os primeiros voos devem ocorrer neste fim de semana. Avião em Beirute nesta terça-feira (1º)
Reuters
O governo brasileiro anunciou nesta terça-feira (1º) que vai iniciar a repatriação de ao menos 3 mil brasileiros que estão no Líbano.
O país está sob ataques aéreos de Israel desde a semana passada. Na noite de segunda-feira (30), no horário do Brasil, forças israelenses confirmaram o início de uma ofensiva por terra.
Os ataques de Israel têm como alvo o grupo armado Hezbollah, muito influente no Líbano e apoiado pelo Irã.
O Itamaraty informou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva determinou que fossem feitos voos de repatriação de brasileiros no Líbano. A operação é coordenada pelo Itamaraty e pelo Ministério da Defesa e terá os detalhes divulgados nos próximos dias.
Desde a última semana, a embaixada brasileira em Beirute, capital do Líbano, disponibilizou um formulário para consultar se havia brasileiros interessados em serem repatriados.
Cerca de 3 mil pessoas já preencheram o documento, mas a previsão é que este número cresça, pois o formulário continua aberto para novas solicitações.
O governo estima que 21 mil brasileiros morem no país — formando a maior comunidade brasileira no Oriente Médio.
A BBC News Brasil apurou que os primeiros voos devem ocorrer neste fim de semana. Até lá, o país vai alinhar a operação logística com o governo libanês para que o retorno dos brasileiros seja feito em segurança.
A orientação do Itamaraty é que os brasileiros que tenham interesse em voltar para o país de origem e tenham recursos próprios para isso usem voos comerciais, pois os aeroportos libaneses continuam funcionando normalmente.
A repatriação respeitará uma lista de prioridades, segundo fontes do Itamaraty.
Equipes de resgate na capital libanesa, Beirute, nessa terça-feira (1º)
Reuters
Serão repatriados primeiro as crianças, idosos, gestantes e pessoas que necessitam tratamentos de saúde mais delicados.
Em 2006, cerca de 3 mil brasileiros foram repatriados do Líbano durante um confronto entre Israel e o Hezbollah.
Segundo os respectivos governos, provavelmente o Brasil abriga a maior comunidade de nascidos e descendentes de libaneses fora do país no Oriente Médio.
Estima-se que, entre 1880 e 1969, 140 mil árabes atravessaram o oceano para tentar uma vida melhor por aqui, a maioria deles libaneses e sírios.
A delimitação e independência da Síria e do Líbano só veio na década de 1940, o que gera algumas incertezas sobre a origem precisa de muitos destes imigrantes em anos anteriores.
Essa imigração deixou marcas no Brasil em instituições de renome, como o Hospital Sírio-Libanês em São Paulo (SP), e em nomes da política brasileira que são descendentes de libaneses, como o ex-presidente Michel Temer; o atual ministro da Fazenda, Fernando Haddad; e o atual candidato à prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos.
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Tensão no Líbano
A tensão entre Israel e Hezbollah já havia aumentado desde os ataques do grupo palestino Hamas a Israel em 7 de outubro de 2023.
Mas a situação piorou a partir de 17 de setembro desse ano, quando ocorreram explosões de pagers e walkie-talkies usados pelo Hezbollah no Líbano, matando mais de 30 pessoas e deixando mais de 2 mil feridos. Israel foi acusado pela ação, mas não negou nem confirmou a autoria.
Poucos dias depois, o sul do Líbano passou a ser fortemente bombardeado por Israel.
Autoridades libanesas dizem que mais de mil pessoas foram mortas nas últimas duas semanas em meio aos ataques de Israel, e até 1 milhão de pessoas precisaram deixar suas casas.
Em meio à ofensiva, Israel matou o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, na sexta-feira (27).
Nesta terça-feira (01), o Irã lançou dezenas de mísseis contra Israel. Não há relatos de vítimas ou áreas urbanas atingidas, mas a ação marca a escalada na tensão no Oriente Médio.

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