Aço e alumínio importados pelos EUA terão tarifa de 25% a partir de março. Brasil é segundo maior exportador. Alumínio é um dos produtos alvo de tarifas sobre importações do governo Trump
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“A nossa nação precisa que aço e alumínio sejam produzidos nos Estados Unidos, não em terras estrangeiras.”
A afirmação foi feita pelo presidente americano, Donald Trump, ao assinar na segunda-feira (10/2) ordens executivas que impõem tarifa de 25% sobre alumínio e aço a partir de 12 de março.
A medida afeta diretamente o Brasil — que é o segundo maior fornecedor de aço aos Estados Unidos, atrás apenas do Canadá.
A política tarifária de Trump é parte de suas promessas de campanha. Para “tornar a América grande novamente” — seu slogan eleitoral — Trump prometeu aumento de tarifas em diversos produtos importados, para privilegiar as empresas americanas contra a concorrência internacional.
Em menos de um mês no poder, Trump impôs tarifas de 10% sobre todas as importações da China para os EUA. Tarifas contra Canadá e México também foram anunciadas — mas suspensas por um mês enquanto são negociadas.
A guerra comercial travada por Trump tem por objetivo fortalecer as empresas americanas.
Mas economistas e políticos debatem se sua política tarifária pode acabar prejudicando a economia americana — já que parte do aumento das tarifas é pago pelos consumidores.
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Inflação e desemprego
Outra promessa de campanha de Trump foi recuperar a economia dos EUA — que enfrentou períodos de alta inflação no governo de seu antecessor, Joe Biden.
Mas economistas acreditam que tarifas sobre produtos essenciais como aço e alumínio podem gerar ainda mais inflação — pois, em última instância, os consumidores americanos acabam forçados a pagar mais caro pelo aço e o alumínio, já que o custo da tarifa é repassado no preço aos compradores.
A tarifa funciona como um imposto de importação, que incide sobre o produto e é pago em parte pelo consumidor americano.
Ou seja: a promessa de campanha de Trump de mais protecionismo pode prejudicar sua outra promessa de campanha de consertar a economia americana.
Mas o preço da tarifa será mesmo repassado ao consumidor, provocando maior inflação? Isso depende de como as empresas que compram aço nos EUA vão reagir.
Se a empresa americana compradora de aço do exterior decidir absorver o custo da tarifa, ela lucrará menos. Nesse caso, a tarifa não é sentida pelos consumidores, mas pode ter efeitos em outros pontos da indústria. As empresas podem decidir cortar outros custos — ou até empregos — para conseguir absorver o custo da tarifa.
Há ainda outro cenário: a empresa estrangeira que vende os produtos pode decidir reduzir seus preços pelo valor da tarifa para manter seus clientes nos EUA. Nesse caso, isso pode significar lucros menores para os negócios no exterior.
De qualquer forma, uma coisa é clara: os EUA dependem do aço e alumínio de países como o Brasil, Canadá e México.
Se as siderúrgicas americanas fossem capazes de produzir completamente o aço e alumínio consumido nos EUA, o impacto das tarifas ao consumidor poderia ser minimizado, já que os EUA simplesmente parariam de importar os produtos, substituindo-os por nacionais.
Mas os EUA não têm essa capacidade. Um estudo do banco Morgan Stanley sugere que pode levar três ou mais anos para a indústria siderúrgica americana construir novas fábricas e expandir sua produção.
Portanto quaisquer tarifas de importação neste momento provavelmente levarão a preços mais altos aos consumidores americanos.
EUA não têm capacidade de produzir todo o aço consumido no país e dependem de importações
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Os americanos são grandes importadores mundiais de aço, e compram do resto do mundo quase 25% do aço que consomem, segundo dados do Instituto Americano de Ferro e Aço. No caso do alumínio, a dependência do exterior é ainda maior.
Aço e alumínio são usados em diversos produtos industriais, e também são essenciais para a construção civil.
Duas entidades fizeram alertas sobre o impacto negativo das tarifas na economia americana.
O Cato Institute, um think tank libertário baseado em Washington e financiado por grandes industriais, disse esta semana que “proteger a siderurgia americana pode ser uma jogada política boa, mas é uma receita para perdas significativas para a economia americana, especialmente para a indústria”.
O instituto cita alguns estudos que mostram que há impacto negativo, como o aumento de US$ 4,57 bilhões em custos para a economia e a perda de 75 mil empregos na indústria — como resultado de aço e alumínio importados mais caros por causa das tarifas.
O Cato Institute também alerta que tarifas mais altas fazem com que os próprios produtores nacionais de aço e alumínio aumentem seus preços — aproveitando-se do fato de que poderão ter margens maiores de lucro diante dos importados mais caros.
“Quando a administração Trump ameaçou impor tarifas generalizadas ao México e ao Canadá, que representavam cerca de 35 por cento de todas as importações de aço dos EUA em 2024, os produtores nacionais de aço responderam aumentando os seus preços”, afirma o instituto.
Outra entidade que critica a política de Trump é a Tax Foundation, um think tank baseado em Washington voltado para a política tributária americana.
A Tax Foundation lembra que muitas tarifas contra importados foram criadas no primeiro governo Trump e mantidas por Biden. Para a fundação, o conjunto de tarifas reduzirão no longo prazo o PIB americano em 0,2%, com perda de 142 mil postos de emprego.
“Evidências históricas e estudos recentes mostram que tarifas são impostos que aumentam os preços e reduzem as quantidades disponíveis de bens e serviços para empresas e consumidores dos EUA, o que resulta em menor renda, redução de empregos e menor produção econômica”, diz a Tax Foundation.
A Tax Foundation diz que tarifas impostas pelo governo de George W. Bush em 2002 ao aço importado provocaram o fechamento de 200 mil vagas nas indústrias que compram aço. Esse número de empregos, segundo a entidade, é maior do que todos os empregos do setor siderúrgico da época.
Há estudos que dizem que as tarifas que Trump aplicou em sua primeira administração, além de afetar empresas estrangeiras, também prejudicaram as empresas locais e os próprios consumidores americanos.
Famílias acabaram tendo que pagar preços mais altos. E a arrecadação de impostos resultante da imposição de tarifas foi muito baixa em comparação com o que o governo arrecada por meio de impostos individuais e corporativos.
Um exemplo disso é o caso do imposto sobre máquinas de lavar estrangeiras que Trump aplicou em 2018 durante seu primeiro mandato.
Um estudo realizado por três economistas concluiu que o preço das máquinas de lavar nos Estados Unidos subiu 12% como efeito direto dessa tarifa.
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Mas há grupos que dizem o contrário: que tarifas podem beneficiar a economia americana.
É o caso da Coalizão para uma América Próspera (CPA), uma organização sem fins lucrativos que representa setores da indústria americana, que elogiou Trump na segunda-feira.
“A decisão do presidente Trump de implementar tarifas globais é um passo fundamental para restaurar a estabilidade da indústria americana, salvaguardando a produção doméstica e garantindo que esses setores críticos não sejam prejudicados por um aumento nas importações”, disse Zach Mottl, diretor da CPA.
“A única maneira de reconstruir a capacidade industrial doméstica é por meio de políticas comerciais fortes e executáveis, e essas tarifas são um grande passo na direção certa.”
A entidade acusa o México de “inundar o mercado americano” com aço e alumínio, violando um acordo de 2019 em que o país se comprometia a manter exportações para os EUA nos níveis de 2015 a 2017. Segundo a CPA, o México vinha ignorando o acordo, exportando mais de 400% acima do limite permitido para alguns produtos.
“Esta decisão [de Trump] envia uma mensagem clara de que os dias de países estrangeiros explorando o mercado dos EUA às custas de produtores e trabalhadores americanos acabaram”, disse Jon Toomey, presidente da CPA.
“Nossos membros e os trabalhadores americanos que eles empregam já foram diretamente prejudicados pelo aumento das importações de aço e alumínio. O presidente Trump está colocando a indústria americana em primeiro lugar, e a CPA apoia firmemente esta ação.”
Retaliações
Até o momento o Brasil ainda não respondeu como reagirá às tarifas anunciadas por Trump contra o aço e o alumínio importados. O Brasil é o segundo país que mais exportou aço para os EUA, atrás apenas do Canadá.
Aço importado pelos EUA
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O próprio Brasil também pratica protecionismo no setor do aço. Em outubro, após mais de um ano de análise, a Câmara de Comércio Exterior (Camex) elevou para 25% o imposto de importação para 11 tipos de produtos de ferro e de aço. Antes disso, esses produtos pagavam de 10,8% a 14% para entrarem no país.
O pedido foi feito pelo Sindicato Nacional da Indústria de Trefilação e Laminação de Metais Ferrosos (Sicetel) que acusava “concorrência desleal dos produtos importados”.
Alguns países vêm reagindo com retaliações.
A China reagiu a Trump com tarifas sobre carvão, gás natural, petróleo, máquinas agrícolas, caminhonetes e alguns carros de luxo.
No caso do alumínio e aço, União Europeia e Canadá também prometeram reações.
Mas, no Reino Unido, o governo do primeiro-ministro Keir Starmer não pretende retaliar imediatamente.
Segundo o diretor do Instituto de Assuntos Econômicos do Reino Unido, Tom Clougherty, tarifas retaliatórias afetam negativamente consumidores locais — mais do que atingir o país alvo das medidas.
“Tarifas são um imposto sobre consumidores domésticos. Com o custo de vida alto e o crescimento lento, elas são a última coisa de que o Reino Unido precisa agora”, diz Clogherty.
“Essa lógica não muda só porque outros países impõem tarifas sobre a importação de seus produtos. Tarifas retaliatórias simplesmente aumentam a dor. O governo deve prestar pouca atenção ao que outros países fazem em resposta ao protecionismo dos EUA.”