9 de outubro de 2024

Daniel Coelho tem pior desempenho de um candidato a prefeito do Recife apoiado por governador desde a redemocratização

Com apoio da governadora Raquel Lyra (PSDB), candidato do PSD recebeu 3,21% dos votos válidos e ficou em 4º lugar. Daniel Coelho, candidato do PSD a prefeito do Recife, em entrevista à TV Globo durante a campanha
Foto: Reprodução / TV Globo
O ex-deputado federal e ex-secretário estadual de Turismo Daniel Coelho (PSD) teve o pior desempenho percentual de um candidato a prefeito do Recife apoiado por governador do estado desde a redemocratização, em 1985. A eleição de 2024 foi vencida em primeiro turno pelo prefeito João Campos (PSB), reeleito com 78,11% dos votos válidos.
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Com apoio oficial da governadora Raquel Lyra (PSDB), Daniel ficou em 4º lugar na disputa, com 3,21% dos votos válidos. Esta é a terceira vez que ele tenta se eleger prefeito do Recife, e a eleição em que obteve o menor percentual de votos.
Até então, o ex-senador Roberto Freire detinha o pior desempenho como candidato com apoio do Palácio do Campos das Princesas, ao se lançar à prefeitura da capital pernambucana pelo PPS (atual Cidadania) em 1996, com o apoio do então governador Miguel Arraes (PSB).
Naquele ano, Freire recebeu 3,54% dos votos válidos. Neste ano, com 29.788 votos, Daniel teve menos que a quantidade de votos nulos, que foi de 34.426 votos.
Em 12 anos, Daniel Coelho viu sua votação declinar a cada nova candidatura. Dos 245.120 votos conquistados em 2012, reduziu para 162.356 em 2016; e chegou a 29.788 votos em 2024. Coelho teve uma redução de 87% no número de votos alcançados no período.
Na primeira vez em que tentou se eleger prefeito, em 2012, Daniel Coelho obteve seu melhor resultado: 2º lugar, com 27,65% dos votos válidos. Na eleição seguinte, em 2016, ficou em 3º lugar, com 18,59% dos votos válidos.
Para o doutor em ciência política e professor substituto da UFPE Jorge Gomes, o candidato sentiu o impacto do cansaço pelo número de tentativas.
“Quanto mais você concorre, mais a população vai cansando. Então, talvez as pessoas tenham essa visão de ‘mais um nome batido, um nome de sempre'”, explicou.
O professor comparou a situação de Daniel com outros nomes da política, como a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva (Rede).
Candidata a presidente em 2010 (pelo PV) e 2014 (pelo PSB), obteve grandes votações nesses pleitos, chegando ao 3º lugar e passando dos 20% dos votos válidos, mas desabou em 2018 para o 8º lugar, com 1% dos votos válidos.
“Isso aconteceu também, de certa maneira, com Marina Silva, no contexto das eleições presidenciais. Marina já ficou em posições muito boas, com colocações excelentes, mas a população cansou”, completou.
Nas eleições deste ano, a participação da governadora Raquel Lyra na campanha do Recife foi discreta. Ela discursou na oficialização de Daniel Coelho em agosto e passou poucas vezes no guia de rádio e TV do candidato, além de não estar estampada no material de campanha. A popularidade da governadora na capital pode ter influenciado no papel reduzido na eleição recifense.
Mesmo assim, para o professor Jorge Gomes, o desempenho de Daniel ficou abaixo do esperado. “Ele ficou numa posição que não é condizente nem com o apoio do governo do estado, nem com desempenhos anteriores dele, que foi realmente melhor em outras ocasiões”, completou.
Daniel Coelho não realizou entrevista coletiva após o resultado das eleições e divulgou nota na qual disse esperar que o prefeito reeleito cumpra as promessas de campanha.
O g1 entrou em contato com o ex-deputado para comentar o desempenho da candidatura dele nas eleições de 2024, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem.
Outras eleições
Na história recente das eleições municipais do Recife, dois ex-governadores tiveram grande envolvimento na campanha de seus candidatos para a prefeitura da capital. O mais bem sucedido deles foi Eduardo Campos (PSB), morto em 2014, tido como o grande responsável pela vitória de Geraldo Julio (PSB) em 2012, que saiu do desconhecimento do eleitorado para uma vitória no 1º turno.
Em 2000, o então governador Jarbas Vasconcelos (PMDB, hoje MDB) fez campanha pela reeleição do então prefeito Roberto Magalhães (PFL), com intensa participação em comícios, mas o candidato apoiado por ele acabou perdendo de virada para João Paulo (PT), na eleição mais acirrada da história da cidade até hoje.
Outros governadores mostraram distanciamento dos pleitos locais, como Joaquim Francisco (PFL) em 1992, Miguel Arraes (PSB) em 1996 e, mais recentemente, o ex-governador Paulo Câmara (PSB), que teve pouca participação na vitória de Geraldo Julio (PSB) em 2016 e na primeira eleição de João Campos, em 2020.
Veja o desempenho dos candidatos com apoio oficial do governador do estado desde 1985:
1985 – Augusto Lucena (PDS): ficou em 4º lugar, com 8,53% dos votos válidos; o governador era Roberto Magalhães (PDS);
1988 – Marcus Cunha (PMDB): 2º lugar, com 28,52% dos votos válidos; o governador era Miguel Arraes (PMDB);
1992 – André de Paula (PFL): 3º lugar, com 13,90% dos votos válidos; o governador era Joaquim Francisco (PFL);
1996 – Roberto Freire (PPS): 5º lugar, com 3,54% dos votos válidos; o governador era Miguel Arraes (PSB);
2000 – Roberto Magalhães (PFL): 2º lugar, com 49,62% dos votos válidos no 2º turno; o governador era Jarbas Vasconcelos (PMDB);
2004 – Carlos Eduardo Cadoca (PMDB): 2º lugar, com 27,62% dos votos válidos; o governador era Jarbas Vasconcelos (PMDB);
2008 – João da Costa (PT): eleito com 51,54% dos votos válidos; o governador era Eduardo Campos (PSB);
2012 – Geraldo Julio (PSB): eleito com 51,15% dos votos válidos; o governador era Eduardo Campos (PSB);
2016 – Geraldo Julio (PSB): reeleito em 2º turno com 61,30% dos votos válidos; o governador era Paulo Câmara (PSB);
2020 – João Campos (PSB): eleito em 2º turno com 56,27% dos votos válidos; o governador era Paulo Câmara (PSB);
2024 – Daniel Coelho (PSDB): ficou em 4º lugar com 3,21% dos votos válidos; a governadora é Raquel Lyra (PSDB).
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