21 de setembro de 2024

Cronologia: veja os principais pontos do caso do dono do Porsche que bateu em Sandero e matou motorista de aplicativo em SP

Empresário Fernando Sastre de Andrade Filho fugiu do local do crime no domingo. Ele se apresentou e prestou depoimento somente 38 horas após acidente e responde em liberdade por morte de Ornaldo Viana. Fernando Sastre Filho responderá pela morte de Ornaldo Viana
Reprodução/Redes sociais
O empresário Fernando Sastre de Andrade Filho, que conduzia um Porsche, matou o motorista de aplicativo Ornaldo da Silva Viana após bater no carro dele, na madrugada de domingo (31), na Zona Leste de São Paulo.
Fernando, de 24 anos, fugiu do local do crime e se apresentou à delegacia somente 38 horas depois do acidente. Segundo testemunhas ouvidas pela Polícia Civil, ele dirigia em alta velocidade, tinha sinais de embriaguez, voz pastosa e estava cambaleando.
Investigado pelo 30° Distrito Policial (DP) do Tatuapé, o caso ainda tem algumas lacunas a serem esclarecidas, como a velocidade do Porsche no momento da colisão, o possível estado de embriaguez do motorista e a ajuda da mãe e da namorada que o empresário teria recebido durante a fuga.
Confira os principais pontos do caso:
Empresário saiu de casa de pôquer antes provocar acidente e a morte de Ornaldo da Silva Viana
Arte/G1
Acidente
No sábado (30), por volta das 23h, o empresário foi com seu Porsche azul 911 Carrera GTS, avaliado em mais de R$ 1 milhão, a uma casa de pôquer na Rua Marechal Barbacena, no Tatuapé, Zona Leste de São Paulo. Ele estava com o amigo Marcus Vinicius Machado Rocha, de 22 anos.
Imagens de câmera de segurança obtidas pela Polícia Civil registraram o momento que a dupla chegou ao estabelecimento e a trajetória até o local do acidente (veja abaixo).
As imagens mostram que Fernando e o amigo deixaram a casa de pôquer por volta das 2h de domingo (31), após conversarem com algumas mulheres. Eles saíram com o carro de luxo, enquanto foram seguidos por veículo, onde estavam as jovens.
Novas imagens mostram motorista de Porsche antes e depois do acidente
Em seguida, outras câmeras gravaram o momento em que o motorista do Porsche acelera e colide na traseira do Renault Sandero EXP, que era dirigido por Ornaldo da Silva Viana, de 52 anos.
A batida aconteceu na Avenida Salim Farah Maluf, também no Tatuapé, que tem limite de velocidade de 50 km/h. A casa de pôquer fica a 1,4 quilômetro distante do local do acidente. Em média, o percurso pode ser feito em cerca de 5 minutos.
Segundo o boletim de ocorrência, a vítima foi socorrida pelo Corpo de Bombeiros e encaminhada ao Hospital Municipal do Tatuapé. Ornaldo deu entrada na unidade em parada cardiorrespiratória e com fraturas pelo corpo, porém não resistiu aos ferimentos.
Marcus Vinicius – passageiro do carro de luxo – foi levado por uma equipe do Samu para o Hospital São Luiz do Tatuapé. Segundo a polícia, ele passou por uma cirurgia, está internado em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e deve prestar depoimento assim que for possível.
A Polícia Militar (PM), que atendeu a ocorrência, informou que liberou Fernando do local do acidente após a mãe dele, Daniela Cristina de Medeiros Andrade, dizer aos policiais que levaria o filho para o Hospital São Luiz do Ibirapuera, na Zona Sul, porque ele estaria com um ferimento na boca.
Vídeo mostra momento da batida de Porsche em carro de motorista de aplicativo
Quando a PM foi depois ao hospital para tentar fazer o teste do bafômetro no empresário e ouvir sua versão para o acidente, não encontrou ele nem a mãe. Eles também não atenderam as ligações dos agentes. Por esse motivo, a Polícia Civil entendeu que ele fugiu.
Inicialmente, o caso foi registrado como homicídio culposo (sem intenção de matar), lesão corporal e fuga de local de acidente.
Depoimento do dono da Porsche
Fernando passou a ser procurado pelos policiais, mas acabou se apresentando na segunda-feira (1º), na delegacia, acompanhado da mãe e dos advogados. Ele foi indiciado por homicídio por dolo eventual (quando se assume o risco de matar), lesão corporal e fuga.
No depoimento, que a reportagem teve acesso, o dono do carro de luxo afirmou que trafegava “um pouco acima do limite” de 50 km/h da via quando ocorreu o acidente, porém não soube informar a velocidade exata. Fernando também disse que apenas o amigo bebeu álcool na casa de pôquer e que não dirigiu sob efeitos de álcool ou droga.
No trajeto para levar o amigo para a casa, Fernando relatou que dirigia pela Avenida Salim Farah Maluf, no sentido à Radial Leste, quando “viu a luz de freio de um veículo à frente acender e, ao tentar desviar”, colidiu com ele.
Motorista de Porsche que fugiu após matar motorista de app se apresenta à polícia
Reprodução/TV Globo
Após a batida, segundo o relato do motorista, ele “apagou”, perdeu os sentidos e desmaiou, por isso não se recorda do que aconteceu.
O empresário também negou a versão da PM de que tenha fugido do local do acidente com a sua mãe. Disse que foi o “último a sair do local com sua mãe” e que seu amigo e o Ornaldo já tinham “sido socorridos”.
Segundo Fernando, pelo fato de “sentir muitas dores”, os policias autorizaram a mãe dele a levá-lo a um hospital para ser atendido. Ele ainda alegou que não foi para o pronto socorro, porque sua mãe passou a receber “ameaças pelo celular”, sem dizer quais foram elas.
Depoimento da mãe
Durante interrogatório, Daniela Cristina contou que, ao chegar ao local do acidente, perguntou a um policial se poderia socorrer o filho até um hospital. O agente teria concordado, enquanto outro PM pediu para aguardar, pois precisavam colher a versão de Fernando sobre os fatos.
Então, a mãe do motorista da Porsche informou todos os dados deles, inclusive o número de celular. Em seguida, segundo o depoimento de Daniela, foram autorizados a deixar o local. Entretanto, diferentemente do que foi informado, eles não foram para o Hospital São Luiz.
Como a residência do empresário é próxima ao local do acidente, eles foram para lá. Em razão do estresse, Daniela disse que tomou um medicamento e acabou dormindo com o filho.
Ela teria acordado por volta das 9h30, quando percebeu diversas mensagens ameaçadoras nas redes sociais e no WhatsApp sobre o filho. Por isso ela desistiu de ir ao hospital, de acordo com o seu relato.
Justiça nega prisão de motorista que dirigia carro de luxo e foi indiciado por 3 crimes
Prisão temporária negada
A Justiça de São Paulo negou, na segunda-feira (1°), a prisão temporária do motorista do Porsche por entender que o pedido da Polícia Civil não atendeu os requisitos mínimos para a sua decretação. Na decisão, a juíza Fernanda Helena Benevides Dias aponta que o pedido foi sustentado apenas pela “gravidade dos fatos” e pelo “clamor público por justiça”.
A Polícia Civil justificou, no pedido de prisão temporária, que Fernando fugiu do local do acidente, estava em alta velocidade e que precisaria ser preso porque a sociedade pedia sua prisão.
Apesar da fuga, a magistrada pondera que o empresário se apresentou espontaneamente na delegacia e se colocou à disposição para esclarecimentos necessários sobre os fatos. Além disso, Fernando tem residência fixa.
“Ocorre que, no caso em tela, a autoridade policial sequer narrou a necessidade da prisão pela qual representou, limitando-se a sustentar a gravidade dos fatos e o clamor público por Justiça. Não esclareceu a representante porque a medida cautelar seria necessária para as investigações, tampouco mencionou não ter o indiciado residência fixa ou não ter esclarecido sua identidade”, justificou a juíza.
A Polícia Civil pretende solicitar novamente a prisão do motorista ao Tribunal de Justiça, mas dessa vez preventiva (sem prazo determinado). A data para o novo pedido ainda não foi informada.
Motorista tinha sinais de embriaguez, dizem testemunhas
Testemunha contou que Fernando Sastre de Andrade Filho dirigia Porsche em ‘alta velocidade’ e estava com ‘sinais de embriaguez’
Reprodução/TV Globo
Na terça-feira (2), um homem e uma mulher que viram o acidente prestaram depoimento no 30° DP. Eles relataram que trafegavam pela Avenida Salim Farah Maluf, quando o Porsche os ultrapassou e depois acelerou até bater na traseira do Renault Sandero.
O homem contou que um veículo o ultrapassou em alta velocidade. Na sequência, ouviu um forte barulho de colisão e viu o Porsche e o Sandero parados na via. Ele parou o carro e foi tentar ajudar Ornaldo, que tinha “sangue no rosto” e estava “inconsciente”.
Além de confirmar que o Porsche ultrapassou o automóvel onde ela estava em alta velocidade, a mulher falou também que Fernando “aparentava sinais de embriaguez, cambaleando, voz pastosa e não sabia dizer o que estava acontecendo. Só pedia para sair da frente dele”.
Ela ainda disse que Fernando e o amigo, que também estava no Porsche e tinha sinais de embriaguez, “em nenhum momento” prestaram socorro à vítima.
As duas testemunhas ainda afirmaram que a namorada e a mãe de Fernando, mais outras mulheres que compareceram depois do acidente, queriam retirar o motorista do Porsche e o amigo do local. A testemunha afirmou que ela, além outras pessoas que foram ver o que aconteceu, não deixaram.
“Só vão sair daqui após o outro motorista ser atendido pelo resgate”, falou à polícia a testemunha sobre o que disse na ocasião.
Câmera de segurança gravou momento que Renault Sandero branco é atingido na traseira por Porsche Carrera azul em São Paulo
Reprodução/Redes sociais
Investigação
A Polícia Militar informou ainda que irá apurar se os policiais militares erraram ao permitir que Fernando deixasse o local do acidente com a sua mãe para ir supostamente a um hospital, o que não ocorreu. A Ouvidoria da Polícia pediu para a Corregedoria da PM apurar o caso e também quer saber se os agentes usavam câmeras corporais para pedir as imagens.
Policiais civis ouvidos pela reportagem disseram que os policiais militares demoraram quase cinco horas para comunicar o acidente com morte na delegacia. Segundo os agentes da Polícia Civil, os PMs deveriam ter feito o teste do bafômetro no local, em vez de procurar o motorista num hospital para fazer isso.
A Polícia Técnico-Científica vai analisar as imagens para determinar qual era a velocidade do Porsche no momento da batida com o Sandero. O laudo pericial do Instituto de Criminalística (IC) irá informar se o carro de luxo estava em velocidade acima do limite para o trecho.
Condutor de Porsche recuperou CNH 12 dias antes do acidente
O empresário havia recuperado sua Carteira Nacional de Habilitação (CNH) 12 dias antes do acidente, segundo a Polícia Civil de São Paulo.
Fernando teve a CNH suspensa em 5 de outubro de 2023 e ficou 152 dias proibido de dirigir após estourar o limite de multas permitidos. Pelo Código de Trânsito Brasileiro (CTB), a pontuação máxima permitida por lei é de 40 pontos. Acima disso, a carteira de habilitação é suspensa, e o motorista precisa passar por reciclagem.
Entre as infrações cometidas por Fernando está ao menos uma multa por excesso de velocidade. De acordo com a polícia, o empresário passou de carro no ano passado num radar em Cascavel, no Paraná, com velocidade 50% acima do limite permitido para a via.
Por causa da suspensão da CNH, Fernando foi obrigado a passar por uma “reciclagem para infratores”. O jovem de 24 anos fez o curso entre 7 e 16 de novembro de 2023. Em 19 de março de 2024, ele recuperou a CNH e o direito de voltar a dirigir.
‘Sentimento de injustiça’, diz filho de motorista por aplicativo
Foto postada por Luam Silva (à direita) o mostra ao lado do pai, Ornaldo Viana (à esquerda). Filho pediu ‘justiça’ para o caso do motorista de aplicativo morto após ter o carro atingido pelo Porsche dirigido por Fernando Sastre de Andrade Filho
Reprodução/Instagram
“Um sentimento de injustiça gigantesco dentro de mim”, escreveu na segunda-feira (1º) em seu Instagram, Luam Silva, filho do motorista por aplicativo morto no acidente.
O jovem ainda escreveu, em sua rede social, que fica se “perguntando porque o mundo é tão injusto de levar” seu pai e pediu que a “justiça seja feita”.
Ornaldo foi velado e sepultado no Cemitério Bonsucesso, em Guarulhos, Grande São Paulo.
Defesa cita ‘fatalidade’
A defesa do empresário, feita por um escritório particular de advocacia, divulgou nota à imprensa informando que seu cliente não bebeu e que o acidente foi uma “fatalidade”.
Fernando é sócio de uma construtora e estudou engenharia numa universidade particular em São Paulo. Ele tem seu nome citado no quadro de sócios de uma das empresas da sua família, a incorporadora Sastre Empreendimentos Imobiliários. E também aparece como único sócio da FF Andrade Serviços Administrativos.
Há cinco anos, Fernando foi aprovado em uma universidade privada da capital paulista, o Mackenzie, onde cursou engenharia civil por algum tempo. Segundo a instituição de ensino, ele não está matriculado lá desde 2021.
Montagem – Traseira do Renault Sandero branco ficou destruída após ser atingida pelo Porsche azul
Rômulo D’Ávila/TV Globo

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