A Botrytis cinérea apodrece as uvas, mas o resultado são grandes rótulos de sobremesa. Há mofos que vieram para o bem: baste pensar na penicilina ou nas bactérias que nos presenteiam com queijos maravilhosos como gorgonzola e camembert. O mundo dos vinhos também é beneficiado por um fungo dos bons, chamado Botrytis cinérea.
Conhecida popularmente como podridão nobre, a Botrytis cinérea ataca os vinhedos em áreas úmidas e quentes e, apesar de ser um problema para uvas tintas, transforma completamente as uvas brancas acrescentando aromas de mel, damasco, gengibre, marmelada e camomila a vinhos doces.
A denominação de Sauternes, nos arredores de Bordeaux, é a região mais renomada pela produção de vinhos brancos doces turbinados pelo fungo benigno. Quando as condições climáticas são perfeitas, o bolor ataca a casca, penetra nos bagos e age concentrando açúcares e sabores, o que vai dar origem a rótulos complexos.
Não se sabe ao certo quando foi criado esse estilo de vinho, mas tudo indica que, como em muitos outros casos da evolução humana, tenha nascido por um acaso, a partir de algum lote de uva que apodreceu sem querer.
Atualmente, os melhores Sauternes não são apenas vinhos de sobremesa, mas apresentam um raro equilíbrio entre doçura, acidez, corpo e álcool. A Sémillon é a uva mais usada para produzir esses rótulos e, em menor medida, também a Sauvignon Blanc.
Um dos grandes produtores de vinhos botritizados de Bordeaux é a vinícola Denis Dubourdieu, hoje comandada por Jean Jacques Dubourdieu, filho de Denis, enólogo que até seu falecimento em 2016 era considerado o “Papa” dos vinhos brancos da região.
A empresa comercializa no Brasil três rótulos de sobremesa, trazidos ao país pela importadora Porto a Porto. Conheça a seguir:
Château Doisy Daëne Sauternes
Château Doisy Daëne Sauternes
Apresenta aromas de frutas, mel e minerais concentrados pela botrytis cinerea. No paladar, é doce, elegante, puro e equilibrado, combinando fruta e força com uma juventude infinita.
A fermentação alcoólica ocorre em barricas de carvalho onde permanece em amadurecimento por 10 meses. O vinho é transferido para tanques de aço inox e estagia 9 meses antes do seu engarrafamento. Engarrafamento na propriedade.
Harmoniza com foie gras e crème brûleé.
L’Extravagant de Doisy-Daëne Sauternes
L’Extravagant de Doisy-Daëne Sauternes
Elaborado apenas em anos especiais, a safra 2010 foi agraciada com 97 pontos pela prestigiada revista Wine Spectator. “Como os cachos de Sauvignon Blanc são mais compactos do que os de Sémillon, Dubourdieu espera até que um cacho inteiro seja afetado pela botrítis, em vez de fazer várias passagens pelo vinhedo (chamadas tris) para selecionar porções do Sémillon de formato mais solto”, escreve a publicação que destaca notas elegantes e firmes de limão cristalizado, caqui, figo e quinino. “Apenas chamá-lo de ‘longo’ não faz justiça”, complementa a revista.
A fermentação alcoólica ocorre em barricas de carvalho onde permanece em amadurecimento por 18 meses. Os vinhos em barris estagiam em ambiente climatizado. É um rótulo mis en bouteille au château, isto é, engarrafado na propriedade.
Harmoniza com foie gras, crème brûlée, queijo roquefort e tortas de frutas secas.
Château Cantegril Sauternes
Château Cantegril Sauternes
Apresenta uma explosão de aromas de frutas e mel, com toques minerais. Em boca, é doce, elegante e equilibrado. A fermentação alcoólica ocorre em barricas de carvalho novas e, posteriormente, a bebida amadurece por 9 meses também em carvalho.
Harmoniza com foie gras e crême brûlée.