23 de setembro de 2024

Conheça sistema antigranizo que protege cultivo de maçã em SC

Objetivo é diminuir ou até mesmo eliminar pedras de gelo antes que elas atinjam plantações. Fotos mostram sistema antigranizo no Oeste de Santa Catarina
Treze municípios do Oeste de Santa Catarina contam com uma tecnologia para ajudar no cultivo da maçã. Um sistema antigranizo, que usa iodeto de prata, diminui de tamanho ou até elimina as pedras de gelo antes que elas atinjam as plantações.
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Santa Catarina é o estado com maior produção nacional de maçãs. O cultivo no estado corresponde a 54,6% de toda a produção nacional, conforme a Secretaria de Estado da Agricultura e Pecuária.
Por ano, são cultivadas em Santa Catarina 572,4 mil toneladas de maçã.
Como funciona
Para o granizo se formar, a gota passa por um núcleo de condensação dentro da nuvem (veja explicação mais detalhada abaixo). Essas gotas crescem e congelam.
Com a queima do iodeto de prata, ele sobe para atmosfera e forma mais núcleos de condensação. “Em vez de ter um granizo grande, vai ter um monte de pequenininhos. Na queda [chuva], vão dissolver, vão cair ou como granizo pequeno ou como água supergelada”, explicou o meteorologista da AGF Antigranizo Fraiburgo João Rolim.
A queima do iodeto de prata é feita por um gerador. Para saber quando ligar o equipamento, é preciso monitorar o tempo através do radar, que é privado. “É um radar analógico. É igual ao da Defesa Civil, mas o da Defesa Civil é digital”, disse Rolim.
Queima de iodeto ocorre na chaminé (estrutura escura à esquerda na foto)
AGF Antigranizo Fraiburgo Ltda/Divulgação
Se o tempo estiver propício para a formação do granizo, o gerador é ligado. “Cada gerador abrange um raio de cinco quilômetros”, declarou o meteorologista. Há 160 equipamentos desse tipo para atender aos 13 municípios.
Os geradores são usados mais na primavera e verão, época em que há mais granizo em Santa Catarina. Essa parte do ano também é importante para o cultivo da maçã.
“A primavera é a época da florada. No verão, há a colheita, até março”, resumiu Rolim.
Os 13 municípios que usam a tecnologia são:
Caçador
Calmon
Lebon Régis
Macieira
Matos Costa
Rio das Antas
Timbó Grande
Fraiburgo
Videira
Tangará
Pinheiro Preto
Campos Novos
Monte Carlo
Há um convênio entre a Secretaria de Estado da Agricultura e Pecuária e 11 desses municípios (com exceção de Campos Novos e Monte Carlo) para a utilização desse sistema antigranizo. O total de recursos repassados em 2023 foi de aproximadamente R$ 1,2 milhão.
Os recursos são utilizados para a instalação e operacionalização desse sistema. A secretaria informou que, para este ano, está em processo de viabilização o repasse dos recursos, que deve ser superior ao do ano passado.
Sobre o iodeto de prata, o professor de ecologia e oceanografia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Paulo Horta disse que há estudos que relatam impactos do composto sobre a biodiversidade. “É ver a questão da dose”, declarou. Ele também destacou que o uso do iodeto de prata na atmosfera está em debate no parlamento europeu.
Como tudo começou
João Rolim relatou que o granizo já era uma preocupação para os agricultores que investiam na fruta na década de 1980.
“Produtores de maçã da região de Fraiburgo em 1989 criaram uma associação. Em Mendonza, na Argentina, havia um sistema de granizo com foguete. Foram até lá, pesquisaram e trouxeram isso para Fraiburgo”, declarou.
Segundo ele, foi construída uma infraestrutura com radar, contratados meteorologistas e trazida uma equipe da Rússia para treinar o pessoal. Esse sistema foi usado até 1995, quando os foguetes começaram a ficar muito caros.
Radar meteorológico, usado para prever a queda de granizo
AGF Antigranizo Fraiburgo Ltda/Divulgação
Representantes da associação foram até a Rússia para discutir preços. Uma parada na viagem de volta mudou tudo.
“Tínhamos um agrônomo que tinha um pomar na França. Lá, eles usam um gerador com iodeto de prata desde 1951. Ele viu como funcionava e trouxemos para o Brasil”, relatou Rolim.
Como se forma o granizo
A Defesa Civil de Santa Catarina explicou mais detalhadamente a formação do granizo. Trata-se de um tipo de precipitação onde a chuva cai na forma de pedras de gelo. Ele se forma dentro de nuvens de tempestade, as cumulonimbus, que apresentam grande desenvolvimento vertical.
Por isso, as gotículas de chuva congelam ao entrar em contato com temperaturas muito baixas ao longo da troposfera (primeira camada da atmosfera, onde ocorrem os fenômenos meteorológicos).
O tamanho e a característica física do granizo se dão por vários fatores, sendo o principal deles as turbulências geradas dentro das nuvens pela intensa corrente ascendente (que leva a parcela do ar da superfície até dentro da nuvem) e descendente (corrente de ventos que desce de dentro da nuvem em direção à superfície).
Além disso, as diferenças de temperatura ao longo do perfil vertical da atmosfera e o choque físico entre essas partículas dentro da nuvem são responsáveis por moldar as características das pedras de granizo.
Infográfico mostra como se forma o granizo
Ben Ami Scopinho/NSC
Em Santa Catarina, a maior frequência de precipitações de granizo ocorre entre a primavera e verão, associadas à tempestades geradas pela combinação de calor, umidade, baixas pressões e frentes frias.
Em outras épocas do ano, o fenômeno também é observado, mas com menor frequência e normalmente associados a temporais que se formam durante a passagem de frentes frias.
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