25 de dezembro de 2024

De oito dias para oito meses: o que mudará no corpo dos astronautas que terão que ficar no espaço até o ano que vem

Um problema na nave impediu que eles voltassem depois do período inicialmente planejado para a estadia na Estação Espacial Internacional. Oito dias viraram oito meses para astronautas que agora aguardam carona no espaço
A chegada de Butch Wilmore, de 61 anos, e Sunita Williams, de 58, à Estação Espacial Internacional foi cheia de festa e muita alegria. Eles se juntaram a sete astronautas que já estavam lá para um período de oito dias junto deles. Mas a missão, que era relativamente simples, se complicou e fez os planos de todos mudarem drasticamente.
A nave espacial onde os dois viajaram, um modelo Starliner, da Boeing, deu defeito. E sem possibilidade de consertá-la, a decisão foi de que ela voltará para a terra, mas vazia. Ficou, então, definido que Butch e Sunita terão que ficar até fevereiro do ano que vem na estação espacial internacional, quando retornarão à Terra em uma nave da Space X. O que faz transformar a festa inicial em dificuldades presentes e incertezas futuras.
A médica Thais Russomano fez doutorado em medicina espacial na Inglaterra. Ela revelou que a permanência dos astronautas no espaço não é só festa – pelo contrário, pode ter efeitos potencialmente ruins.
“Eles vão ficar submetidos não só a esse possível até choque emocional de ter que ter essa mudança toda de postura da sua missão, mas também eles vão ficar muito mais tempo expostos aos efeitos da microgravidade e da radiação cósmica”, explicou.
Um astronauta que comandou a Estação Espacial Internacional, o canadense Chris Hadfield, revelou ao Fantástico que o corpo sente imediatamente alguns sintomas.
“Nos primeiros dias dá muita ânsia de vômito, porque sem gravidade o corpo perde a noção do que está para cima e o que está para baixo. O nosso sistema de equilíbrio não entende o que os olhos veem. Depois de umas três semanas, aí sim tudo se ajeita, e o corpo entende que agora vive no espaço”, detalhou.
O lado psicológico também é importante. Hadfield contou que a incerteza e a falta de segurança permeiam a experiência, seja quanto tempo ela durar.
“Você nunca sabe exatamente quando vai voltar para casa”, reconheceu. “Outra coisa é que a estação é atingida o tempo todo por meteoritos, e isso dá para escutar. De vez em quando, um meteorito abre um buraco na fuselagem. Então tem um fator psicológico importante: como viver longe de casa, por tempo indeterminado, num ambiente perigoso?”, explicou.
Thaís Russomano reforça que os danos à saúde dos astronautas não são apenas os psicológicos. Segundo ela, nos astronautas que já passaram pelo espaço, foram verificados casos de aumento na pressão intracraniana. Muitos, ainda, relataram problemas de visão – possivelmente motivados por esse aumento de pressão cerebral.
Estudos mostraram que o sangue venoso mudou a direção em que circula. E por causa disso, um astronauta chegou a ter um coágulo em uma veia do pescoço. No entanto, segundo Thais, anticoagulantes foram transportados para a Estação Espacial e o problema foi revertido. O astronauta seguiu na missão, mas o alerta para a possibilidade de tromboses em longas estadias, como a de Butch e Sunita.
A boa notícia, segundo os estudos, é que depois do retorno, a reabilitação faz o corpo voltar ao normal. Nos corpos de Butch e Sunita, as mudanças certamente serão estudadas. Por enquanto, os dois ainda estão bastante animados.
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