Seul critica demolição de edifício que abrigava reuniões entre parentes separados pela divisão da Península da Coreia. Interrupção torna improvável que a maioria das famílias se veja novamente. Coreia do Norte lança mísseis no mar; Coreia do Sul promete resposta
A Coreia do Norte destruiu um local que durante décadas sediou reuniões de famílias separadas pela Guerra da Coreia e pela divisão da Península, denunciou nesta quinta-feira (13) o Ministério sul-coreano da Unificação, que chamou a medida de “desumana”.
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As reuniões das famílias no monte Kumgang, na Coreia do Norte, serviram como prova do devastador custo humano da divisão.
A realização desses encontros, contudo, estava sujeita às circunstâncias das relações intercoreanas e frequentemente era usada como ferramenta de negociação por parte de Pyongyang. A última dessas reuniões ocorreu em 2018.
“A demolição do Centro de Reunião do Monte Kumgang é um ato desumano que atropela os desejos sinceros de famílias separadas”, disse um porta-voz do Ministério da Unificação de Seul.
A Coreia do Sul “pede veementemente a interrupção imediata de tais ações” e “expressa profundo pesar”.
“A demolição unilateral por parte da Coreia do Norte não pode ser justificada sob nenhum pretexto, e as autoridades norte-coreanas devem assumir total responsabilidade por esta situação”, acrescentou o porta-voz.
O edifício de 12 andares foi construído em 2008. O projeto de US$ 38 milhões (R$ 218 milhões) foi financiado pela Coreia do Sul, e inclui um salão de eventos e mais de 200 quartos para hóspedes.
Localizado um pouco além da zona desmilitarizada na fronteira entre as duas Coreias, o centro de reuniões era um dos dois principais projetos econômicos intercoreanos, juntamente com a zona industrial de Kaesong.
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Coreias ‘ainda em guerra’
O sul-coreano Min Ho-shik, 84 anos, se emociona ao reencontrar sua irmã mais nova Min Eun Shik, da Coreia do Norte, durante reunião de famílias separadas após a guerra nos anos 1950. 400 sul-coreanos atravessaram a fronteira para o evento em Kumgang
Reuters/Yonhap/Korea Pool
A Guerra da Coreia (1950-1953) resultou na divisão da Península da Coreia em dois Estados rivais e separou milhões de pessoas, fossem estas irmãos e irmãs, pais e filhos ou maridos e esposas.
As hostilidades foram encerradas com um armistício ao invés de um tratado de paz, o que deixa as duas Coreias tecnicamente ainda em guerra e com todos os contatos diretos entre civis proibidos.
Desde 1988, cerca de 130 mil sul-coreanos registraram a separação de suas famílias. Cerca de 36 mil desses indivíduos ainda estão vivos em 2025, segundo dados oficiais, sendo que 75% das famílias separadas dizem não saber se seus parentes estão vivos ou mortos.
Um funcionário da Associação Intercoreana de Famílias Separadas culpou a deterioração das relações intercoreanas sob o governo do presidente deposto Yoon Suk Yeol pela demolição do centro de reunião.
“Desde que seu o governo assumiu, tudo foi cortado”, disse a autoridade, que pediu para não ser identificada. “Não há como acontecer reuniões familiares.”
Com a interrupção efetiva do programa de reuniões, é improvável que a maioria das famílias separadas se veja novamente.
Relações bilaterais em baixa
A primeira dessas reuniões foi realizada em 1985, mas somente em 2000, após a primeira cúpula intercoreana, elas se tornaram eventos regulares.
As relações entre as duas Coreias atravessam um dos pontos mais baixos em anos, com o regime norte-coreano realizando uma série de testes com lançamentos de mísseis balísticos no ano passado, em violação às sanções das Nações Unidas.
Pyongyang também enviou ao Sul balões carregados de lixo, no que afirmou ser uma retaliação às mensagens de propaganda enviadas ao norte por ativistas sul-coreanos.
Em 2024, o líder norte-coreano, Kim Jong-un, declarou Seul como seu “principal inimigo” e renunciou ao objetivo de longa data de seu governo de promover uma reunificação.
“Kim Jong-un declarou sua intenção de romper todos os laços intercoreanos”, disse Lim Eul-chul, professor do Instituto de Estudos do Extremo Oriente em Seul. “Vejo isso como parte desse processo”, afirmou, sobre a demolição do centro de reunião.
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