25 de dezembro de 2024

Como grupo de extermínio fez Ribeirão Preto ter explosão de homicídios nos anos 2000

Investigações apontam que ex-policial condenado a 274 anos de prisão por nove assassinatos chefiava grupo criminoso. ‘Era uma cidade extremamente violenta’, lembra promotor. Promotor aposentado explica como grupo de extermínio atuava dentro da polícia de Ribeirão
Ribeirão Preto (SP) viu o número de homicídios ter um salto expressivo entre o final da década de 1990 e início dos anos 2000.
As investigações da época relacionam o aumento a um grupo de extermínio que se formou na cidade e que era responsável pela maioria dos crimes.
📲 Receba no WhatsApp notícias da região de Ribeirão e Franca
Um dos chefes desse grupo era o ex-policial civil Ricardo José Guimarães, condenado nesta semana a mais 30 anos de prisão, desta vez pela morte a tiros de Thiago Xavier Stefani em 2003. Com isso, Guimarães passou a somar 274 anos em condenações por nove assassinatos (veja abaixo o histórico).
Um levantamento realizado pela EPTV, afiliada da TV Globo, com base em dados da Secretaria de Segurança Pública (SSP-SP), retrata o “boom” de homicídios em Ribeirão a partir de 1994 e queda iniciada em 2001, justamente quando o grupo começou a ser investigado.
Veja o gráfico abaixo:

Como era a cidade?
O promotor Luiz Henrique Pacini atuou nas investigações sobre o grupo de extermínio no início dos anos 2000. Ele lembra o quanto a atuação dos criminosos impactou no total de assassinatos.
“Era uma cidade extremamente violenta, nós tínhamos uma média àquela época de 220 homicídios por ano. Haja vista que agora, desde 2003, quando começou a apuração, até hoje, a média é inferior a 40. Era uma coisa assustadora”, afirmou o promotor.
Homem foi morto dentro de cela em delegacia de Ribeirão Preto em 2002
Reprodução/EPTV
LEIA TAMBÉM
Mãe relata alívio com condenação de ex-policial 21 anos após filho ser morto a tiros em Ribeirão Preto
Ligação revela ameaças de ex-policial civil chefe de grupo de extermínio: ‘Arrancamos um pedaço do filho dele’
Testemunha diz ter visto ex-policial chefe de grupo de extermínio no local onde jovem foi morto: ‘como se não tivesse feito nada’
Como o envolvimento de policiais foi descoberto?
Pacini destaca que o envolvimento de policiais nos crimes começou a ser descoberto quando um deles foi morto.
“A coisa era assustadora ao ponto de, quando eu identifiquei que tive um funcionário que foi vítima de um adolescente, ele pulou para a casa do vizinho e matou um ex-policial militar, eu comecei a enxergar quem fazia as execuções eram policiais.”
Como o grupo agia?
Segundo o promotor, os primeiros alvos do grupo de extermínio eram pessoas envolvidas em outros problemas sociais. Com o passar do tempo, no entanto, as mortes passaram a ser motivadas por pequenas desavenças.
Os integrantes, ainda de acordo com Pacini, cometiam os crimes sob o efeito de álcool em alguns casos.
“Eles saiam para caçar. Saíam à noite, depois de se embriagar, à busca de meninos que estavam em situação de risco e matavam. […] Começam com uma limpeza e depois qualquer bobagem é suficiente para tirar a vida das pessoas. Começa errado e vai terminar pior ainda.”
O promotor Luiz Henrique Pacini, de Ribeirão Preto (SP)
Reprodução/EPTV
Histórico de condenações
Desde que passou a ser acusado por crimes ligados ao grupo de extermínio, o ex-policial civil Ricardo José Guimarães soma 274 anos de prisão por condenações em nove homicídios. Veja as penas:
Maio de 2024: 30 anos de prisão pela morte de Thiago Xavier de Stefani, de 21 anos, em maio de 2003
Abril de 2019: 38 anos de prisão pelas mortes de Maikon Nahid Silva, de 19 anos, e Rogério Fernandes da Silva Esvarela, de 20, em agosto de 2002
Agosto de 2018: 30 anos de prisão pela morte de Thiago Aguiar Silva, de 14 anos, em janeiro de 2004
Fevereiro de 2018: 56 anos de prisão pela morte da dona de casa Tatiana Assuzena, de 24 anos, em março de 2004
Julho de 2017: 72 anos de prisão pelas mortes de Anderson Luiz de Souza e Enock de Oliveira Moura em maio de 1996
Dezembro de 2017: 48 anos de prisão pelas mortes de dois policiais no Rio Grande do Sul, em julho de 2005
Pela lei brasileira, Guimarães tem que cumprir mais 14 anos de pena. Na época em que os crimes ocorreram, o tempo máximo que uma pessoa poderia permanecer atrás das grades era de 30 anos.
A mudança que permite que o condenado cumpra até 40 anos em regime fechado ocorreu em 2020, com a aprovação no Congresso da legislação que ficou conhecida popularmente como “Pacote Anticrime”. À época, o projeto foi enviado pelo ministro da Justiça, Sérgio Moro, e sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL).
O ex-policial civil Ricardo José Guimarães
Reprodução/EPTV
Veja mais notícias da região no g1 Ribeirão Preto e Franca
VÍDEOS: Tudo sobre Ribeirão Preto, Franca e região

Mais Notícias