25 de outubro de 2024

Coronel reformado do Exército é indiciado por explosão de apartamento e posse ilegal de armas em Campinas

Polícia disse que militar tinha 123 armas armazenadas, mas só possuía autorização para 86. Defesa diz que incêndio ocorreu por ignição espontânea e alega que indiciado não sabia da irregularidade das armas. Delegado fala sobre indiciamento de coronel reformado do Exército por 3 crimes
O coronel reformado do Exército, Virgílio Parra Dias, foi indiciado na tarde desta quinta-feira (24) pela Polícia Civil de Campinas (SP) pelos crimes de explosão, incêndio e posse de armas de fogo de uso restrito sem autorização.
O indiciamento se refere à explosão seguida de incêndio que ocorreu no apartamento do militar, em Campinas, no dia 24 de fevereiro deste ano. Ninguém ficou ferido, mas 44 pessoas que estavam em andares superiores tiveram que ser retiradas do edifício, parte delas por meio de cordas.
O incêndio no imóvel começou após a explosão de um artefato que estava no cofre, localizado em um cômodo ao lado da cozinha, onde o coronel armazenava grande quantidade de pólvora e um arsenal de armas, incluindo pistolas, revólveres, espingardas e fuzis.
Coronel reformado é indiciado por explosões que causaram incêndio em imóvel em Campinas
Parra Dias tinha licença de CAC (Colecionador, Atirador e Caçador) para manter 86 armas. A Polícia Civil apurou, no entanto, que ele tinha 123 armas armazenadas, por isso, o crime de posse de arma de uso restrito foi incluído no indiciamento.
“Ele foi iniciado pelos crimes de incêndio, explosão e pelo crime previsto no Estatuto do Desarmamento, porque nós apuramos no decorrer da investigação que ele tinha 42 armas a mais no apartamento dele não constantes do acervo do sistema do Exército”, afirmou o delegado José Mecherino.
O inquérito agora vai ser encaminhado ao Ministério Público Estadual (MP-SP), que decide se denuncia ou não o militar à Justiça.
Apartamento com munições que pegou fogo em Campinas e armas de coronel
Defesa Civil e Arquivo Pessoal
Depoimento
O coronel prestou depoimento no 1º Distrito Policial de Campinas nesta quinta. Na saída, o advogado de defesa do militar, Anderson Souza Daura, afirmou que o militar esclareceu ao delegado a origem das armas e, sobre o excedente, afirmou que o coronel acreditava que não era crime manter exemplares sem registro.
“Essas armas (que não tinham registro) ele tentou registrar no Exército em 2008, 2009 e tempos depois ele recebeu a notícia de que não foi possível registrar todas. Ele ficou com as armas guardas em casa acreditando que não era crime, acreditando que era apenas uma irregularidade administrativa e ele estava esperando uma nova anistia”.
Sobre a explosão no apartamento, a defesa afirmou que uma perícia contratada constatou que foi causada por ignição espontânea, afastando qualquer ação humana dolosa ou negligente, e que o coronel, na verdade, também foi vítima do incidente.
“Estava tudo nos conformes, não foi constatado nenhuma irregularidade, nem pelo laudo do IC, nem em nenhum outro documento, que aponte que ele guardava as munições, as pólvoras, etc, de forma irregular”.
Coronel Parra Dias (usando boina) deixa 1º DP de Campinas após depoimento
Clausio Tavoloni/EPTV
Laudo IC
Um laudo do Instituto de Criminalística (IC) de São Paulo apontou ao menos duas explosões, vestígios de pólvora e disparo de munições no apartamento do coronel Parra Dias.
No laudo, o qual o g1 teve acesso, o perito confirma que a explosão de um artefato dentro do cômodo-cofre onde ficava o armamento do militar iniciou o incêndio que, segundo o documento, chegou a 327°C de temperatura.
O documento lista os danos causados no apartamento do coronel, no apartamento vizinho e nas áreas comuns do prédio e afirma que as explosões, o incêndio e o disparo de munições colocaram em risco a vida dos moradores.
“A onda de choque provocada e os fragmentos de alvenaria arremessados pelas explosões, além dos disparos das munições provocados pelo incêndio acarretariam perigo para a integridade física e para a vida de quem se encontrasse durante o período que ocorreram as explosões e o incêndio, nos corredores do 1º pavimento e na escada entre o térreo e o 1º pavimento”, diz laudo.
A perícia, no entanto, afirma que não é possível determinar se a explosão foi fruto de ação criminosa ou de acidente.
Armas encontradas em meio aos escombros de apartamento de coronel do Exército em Campinas (SP)
Arquivo pessoal
Pedido de não indiciamento
O g1 apurou nesta segunda-feira (21) que os advogados de defesa pediram o não indiciamento do coronel pelos crimes de incêndio e explosão.
Como argumento, eles utilizam o laudo do IC e um segundo laudo contratado que aponta que a explosão ocorreu por conta da combustão ou ignição espontânea da pólvora envelhecida, “afastando qualquer ação humana dolosa ou negligente”.
“Segundo nossa compreensão, há evidente equívoco nas provas carreadas na fase inquisitorial. Segundo nosso juízo, a ignição em referência se deu por combustão espontânea e que o armazenamento de munições, pólvora e espoletas se deram em ambientes separados, conforme as normas atinentes. Deste modo, não há que se falar em qualquer responsabilidade, por qualquer prisma penal, ao Coronel Parra”, informou, por nota, Fernando Capano, advogado que representa o militar.
Imagens mostram como ficou apartamento de coronel que guardava arsenal de armas em casa após incêndio
Explosões e munições
Segundo o laudo, a primeira explosão dentro do cofre destruiu uma parede e espalhou escombros. A segunda explosão, ocorrida depois, gerou uma onda de choque que atingiu as portas do elevador provocando o tombamento delas. Peritos ainda encontraram duas paredes do cofre destruídas, mas não conseguiram confirmar se foi de uma das duas explosões ou de uma terceira.
Ainda conforme o documento, os disparos das munições que estavam armazenadas, causadas pelo calor, provocaram danos na parede ao redor da porta do elevador e no corredor lateral do apartamento vizinho. À época do incêndio, bombeiros que combatiam o fogo utilizaram um escudo balístico para se proteger.
Pólvora apreendida
Material apreendido no apartamento do coronel que foi enviado para perícia no Gate
Reprodução
Uma perícia feita pelo Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) no material aprendido no apartamento que explodiu em Campinas, em fevereiro deste ano , identificou ainda intactos 19 quilos de pólvora e 3.988 cápsulas de ignição, substâncias explosivas usadas para recarregar munições.
Granadas estavam inativas
O g1 revelou em maio que as duas granadas encontradas no apartamento do coronel reformado não ofereciam risco de explosão e que, por isso, investigadores já suspeitavam que a pólvora possa ter causado as explosões.
O caso é investigado pelo 1º Distrito Policial (DP) de Campinas, que aguardava, até a última atualização, a chegada de todos os laudos do Instituto de Criminalística – responsável pela perícia do incêndio e das armas. Só depois disso ouviria formalmente o militar da reserva.
Relembre o caso
Imagens mostram como ficou apartamento de coronel que guardava arsenal de armas em casa após incêndio
Segundo a perícia, o incêndio começou no cofre do coronel a partir da explosão de um artefato. Ao todo, 44 pessoas que estavam em andares superiores foram retiradas do prédio, parte delas por meio de cordas, em uma manobra semelhante à técnica de descida em rapel.
Aposentado como general
O coronel da reserva Virgílio Parra Dias, de 69 anos
JN
Virgílio Parra Dias, de 69 anos, é coronel aposentado e instrutor de tiro. Segundo o Exército, o militar possui certificado de registro válido como atirador, caçador e colecionador (CAC) e tinha licença para manter 86 armas no imóvel, mas a Polícia Civil vai investigar se havia excedente ilegal no arsenal.
O nome do coronel também consta como um dos responsáveis por um clube de tiro em São Paulo (SP). Nascido em 21 de abril de 1954, o coronel frequentou a Academia Militar das Agulhas Negras, escola de ensino superior do Exército que fica no Rio de Janeiro, entre 1977 e 1980.
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