28 de dezembro de 2024

Contador de deputado ganha R$ 20 milhões sem licitação na Fundação Saúde

O deputado estadual Carlinhos BNH, do Progressistas, é um dos mais fiéis aliados do ex-secretário estadual de Saúde, o deputado federal Doutor Luizinho, do mesmo partido. Duas empresas que tem mesmo endereço e contador são ligadas a políticos
Na série de reportagens sobre empresas contratadas pela Fundação Saúde com métodos pouco transparentes, o RJ2 contou nesta quarta-feira (30) a história de duas empresas ligadas pelo mesmo endereço e pelo mesmo contador. Uma pertence a um deputado estadual aliado do ex-secretário de Saúde doutor Luizinho. A outra, controlada pelo contador do deputado, recebeu R$ 20 milhões da Fundação Saúde sem licitação.
O deputado estadual Carlinhos BNH, do Progressistas, é um dos mais fiéis aliados do ex-secretário estadual de Saúde, o deputado federal Doutor Luizinho, do mesmo partido.
Uma empresa de alguém que Carlinhos BNH considera da família já ganhou R$ 20 milhões da Fundação Saúde, sem jamais ter vencido uma licitação: a RVC Garra Patrimonial, que presta serviços administrativos e de apoio em unidades de saúde estaduais.
Uma delas é a UPA da Penha, onde atualmente tem faltado até o básico. Uma receita da semana passada, assinada por um médico da unidade, registra que não há insumos para aplicar soro.
Se há escassez para pacientes da unidade, também há fartura de pagamentos considerados inadequados pelo Tribunal de Contas do Estado.
Dos R$ 20 milhões que a RVC recebeu da Fundação Saúde, R$ 5 milhões foram pagos em termos de ajuste de contas (TACs) – indenizações, sem nenhum tipo de concorrência, nem um contrato sequer.
A RVC é representada por Paulo Figueiredo, contador do deputado Carlinhos BNH, e já funcionou no mesmo endereço onde, atualmente, funciona a empresa do parlamentar, a CS Forte Serviços Patrimoniais.
As duas empresas, aliás, prestam o mesmo serviço. Atualmente, não há ninguém no endereço, só um aviso na porta: “Proibido entrar sem camisa”.
Foi o contador do deputado que abriu as duas empresas. Uma foto de um banner antigo mostra o endereço da RVC, o mesmo da CS Forte: Rua Philomeno Coelho, em Santa Rita, Nova Iguaçu.
Um documento mais recente mostra que, até pouco tempo atrás, a própria RVC declarava ao governo federal ainda funcionar no endereço, onde, na verdade, está registrada a empresa de Carlinhos BNH.
O RJ2 foi até o atual endereço da Garra. Neste dia, por volta das 16h10, ninguém abriu a porta.
Se as histórias das duas empresas se cruzam, não é diferente com as histórias de seus representantes. Os dois dividem a tarefa de fazer campanha, nas redes sociais, para Doutor Luizinho.
A relação do empresário e do deputado estadual vem de longa data. Carlinhos BNH começou na política como vereador em Nova Iguaçu. Na época, Paulo Figueiredo tornou-se assessor parlamentar na Câmara Municipal.
Quando BNH se elegeu deputado, em 2022, Paulo Figueiredo o acompanhou: passou a dar expediente num setor burocrático da Assembleia Legislativa (Alerj).
Atualmente, a esposa do contador, Laura Gottgtroy, está nomeada no gabinete de BNH.
A RVC Garra Patrimonial é uma empresa de segurança e começou a operar em 2014, quando quem era segurança era o próprio Carlinhos BNH.
Hoje deputado, o então policial militar era guarda-costas e motorista do secretário municipal de Saúde de Nova Iguaçu da época, Doutor Luizinho, que lançou o afilhado no mundo político. Foi na mesma cidade da Baixada Fluminense que a empresa de seu contador nasceu e prosperou.
O contador Paulo Figueiredo é irmão de Lucia Helena Figueiredo, que figura como sócia da RVC.
O que dizem os citados
O deputado Carlinhos BNH disse que não possui relação societária ou comercial com a RYC Garra Patrimonial e que cabe à Fundação Saúde fiscalizar as empresas que ela contrata. Sobre a funcionária nomeada no gabinete, o deptado disse que ela é qualificada para exercer as funções.
Doutor Luizinho disse que desconhece a empresa e reitera não ter qualquer responsabilidade sobre as contratações da Fundação Saúde.
A TYC Garra informou que possui contrato com a Fundação Saúde tanto emergencial como licitatório e que os pagamentos são de serviços prestados nas unidades de saúde.-
A Fundação Saúde disse que a empresa será substituída por meio de processo eletrônico, que já foi realizado e está em fase de análise de documentos.
Sobre a UPA Penha, a direção informou que a unidade não tem problemas de funcionamento.
O RJ2 não conseguiu contato com os outros citados na reportagem.
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