22 de setembro de 2024

Da timidez na escola à socialização: jovem ressalta importância de terapias após diagnóstico tardio do autismo

Diagnosticado aos 12 anos com TEA, Marcelo Spanhol relata evolução na fala e outros aspectos após apoio de especialistas. Aos 18 anos, ele planeja estudar e trabalhar na área da tecnologia. Marcelo Spanhol, de Serrana, SP, diagnosticado com autismo aos 12 anos, melhora interação social através de consultas psicológicas
Arquivo Pessoal
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) se manifesta em uma a cada 160 crianças, segundo estimativa da Organização Mundial de Saúde (OMS), e geralmente pode ser identificado nos primeiros cinco anos de vida. Mas não foi isso que aconteceu com Marcelo Spanhol, de Serrana (SP).
Siga o canal g1 Ribeirão e Franca no WhatsApp
Ele recebeu a confirmação de que tinha autismo aos 12 anos, depois de uma série de traços de comportamento somente notados pela segunda escola em que estudou. Hoje com 18 anos, o jovem enfatiza a importância não só do diagnóstico, ainda que tardio, como também da rede de apoio de especialistas para a evolução que percebeu na fala e na relação com os outros.
“Depois que eu comecei a fazer terapia é que eu fiquei mais capaz de socializar, porque eu tinha dificuldade de tentar falar o que eu queria. Daí eu aprendi, consegui falar direito, consegui me concentrar mais”, conta.
Condição do neurodesenvolvimento em geral caracterizada pela dificuldade de interação social, o TEA é tema do Abril Azul, mês dedicado pela Organização das Nações Unidas (ONU) à conscientização sobre o apoio e a visibilidade de pessoas com autismo.
Diagnosticado aos 12 anos
Marcelo conta que, desde a infância, era uma criança tímida, fato inicialmente tratado com naturalidade pela família. Com cardiopatia desde os 2 anos, ele precisou conviver com algumas restrições e passou por duas cirurgias aos 7 e 11 anos, o que o levou a ter dificuldades em interagir com outros nas atividades físicas da escola.
Desde cedo, Marcelo também teve problemas de dicção e esporadicamente fazia sessões de fonoaudiologia. Ele afirma que sua principal dificuldade sempre foi a socialização.
Marcelo Spanhol, de Serrana, SP, foi diagnosticado com autismo aos 12 anos
Arquivo Pessoal
“Lembro que eu tinha bastante dificuldade de conversar tanto com alunos quanto com professores. Com minha família, eu nunca tive dificuldades, geralmente. Porém, isso dependia. Se era alguém que eu via menos, eu tinha mais dificuldade”, relata.
Foi somente na segunda escola em que esteve matriculado que professores notaram comportamentos e características atípicas e recomendaram à família que ele passasse por uma consulta com um neurologista. Foi então que, aos 12 anos, Marcelo foi diagnosticado com TEA.
“Na primeira escola não notaram que eu tinha um comportamento meio diferente, até porque eu não falava muito, ficava meio longe, distante. Só que na segunda escola notaram e recomendaram para minha mãe para ver se eu tinha autismo”, conta o jovem.
Após o diagnóstico, ele foi encaminhado para uma psicóloga e uma psiquiatra, além de ter aumentado a frequência nas consultas com a fonoaudióloga, com um trabalho mais direcionado para o TEA. Segundo ele, a melhora na qualidade de vida foi significativa, desde então.
“Depois que comecei a fazer terapia fiquei mais capaz de socializar, porque eu tinha dificuldade de tentar falar o que eu queria. Daí aprendi, consegui falar direito, consegui me concentrar mais”, diz.
Otimista com sua evolução, ele afirma que pretende estudar para poder trabalhar na área de ciência da computação. “Penso em conseguir algum trabalho na parte de tecnologia, talvez relacionado a programação, que é o que eu gosto.”
A importância do diagnóstico
De acordo com a psicóloga Amanda Gonçalves, o diagnóstico do autismo normalmente é feito durante a infância, quando os pais, o pediatra ou a escola percebem determinados sinais e realizam o encaminhamento da criança para um especialista.
Além da dificuldade de interação social, outros sintomas que podem caracterizar o transtorno são hipersensibilidade sensorial, desenvolvimento motor atrasado e comportamentos repetitivos ou metódicos.
Segundo a Organização Mundial de Saúde, estima-se que, no mundo, uma em cada 160 crianças tem TEA
Getty Images
Ela conta que, com a ampliação das informações sobre o TEA, o diagnóstico também em adolescentes e adultos tem se tornado comum.
“Na clínica, é realmente algo que está aumentando bastante. Como a mídia está trazendo cada vez mais esse assunto, as pessoas estão mais atentas e se enxergando nele. Isso faz com que elas procurem profissionais para investigar esse diagnóstico”, explica.
O quebra-cabeça foi o símbolo escolhido para a conscientização em relação ao autismo
Getty Images
A profissional diz que a falta de diagnóstico ao longo da vida pode gerar prejuízos, já que o indivíduo deixa de receber o apoio necessário. Dessa forma, os pacientes podem desenvolver transtornos de ansiedade social ou generalizada, de depressão maior ou de estresse pós-traumático.
Com esses outros sintomas, a psicóloga explica que pode ser mais difícil identificar as características do TEA.
“Quando estou com um indivíduo muito deprimido, pode ser que fique muito difícil de conseguir encontrar as características dos transtornos do espectro autista ali, porque a depressão vai chamar mais a atenção. Então, é um diagnóstico que tem que ser dado com muito cuidado”, conta.
O diagnóstico serve para o paciente entender que adaptações precisa fazer para ter uma melhor qualidade de vida. Na fase adulta, a psicóloga diz que é importante esse entendimento para que ele explique aos familiares, amigos e colegas comportamentos que não eram entendidos até então.
“A partir do momento que esse indivíduo entende que ele funciona, que ele se comunica de forma diferente, ele pode tentar buscar estratégias, mudanças, adaptações na vida para ter mais qualidade nas relações, no trabalho”, afirma.
Veja mais notícias da região no g1 Ribeirão Preto e Franca
VÍDEOS: Tudo sobre Ribeirão Preto, Franca e região

Mais Notícias