24 de setembro de 2024

Conheça ala de hospital psiquiátrico que virou espaço para casamentos e festas em Campinas: ‘Lindo significado’

Casarão do Serviço de Saúde Dr. Cândido Ferreira, em Campinas (SP), foi ‘repaginado’ após reforma psiquiátrica para se tornar abrigo de boas memórias, sem deixar que identidade seja esquecida. Hospital psiquiátrico ‘repaginado’ vira espaço de eventos no interior de SP
Quem vê o Casarão Cândido, em Campinas (SP), não imagina que o local que hoje abriga eventos sociais já foi chamado de “Hospício para Dementes Pobres do Arraial de Sousas”. Assim como a abordagem médica da instituição foi repensada, o antigo espaço de internação também não ficou parado no tempo.
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Inaugurado em 14 de abril de 1924 e destinado ao tratamento de pacientes com transtornos mentais, o Serviço de Saúde Dr. Cândido Ferreira passou por reformulações profundas a partir da década de 90, sendo pioneiro na desospitalização de pacientes pós-reforma psiquiátrica no país.
Agora, o casarão centenário virou cenário de casamentos, festas, feiras e eventos corporativos, e todas as locações têm o dinheiro arrecadado revertido para as iniciativas de cuidado mental conduzidas pelo serviço de saúde na metrópole.
🧠 Até domingo (14), data que marca o aniversário de 100 anos do Serviço de Saúde Dr. Cândido Ferreira, o g1 publica a série de reportagens “Eu sou um louco”, que aborda a trajetória da loucura e a humanização das intervenções em saúde mental após a reforma psiquiátrica no Brasil.
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Mathews Vichr e Giulia Patitucci falaram ‘sim’ no Casarão Cândido Ferreira
Zé Neto Fotografia
Primeiro casal a dizer ‘sim’
👰‍🤵 Os arquitetos Mathews Vichr e Giulia Patitucci escolheram o Casarão para realizar a festa de casamento, em 3 de julho de 2023. Eles foram os primeiros a fazer a cerimônia de casamento no edifício, e dizem ter uma ligação especial com a história e as transformações do Cândido.
Giulia relata que nasceu e morou por muitos anos na capital paulista, onde também conheceu o marido. Sempre que visitavam Campinas, cidade natal de Mathews, ambos costumavam almoçar com a família no restaurante que funciona dentro do Cândido Ferreira.
Com as visitas, o casal passou a conhecer mais da história do antigo hospital psiquiátrico e desenvolveu um carinho especial devido à identificação com o trabalho feito com pessoas em situação de vulnerabilidade social e a luta antimanicomial.
“A mãe do Mathews, que mora ali do lado [do Casarão] falou: ‘gente, porque vocês não casam no Cândido?’. Foi ela que deu a ideia, ela que foi atrás e foi perguntar sobre o custo e se dava para fazer. A gente até procurou outros lugares, mas eram todos mais caros. E aí, pensamos que fazia muito sentido se casar ali [no Casarão], e foi assim que a gente decidiu”, conta.
Mathews Vichr e Giulia Patitucci foram os primeiros a realizar a cerimônia de casamento no Casarão
Zé Neto Fotografia
Vínculo emocional
Entre as razões principais para a escolha, há um vínculo emocional adicional: a madrinha de Mathews foi assistente social no Cândido Ferreira entre 1977 e 1989, conferindo um significado ainda mais especial ao local.
“A minha madrinha faleceu antes do casamento, e várias pessoas durante a organização do casamento se lembraram dela e do trabalho dela”, conta Mathews.
🏠 Se tratando de arquitetos, o paisagismo do local também foi importante para a escolha do casal. O casarão fica dentro de uma fazenda, cercado de natureza, e as paredes e alas contam histórias – o que é o mais importante para Mathews.
“É um espaço vivo. E ele é lindo: o paisagismo, a natureza, o casarão. E é lindo o significado que ele carrega”.
Casarão Cândido transforma a própria história e passa a ser espaço para casamentos
Gabriella Ramos/g1
E os convidados?
Apesar da conexão pessoal do casal com o Casarão, a maioria dos convidados não conhecia a história do local. No entanto, Giulia e Mathews fizeram questão de compartilhar com todos a transformação do Cândido, desde o que era no passado até o que se tornou hoje.
“Em nenhum momento nós ficamos com a sensação de que era um lugar pesado. Não, realmente é ressignificar o lugar, e não apagar a memória”, explica Giulia.
Além de disponibilizar o espaço, toda a comida servida durante a festa foi preparada nas oficinas do Cândido Ferreira.
Primeiro casal a celebrar casamento no Casarão não escondeu o passado do prédio dos convidados
Zé Neto Fotografia
*Estagiária sob supervisão de Gabriella Ramos.
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