No Distrito Federal e no Paraná – estado em que o projeto foi implantado pelo atual secretário da Educação, Renato Feder, – estudantes participam de cerimônia de hasteamento da bandeira diariamente. Além disso, cabelos coloridos, unhas grandes e alargadores são proibidos. Escola cívico-militar
Ascom
Calças no modelo “destroyed” (com rasgos), “croppeds” (blusas que deixam a barriga à mostra), bem como piercings e cabelos moicanos, para os meninos, são proibidos nas escolas cívico-militares. Já o hasteamento da bandeira brasileira e os uniformes são obrigatórios na rotina.
Na última semana, o governador Tarcíscio de Freitas (Republicanos) sancionou o projeto de lei que prevê a implementação de colégios cívico-militares nas redes públicas do estado de São Paulo.
A proposta, de sua autoria, havia sido aprovada na Assembleia Legislativa do Estado (Alesp), em uma sessão marcada pela agressão e detenção de estudantes que protestavam contra a votação.
O texto, apesar de dar o parecer geral de como serão os colégios – com o conteúdo de sala de aula administrado por uma equipe pedagógica e a disciplina de responsabilidade de um agente militar -, não é objetivo quanto às normas e diretrizes aos quais os estudantes serão submetidos no dia a dia.
Modelos similares já foram implementados em outros estados, como no Paraná (PR), em Minas Gerais (MG) e no Distrito Federal (DF).
No Paraná, durante a idealização do projeto em 2019, o secretário da Educação era Renato Feder, que hoje coordena a pasta em SP.
Para traçar uma rotina de uma escola cívico-militar, o g1 usou os manuais do Paraná e do Distrito Federal.
Nesta reportagem, você vai ler:
Hasteamento da bandeira e hino nacional
Uniforme e farda
Apresentação do aluno
Horários
Comando
Durante a aula, celulares ficam desligados e guardados
O que não pode fazer dentro (e fora) do colégio
O comportamento é medido por pontuação
Perfil no TikTok mostra a realidade
Hasteamento da bandeira e hino nacional
Diariamente, antes do início das aulas, os estudantes participam da cerimônia de hasteamento da bandeira, apresentação do hino nacional e de formação filas para verificação do uso correto do uniforme e para a replicação de anúncios do dia. Esse momento, chamado de formatura, é de responsabilidade dos monitores – funcionários das forças militares (no caso de São Paulo, eles serão policiais militares).
No documento em que lista as diretrizes das escolas cívico militares no Paraná, a atividade é justificada como “oportunidades para que os alunos pratiquem no dia a dia a rotina do treinamento Cívico-Militar realizado pelos monitores militares estaduais na instituição de ensino que incentivam o patriotismo e o culto aos símbolos nacionais”.
Uniforme e farda
Farda do uniforme dos colégios cívico-militares do Paraná
Reprodução/SEED PR
No Paraná, de acordo com o documento, durante os dias letivos normais e nas formaturas internas e externas, os estudantes devem usar o uniforme que é composto por uma farda de calça azul-marinho, camisa social de manga curta e uma boina, semelhante a de um militar. A roupa também conta com uma jaqueta para os dias frios.
Quando os estudantes tiverem aula de educação física, porém, o uniforme do dia passa a ser outro, formado por uma camiseta branca e uma calça azul-marinho, parecido com os comuns.
O documento recomenda que os alunos coloquem a camiseta branca dentro das calças. Bermudas são permitidas em caso de calor extremo – há uma específica recomendação para meninas utilizaram calças.
Unifrome para dias de educação física nas escolas cívico-militares do Paraná
Reprodução/SEED PR
De acordo com o manual do aluno dos colégios cívico militares do DF, o uso do uniforme composto por uma camiseta e uma calça ou bermuda – nos dias de educação física – é obrigatório. Contudo, outros artigos como os tênis e meias também devem seguir um padrão, sendo, de preferência, pretos.
Uniforme de colégios cívico-militares do DF
Reprodução/SEEDF
O cinto e sapatos, que devem ser providenciados pelos responsáveis pelo estudante, têm que ser da cor preta, assim como no Distrito Federal.
Outro acessórios usados no frio, como gorros, cachecóis e luvas também estão dentro das normas, desde que sejam “discretos” – pretos ou azul-marinho e sem desenhos ou estampas.
Ainda no documento referente ao estado do PR, também é dado como mandatório o uso de biribas – tarjas de identificação parecidas com as usadas pelos agentes das forças militares. As informações obrigatórias são: nome do colégio e nome do aluno, podendo ser um apelido em caso de homônimos. Ainda é recomendado que a informação do tipo sanguíneo esteja visível apra casos de acidente.
O texto explica, ainda, que durante o período que o aluno não tiver recebido o uniforme, ele poderá ir ao colégio vestindo calça jeans preta ou azul-marinho, camiseta branca e agasalhos.
Tanto no DF como no PR, a presença do aluno sem uniforme não o impede de assistir às aulas, mas há a recomendação dos pais comunicarem a direção do colégio e, se o problema perssistir, a escola podem tomar ações.
Apresentação do aluno
Tanto no DF quando no Paraná, os alunos devem manter padrões de apresentação. Os cabelos dos meninos devem ser curtos (as normas do DF afirmam que no caso de cabelos crespos, essas normas poderão ser flexibilixadas. Não há esta distinção no documento do PR).
As meninas podem escolher entre cabelos curtos ou longos. Se optarem por deixá-los longos, eles devem estar presos em coques, rabos do cavalo ou tranças.
As especificações ainda vão além, cabelos coloridos, com tons que não pareçam naturais, são proibidos, assim com piercing e brincos (no caso dos meninos, as meninas podem usar o acessório caso seja pequeno e não ultrapasse o lóbulo da orelha). Moicanos e “cortes com desenhos ou marcações à maquina” são proibidos no DF.
As unhas dos alunos também devem permanecer aparadas, rentes ao fim do dedo e as meninas podem pintá-las apenas com cores claras.
“A apresentação individual é um dos pontos considerados de grande importância dentro do Programa Colégio Cívico-Militar do Paraná. Engloba o uso de uniforme e está inserido nos aspectos educacionais relacionados com a higiene, boa aparência, sociabilidade, postura, dentre outros. Deste modo, o estudante e sua família, devem entender que a apresentação individual leva consigo a sua própria imagem e o nome do Colégio que integra e apresentá-la à altura de suas tradições é uma honra e um dever”, aponta o Manual dos Colégios Cívico-Militares do Paraná.
Horário
Segundo o manual do Paraná, a pontualidade “deve ser um valor constantemente buscado” nos colégios cívico-militares e o aluno deve chegar ao colégio antes da cerimônia de formatura. Em caso de atraso, os pais ou responsáveis pelo estudante devem comunicar o motivo para a direção da escola.
Segundo o documento do DF, os alunos que se atrasarem são sujeitos a medidas disciplinares.
Comandos
No DF, o manual do aluno apresenta uma série de comandos – similares aos das forças militares – que os estudantes precisam decorar e que poderão ser acionados pelos monitores militares por questões de disciplina. São eles:
Sentido: aluno imóvel, olhando para a frente com a cabeça erguida, com a ponta dos pés voltada para fora, as mãos espalmadas coladas na coxa e as pernas coladas;
Descansar: dado após o comando de “sentido”, os alunos devem descolar o pé esquerdo do direito a uma distância igual à largura dos ombros e deixar as mãos nas costas;
À Vontade: dito após o comando de “descansar”, com esse comando os alunos podem começar a falar e mover o corpo, mas não devem sair da posição. O comendo “Atenção” pode tirar os alunos desse comando;
Em forma: após este comando, o aluno deve ir para a sua posição, verificar a distância para o colega com o braço esquerdo e depois obedecer ao comando “descansar”;
Cobrir: instruído quando os alunos estão na posição “sentido”. Após o comando, os estudantes devem esternder o braço para a frente até tocar levemente o ombro ou a mochila do colega, devem ficar imediamente atrás deles;
Fora de forma: sob esse comando, os alunos iniciam a marcha com o pé esquerdo;
Apresentar arma: dado sempre após a posição de “sentido”. Nesse comando, os estudantes devem prestar a continência com um “movimento energético”.
Apresentação de turma: quando um professor, instrutor, ou monitor entrar em uma sala que os alunos já estiverem, eles devem se levantar, puxados pelo chefe da turma – aluno eleito como líder. Esse estudante falará “UM, DOIS” e os demais seguirão com “TRÊS, QUATRO”, seguindo para a posição do comando “descansar”. Depois disso, os alunos devem seguir para a a posição sentido, ao comando do chefe de turma.
No estado paranaense, a continência individual é recomendada para saudar funcionários e autoridades que estiverem nos colégios.
Durante a aula, celulares ficam desligados e guardados
Os alunos dos colégios cívico-militares podem levar o celular para a escola, mas não podem ficar com ele durante as aulas. Nesse momento, os aparelhos ficam desligados em um lugar específico, geralmente uma caixa.
O manual das escolas paranaenses diz que os celulares podem ser usados para fins pedagógicos.
O que não pode ser feito dentro (e fora) dos colégios
As regras de proibição, no decomento referente às escolas do PR, se aplicam as depências dos colégios e seus entornos. No caso do DF, as proibições são válidas enquanto o aluno utilizar o uniforme da insituição.
“Quanto às condutas dentro e fora da escola, é preciso considerar, enfim, que o aluno que usa o uniforme do CCMDF carrega consigo a imagem da Instituição e dos valores que seus pais e educadores nele depositam. Por isso, os atos impróprios realizados fora do Colégio com o uniforme de aluno do CCMDF serão considerados ofensivos ao Colégio e aos seus integrantes, estando sujeitos aos procedimentos disciplinares cabíveis e previstos no Regulamento Disciplinar do CCMDF”, diz o manual das escolas do DF.
Entre as proibições, comuns aos dois modelos, estão:
Namorar, beijar ou qualquer manifestação de namoro. No manual do DF, ainda são especificados os atos de beijar, andar abraçado ou de mãos dadas.
“O cumprimento entre os alunos é o aperto de mão. O não cumprimento desta norma constitui falta disciplinar, podendo, conforme o caso, implicar no comparecimento imediato do responsável ao CCMDF para o conhecimento do fato e orientações. Fora do Colégio, a proibição restringe-se ao aluno uniformizado”, diz o documento.
Fumar ou consumir bebdida alcóolica
O comportamento é medido por pontuação
Quando entra em uma escola cívico-militar no Paraná, o estudante recebe um total de cinco créditos de comportamento que podem ser acrescidos ou decrescidos de acordo com as ações do aluno.
Para cada “infração” cometida, o estudante pode perder 0,25 créditos (infração leve); 0,50 (infração média); 1 (infração grave); e 2 (infração gravíssima).
As boas ações também são recompensadas por créditos e por reconhecimento público – elogios na frente da turma, em aulas ou formaturas.
O monitor deve manter uma pasta para anotar o comportamento de cada aluno, ali também podem ser registraados elogios. Além disso, premiações com medalhas e certificados também são aplicáveis.
Perfil no TikTok
Alunos do último ano de um colégio cívico-militar na cidade de Palmital (PR) compartilham parte de sua rotina em um perfil do TikTok. Em um dos registros, seguindo uma trend do apliativo, os alunos contam as normas da escola.
Alunos compartilham rotine de escola cívico-militar no Paraná em peril do TikTok
Reprodução/TikTok
“Eu estudo em colégio cívico-militar e é óbvio que eu apresento a turma todos os dias”, diz uma das estudantes que em seguida bate continência para uma professora.
Outras ações mostradas nos vídeos incluem: o cumprimento aos monitores, uma aluna guardando os celulares em caixas para assistir às aulas e outra dizendo que vai de cabelo preso para a escola todos os dias. Apesar do regulamento explicar que as fardas devem ser usadas como uniforme, em todos os vídeos do perfil os alunos aparecem com as roupas que devem ser usadas nos dias de eduação física.
Outros registros da página incluem os trotes carcaterísticos de turmas do último ano – dia em que eles vão à escola vestido segundo alguma temática. Nos vídeos, os temas são “dia do brega” e “dia em que não pode levar garrafinha d´água em que eles aparecem bebendo em outros objetos como chaleiras e sacos plásticos.
Alunos compartilham dia do trote de uma escola cívico militar no paraná em um perfil no TikTok
Reprodução/TikTok
*Sob supervisão de Cíntia Acayaba