Estudo do Observatório PUC-Campinas mostra que postos de trabalho saltaram de 2,6 mil em 2023 para 9,1 mil e transformaram a dinâmica da economia. Série do g1 apresenta impactos. Como indústria gerou o triplo de vagas na RMC em 2024
A indústria da Região Metropolitana de Campinas (RMC) registrou um salto na criação de vagas de emprego em um ano. A informação foi constatada por meio de um estudo realizado pelo Observatório PUC-Campinas, obtido pelo g1. De acordo com a pesquisa, o setor criou mais que o triplo dos postos de trabalho em 2024 do que no ano passado.
O protagonismo da indústria no cenário do saldo de emprego nas 20 cidades que compõem a RMC mudou a dinâmica da economia da região, que, no ano passado, esteve mais direcionada ao setor de serviços e, em 2024, viu a produção industrial crescer, o que impactou no consumo da população e gerou mais oportunidades de trabalho. [veja resumo no vídeo acima]
Neste fim de ano, o g1 publica uma série de três reportagens sobre o crescimento da indústria em 2024 e a transformação que a alta causou na estrutura da geração de emprego da região de Campinas (SP). Na primeira, é possível conferir o aumento exato, as razões para isso e quais são os impactos desta mudança.
Nesta reportagem você vai ver:
Os números do emprego na RMC em 2024 e quanto a indústria cresceu?
Por que cresceu tanto?
O que significa na prática a mudança de estrutura?
Quais os números do emprego na RMC em 2024 e quanto a indústria cresceu?
O Observatório PUC-Campinas faz análises econômicas de dados relativos ao emprego e a renda da Região Metropolitana de Campinas por meio de números do novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). De acordo com o painel de informações, a RMC teve, até outubro, saldo de 39,2 mil vagas abertas.
O saldo de emprego contabiliza o número que sobra da equação entre funcionários demitidos e contratados. O índice registrado em 2024, mesmo ainda com a ausência das vagas de novembro e dezembro, já é 26,5% maior do que os postos de trabalho abertos no ano passado. No entanto, a movimentação ainda está abaixo de 2021 e 2022.
Diante deste cenário, a indústria ganhou destaque e passou de 2,6 mil vagas em 2023 para 9,1 mil em 2024, o que equivale a um aumento percentual de 248%. Ou seja, o nível do emprego dentro do setor industrial foi quase quatro vezes maior do que no ano passado.
Por que cresceu tanto?
Em entrevista ao g1, a professora e economista responsável pelo estudo do Observatório, Eliane Navarro Rosandiski, atribuiu o protagonismo do setor a um cenário de segurança econômica gerada pela taxa de juros menor do que em 2023. Com a queda, as pessoas ganharam mais poder financeiro para consumir, aumentou a demanda de produção e, consequentemente, as indústrias precisaram contratar mais.
Nesse ano de 2024 o que é diferente de 2023? Foi quando o Banco Central começou com a redução da taxa de juros, com a política monetária menos restritiva. Ele afrouxou o garrote da política monetária. Quem respondeu favoravelmente a isso? O setor industrial, que é o setor gerador de emprego mais qualificado nessa economia
De acordo com a economista, as indústrias clamam para que a política monetária do país não use a elevação da taxa de juros para conter a inflação porque, apesar de frear o aumento dos preços, ela vai também deixar menos dinheiro na mão das pessoas, o que sufoca a demanda, reduz o nível de consumo das famílias e enfraquece a capacidade de produção industrial, gerando perda de vagas.
“Se olharmos os dados do comércio e varejo, depois da Black Friday, foi o melhor ano do varejo. Mas por que? Porque as famílias estão com uma renda aumentando, você está gerando emprego, você está gerando demanda de consumo. Isso é música para os ouvidos da indústria, porque eles vão fazer o que? Produzir”, completou.
Eliane Navarro Rosandiski
Reprodução/EPTV
Ainda segundo a especialista, a taxa de juros mais baixa proporciona a combinação de dois fatores: a indústria, que precisa produzir, consegue linhas de crédito mais fáceis e contribui para o consumo, porque quem compra também consegue possibilidades de crédito amigáveis para fazer um parcelamento, por exemplo.
“Se a economia está crescendo e você tira a moeda, você provoca um curto-circuito. É como se você estivesse provocando um infarto nessa economia. Quem precisar da moeda, não vai ter mais acesso a ela, porque encareceu. Por que fazer isso? Porque tem inflação, mas eu ressalto: ter uma inflação é um sinalzinho de alerta. Cabe tentar entender bem a causa dessa inflação, para você não matar o paciente junto com um remédio tão forte”, pontuou.
Veja no gráfico a transformação de cenário na indústria de 2023 para 2024:
O que significa na prática a mudança de estrutura?
A questão que fica, ao olhar para os números da indústria, é: o que significa, na prática, esse aumento e a transformação de cenário na geração de emprego para a economia da região? Segundo a economista, o efeito é positivo porque, em comparação com o ano passado, as vagas geradas, por conta da alta do setor industrial, possuem uma qualificação melhor, o que eleva o nível de salários.
O estudo do Observatório PUC-Campinas mostra que, em 2023, o vetor de impulsionamento do emprego na Região Metropolitana de Campinas havia sido o de serviços, especialmente os especializados que atendiam demandas de indústrias ou outras empresas.
Este universo, entretanto, apresenta uma “tendência à terceirização”, mantém a média salarial mais baixa e causa uma instabilidade no saldo de postos de trabalho, considerando que os contratos flexíveis têm prazo para se encerrar e as pessoas que foram contratadas são demitidas ao final do acordo.
Já em 2024, com o triplo de vagas na indústria do que as cidades da região tinha no ano passado, além da estabilidade no nível de emprego, já que a maioria destes funcionários é contratada na modalidade CLT, a massa salarial de toda a economia da RMC aumenta porque os cargos que atendem a demanda da indústria exigem maior qualificação – muitas vezes com uso de tecnologia.
Entenda abaixo a pirâmide salarial da região de Campinas no setor de serviços em 2023 e da indústria em 2024, dividido por gênero e faixa etária.
De acordo com a professora, o reflexo é que a demanda fica mais consolidada. Na medida em que a massa salarial cresce, o consumo também aumenta e a indústria acaba impactada positivamente. A partir disso, o setor de serviços também se encaixa na nova dinâmica porque ele vira um fornecedor de mão-de-obra com viés mais qualificado e tecnológico.
“O polo gerador é a atividade industrial. É o setor que gera valor, que gera riqueza, que vai gerar emprego, até dentro do segmento de mercado de trabalho, gera salários maiores. Então, ele dá uma dinâmica mais virtuosa para a atividade econômica que ela vai impactar positivamente os setores de serviços e setores de serviços mais qualificados”, finalizou Eliane.
Indústria na Região de Campinas
Reprodução/EPTV
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