28 de dezembro de 2024

De delegado a advogados: quem é quem no esquema suspeito de inventar crimes e manter ‘sala de extorsão’ em delegacia

Dos 14 alvos, 13 foram presos e um é considerado foragido da Justiça. Titular do 1º DP de Indaiatuba é apontado como o chefe da quadrilha. Suspeitos tiveram a prisão temporária decretada pela Justiça
Arte g1
Suspeitos de integrar uma organização criminosa que inventava crimes para extorquir dinheiro de empresários em Indaiatuba (SP), policiais civis, advogados, guardas municipais e servidores públicos foram presos nesta terça-feira (26) em uma operação do Ministério Público Estadual (MP-SP). Veja lista de alvos nesta reportagem.
As investigações apontam que o esquema criminoso mantinha no 1º Distrito Policial de Indaiatuba uma “sala de extorsão”, onde detidos eram ameaçados a responder por crimes que não cometeram, caso não pagassem a propina.
Promotor afirma que existia “sala de extorsão” no 1º DP de Indaiatuba
Nesta quinta-feira (28), o g1 teve acesso à lista completa dos 14 alvos da operação. Os nomes foram confirmados com as audiências de custódia realizadas pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (SP), que mantiveram a prisão temporária dos investigados.
Dos 14 alvos, 13 foram encontrados e um é considerado foragido da Justiça. Os policiais civis presos foram encaminhados para o Presídio da Polícia Civil, em São Paulo (SP), e os demais investigados estão encarcerados em cadeias e delegacias. Veja lista:

José Clésio Silva de Oliveira Filho, delegado da Polícia Civil
André Luis Soares da Silva, investigador da Polícia Civil
Carla Cristina de Souza Moreira, investigadora da Polícia Civil
Márcio Matoso, escrivão da Polícia Civil
Helio Ercínio dos Santos Júnior, advogado
Rubens Groff Filho, advogado
Marcelo Eduardo Freire Savioli, advogado
Jackson Luiz da Silva, guarda municipal de Indaiatuba
Afonso Lucas Trindade Fernandes (vulgo Talinho), guarda municipal de Indaiatuba
Fábio Augusto Moraes (pastor), assessor comissionado da Secretaria de Assistência Social
Rafaela Toledo de Almeida, assessora comissionada da Secretaria de Assistência Social
José Abel Von Ah, fiscal da Prefeitura de Indaiatuba
Taylor Silva Angélico, 33 anos, gerente administrativo
Márcio Ricardo Pereira Mendes, auxiliar de escritório (foragido)
Procurados, os advogados de José Clésio e Fábio Augusto preferiram não se manifestar. O g1 tenta contato com a defesa dos demais investigados. A Secretaria de Segurança Pública se limitou a dizer que a corregedoria da Polícia Civil acompanha o caso.
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Em nota, a Prefeitura de Indaiatuba afirmou que ainda não foi oficiada sobre o caso, mas abriu procedimento administrativo e afastou os envolvidos. No caso de Fábio, o município afirmou que ele foi exonerado nesta quarta-feira (28).
Flagrado em vídeo
Vídeo mostra comissionado da prefeitura tentando fugir durante operação em Indaiatuba
Durante a operação, o servidor comissionado da Prefeitura de Indaiatuba Fábio Augusto Moraes , tentou fugir dos policiais, conforme vídeo acima, e foi encontrado com armas e drogas. Ele ocupa um cargo de direção e assessoria na Secretaria de Assistência Social, tinha salário bruto de R$ 8 mil e, segundo a prefeitura, fazia o serviço de abordagem social com pessoas em situação de rua.
Na casa e no carro de Fábio, policiais encontraram armas de fogo e drogas. Por isso, além do cumprimento do mandado de prisão temporária da operação, o servidor também foi preso em flagrante por posse de drogas e porte ilegal de armas.
Suspeito de chefiar
O delegado José Clésio Silva de Oliveira Filho, do 1º Distrito Policial de Indaiatuba
Gustavo Biano/EPTV
Segundo o Ministério Público, o delegado-titular do 1º Distrito Policial, José Clésio Silva de Oliveira Filho, é o suspeito de chefiar o esquema criminoso que extorquia dinheiro de empresários em Indaiatuba (SP).
“Ao delegado, neste momento na investigação, foi imputada a liderança dessa situação porque ele efetivamente firmava os documentos, como relatórios e instauração de inquérito policial. E os elementos são indicativo de que as propinas se destinavam a ele.”, explicou na terça Paulo Carolis, promotor do Gaeco.
Delegado titular do 1º DP de Indaiatuba foi preso suspeito de liderar organização criminosa
Reprodução/EPTV
Células de atuação
Além de Clésio, investigadores, guardas municipais, funcionários comissionados da Prefeitura e advogados são suspeitos de participação na organização criminosa. Segundo os promotores de Justiça, os outros integrantes atuavam em grupos dentro do esquema, as chamadas células de atuação:
Policiais civis e guardas municipais: invadiam estabelecimentos comerciais para forjar falsos flagrantes contra os empresários e fazer, indevidamente, apreensões de bens e dinheiro.
Advogados: atuavam como intermediadores no pagamento de propina, fazendo a contagem e o transporte do dinheiro, além de cobrar honorários sobre os valores extorquidos.
Servidores comissionados: atuavam no contato com os empresários extorquidos a fim de cobrar as propinas previamente exigidas.
Major Auguto Martinelli, comandante do 1º Baep, e Paulo Carolis, promotor de Justiça do Gaeco, durante coletiva de imprensa
Toni Mendes/EPTV
Segundo Carolis, essas foram as divisões de tarefas apuradas até o momento pela investigação e que podem ser melhor detalhadas quando ocorrer o oferecimento da denúncia à Justiça.
A operação
Ao todo, promotores de Justiça, com o apoio da Polícia Militar e da corregedoria da Polícia Civil, cumpriram nesta manhã 17 mandados de busca e apreensão e 13 de prisão temporária (por 30 dias). 15 veículos foram apreendidos.
A suspeita é que os investigados tenham exigido, pelo menos, R$ 10 milhões de reais de propina desde 2022, para arquivar investigações que eram forjadas pelos suspeitos. Entre as vítimas, cerca de 10 proprietários estabelecimentos comerciais, como supermercados, lojas de roupas e estacionamento de veículos.
Saiba como funcionava esquema que forjava investigações para extorquir empresários
Alvos de busca e apreensão
Foram ainda expedidos, por determinação da Justiça,17 mandados de busca e apreensão. Todos cumpridos nesta quinta:
Nos endereços dos 14 investigados;
No prédio do 1º DP de Indaiatuba;
Em dois escritórios de advocacia.
Crimes investigados
Extorsão mediante restrição de liberdade
Organização Criminosa
Roubo
Furto
Corrupção ativa
Invasão de comércios e fabricação de inquéritos
De acordo com o Gaeco, o grupo de Indaiatuba fabricava boletins de ocorrência, inquéritos e relatórios de investigação para sustentar exigência de pagamentos como preço de “resgate” de eventuais prisões decretadas ou garantias de não investigação.
Os boletins, as investigações e até as prisões eram forjadas. Segundo o MP, dezenas de empresários foram extorquidos no período de um ano. O valor das extorsões variava de R$ 1 a R$ 3 milhões.
Chicago
O nome da operação, “Chicago”, remete à cidade americana dos anos 20 e 30, quando gangsters governavam a cidade “à base de violência, desprezando a lei e criando fortunas com os crimes”. Pelo menos 15 promotores de Justiça, 10 servidores do Ministério Público, 94 policiais militares e 19 policiais civis participaram da operação.
Delegacia de Indaiatuba foi alvo de busca e apreensão
Jorge Talmon/EPTV
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