9 de janeiro de 2025

Comum no Nordeste, beija-flor-vermelho é flagrado em quintal em São Carlos, SP


Registro é considerado o primeiro arquivo fotográfico da espécie no município a ser compartilhado na plataforma WikiAves. Beija-flor-vermelho foi visto em jardim em São Carlos em dezembro
Alexandre Giampietro
O frenesi de beija-flores voando diariamente pelo quintal em São Carlos (SP) é algo comum na vida do cartorário Alexandre Mazzo Giampietro. Todos os dias, espécies como o beija-flor-de-veste-preta, bico-reto-de-banda-branca, besourinho-de-bico-vermelho, beija-flor-tesoura e beija-flor-de-peito-azul, por exemplo, enchem de brilho e vida o jardim da casa onde mora.
Há pelo menos 40 anos a família dele se dedica a ofertar água com açúcar em bebedouros específicos para essas aves e, ao longo dessas décadas, passaram a receber cada vez mais a presença dos colibris em casa. “Eles estão aqui o tempo inteiro, não tem um segundo que não tenha beija-flor aqui”, comenta.
Mas recentemente o quintal recebeu a visita de uma espécie ilustre, o beija-flor-vermelho (Chrysolampis mosquitus). O macho possui um colorido único, que varia de tons de amarelo brilhante, na região do pescoço, ao vermelho, no topo da cabeça – por isso o nome popular. Em voo ou eriçado, esse beija-flor também chama atenção, por causa da cauda alaranjada.
Cauda alaranjada de beija-flor foi uma das coisas que chamou atenção do observador
Alexandre Giampietro
Devido a essas tonalidades, ao observar essa ave em meio às outras, Alexandre percebeu que se tratava de uma espécie diferente das que estava acostumado a encontrar ali.
Em um primeiro momento achou que poderia ser um beija-flor-de-veste-preta diferente, mas percebeu que era uma ave menor, e o colorido também intrigou. Então, pensou que realmente era o beija-flor-vermelho que estava a sua frente, mas desacreditou da ideia por saber que esta não é uma área “natural” para a espécie.
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Após a ave pousar, ele pôde confirmar que estava certo e logo sentiu a emoção de observar uma nova espécie em casa. “Eu achei incrível e pensei assim ‘puxa vida que privilégio ter esse beija-flor aqui’, eu não esperava, foi uma surpresa grande mesmo, não tem como explicar, ele poderia ter aparecido em qualquer outro lugar, mas apareceu aqui, talvez para vê-lo mesmo e foi incrível isso ter acontecido”, acrescenta.
O novo visitante do pedaço se mostrou tranquilo no local, porém ainda arisco, e por isso Alexandre teve dificuldade para registrá-lo. Com paciência e persistência, ele conseguiu garantir alguns cliques da ave pousada. As fotos, feitas com celular, foram compartilhadas nas redes sociais dele e também na plataforma utilizada por observadores de aves de todo o Brasil, o WikiAves.
Registros do beija-flor-vermelho foram os primeiros do município compartilhado no WikiAves
Alexandre Giampietro
Ao publicar o registro nesse site, Alexandre teve outra surpresa, as fotos do beija-flor-vermelho que fez no quintal de casa, foram as primeiras fotos da espécie compartilhada para o município de São Carlos (SP).
“Eu achei pelo fato dele não ser comum aqui na região, uma aparição dessas é como ganhar na loteria, é uma vez na vida e outra na morte, então eu não poderia perder essa oportunidade de compartilhar, esse passarinho veio aqui por alguma razão. É importante mostrar que esse beija-flor veio até aqui, e a vegetação aqui é diferente, não é o habitat que ele está acostumado. Mas a aparição dele na minha casa foi um presente pra mim.”, comenta Alexandre.
O beija-flor-vermelho tem ampla distribuição no norte da América do Sul, e no Brasil ocorre principalmente no Nordeste. Embora a espécie não seja mencionada em nenhuma lista de aves migratórias do nosso país, a presença esporádica em locais como Chapada Diamantina, onde é avistado no começo do ano, e a ocorrência de indivíduos em áreas distantes da distribuição da espécie, como por exemplo, no leste da Argentina, mostram que a espécie realiza movimentos migratórios que ainda são pouco conhecidos pelos ornitólogos.
Jardim em São Carlos recebe a visita diária de beija-flores
Alexandre Giampietro
O avistamento desse beija-flor no quintal do Alexandre pode estar relacionado ao fato da ave fazer esses deslocamentos. E a ave pode ter sido atraída para o local, justamente por notar a presença de outros beija-flores naquela área. Ao todo, o visitante permaneceu no jardim por 20 dias. Se ele irá aparecer novamente no próximo ano é um mistério, mas o fato é que a visita trouxe muita alegria.
“Minha experiência comprovou que valeu a pena tudo o que eu fiz até agora, esses anos todos nos dedicando ao cuidado dos beija-flores, valeu a pena, está valendo a pena e vai continuar valendo a pena, porque assim como apareceu o beija-flor-vermelho, eu acredito que em algum outro momento outra espécie diferente pode aparecer”, finaliza.
Família distribui mais de 70 bebedouros para beija-flores no jardim
Alexandre Giampietro
Dedicação
Ao longo de 44 anos, a família do Alexandre se dedica diariamente a colocar, trocar e higienizar os bebedouros em que ofertam água com açúcar para os beija-flores.
São mais de 70 unidades que eles distribuem pelo jardim. Para eles, o segredo em receberem a visita de tantas espécies está justamente nesse cuidado diário e na persistência. A demanda com os beija-flores passou a ser um comprometimento familiar constante. Diariamente, a família utiliza 10 kg de açúcar com as aves, devido à alta quantidade de visitantes.
Beija-flores e outras aves
Além das espécies de beija-flores que aparecem diariamente no quintal, já foram flagrados o rabo-branco-acanelado, beija-flor-de-fronte-violeta, beija-flor-cinza, beija-flor-dourado, beija-flor-de-orelha violeta. Também passam pelo jardim outras aves como sanhaço-cinzento, sanhaço-do-coqueiro, saí-azul, saíra-amarela, encontro e pardais.
Poucos registros no estado
De acordo com a plataforma WikiAves são poucos os registros do beija-flor-vermelho para o estado de São Paulo. Além do flagrante feito em São Carlos, os avistamentos dessa espécie foram realizados nas cidades de Caconde, Ilha Solteira, Jaguariúna, Monte Alegre do Sul, Monte Castelo, Ubatuba e Rubinéia.
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