Neste Dia Internacional da Mulher, pesquisadora fala sobre a importância de dar visibilidade às conquistas das mulheres. Entre as histórias narradas está a da cientista que coordenou pesquisa inédita sobre o zika vírus. Conheça seis mulheres importantes para a história de Goiás
“Não se nasce mulher, torna-se mulher”: esta é a definição da autora feminista Simone de Beauvoir no livro O Segundo Sexo. Neste 8 de março, Dia Internacional das Mulheres, o g1 traz a história de seis goianas, entre milhares, que, bravamente, lutaram contra o machismo e tornaram-se inspiração em vários campos, da ciência ao direito, além da “santa” goiana.
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Para falar sobre o assunto, o g1 entrevistou Maria Meire de Carvalho Ferreira, professora e pesquisadora da Diretoria de Mulheres e Diversidade da Universidade Federal de Goiás (UFG).
“Goiás tem uma marca muito forte dos feminismos: lutas precursoras de mulheres que estão buscando por direitos na política, sociais, culturais e outros. Precisamos ter uma equidade. A luta é diária, é cotidiana e tem que ser brava para não desistir”, afirma.
Maria Meire de Carvalho Ferreira, professora e pesquisadora da Diretoria de Mulheres e Diversidade da Universidade Federal de Goiás (UFG)
Augusto Sobrinho/g1 Goiás
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Para a professora, assim como descreve Beauvoir, ninguém nasce mulher, mas torna-se mulher a partir de uma construção social. “Ser mulher é ser gente, ser pessoa como qualquer outra”, define.
Para explicar isso de uma forma simples, Meire dá um exemplo de duas caixas: homens e mulheres. “Quando uma criança nasce, ela recebe uma dessas caixas com manuais do que é ser homem ou mulher, como por exemplo, itens de cozinha para meninas e ferramentas para meninos. Com isso, a sociedade determina os comportamentos, a personalidade e até os empregos para cada um deles.
“Nós temos que nos olhar como pessoas. Pessoas com as suas particularidades e diversidades”, critica Meire.
Meire afirma ainda que o problema dessas caixas é que elas limitam as conquistas e as capacidades femininas, que muitas vezes são colocadas em posições de fragilidade. Na análise de Meire, em Goiás, as mulheres listadas abaixo estão entre as que lutam para ocupar espaço nos mais diversos ambientes.
Conheça mulheres que fizeram história em Goiás:
Escritora
Escritora e poetisa, Leodegária Brazília de Jesus
Reprodução/UFG
Mulher, negra, escritora e poetisa, Leodegária Brazília de Jesus rompeu com os padrões machistas da sociedade e, em 1906, aos 17 anos, lançou o primeiro livro de poesia de autoria feminina em Goiás, intitulado Corôa de Lyrios, pela editora Azul, de São Paulo (SP), segundo Goiandira Ortiz, professora e dona da Livraria Leodegária, na cidade de Goiás.
“Muito jovem, uma mulher do final do século XX que rompeu um circulo literário dominado por homens, ganhou protagonismo no feminismo negro, lutou e conquistou um espaço”, destaca Goiandira.
Leodegária nasceu em Caldas Novas, em 1889. Goiandira destaca que, devido ao racismo, a poetisa ficou por anos “invisível” e apenas recentemente está sendo resgatada na história goiana. Leodegária também fundou a 1ª Escola de Caldas Novas, foi editora de jornal e chegou a ser eleito deputada estadual.
“Ela foi ‘invisibilizada’ e, até pouco tempo, só se falava em Cora Coralina. Agora, depois de muitas pesquisas, conseguimos dar visibilidade para ela”, comemora a professora.
Cientista
Médica Celina Maria Turchi Martelli
Reprodução/Academia Brasileira de Ciência
Reconhecida pela Organização Mundial de Saúde (OMS), a médica Celina Maria Turchi Martelli atuou no Grupo de Pesquisa da Epidemia de Microcefalia, que conseguiu identificar como o zika e a microcefalia estavam associados em apenas três meses.
Nascida em Goiânia, Celina se formou em medicina na UFG e é doutora em saúde pública pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, é pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz de Pernambuco (Fiocruz).
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Pesquisadora na área de infecção pelo zika vírus desde 2015, Celina foi escolhida pela revista científica “Nature” como uma das dez cientistas mais importantes do mundo em 2016 e selecionada pela revista “Time” como uma das 100 pessoas mais influentes em 2017.
Santa Dica
Benedita Cipriano Gomes, reconhecida como Santa Dica – Goiás
Reprodução/Redes Sociais
Nasceu em 1903, na Fazenda Mozondó, a cerca de 40 km de distância de Pirenópolis, no Entorno do Distrito Federal (DF), Benedita Cipriano Gomes. Uma menina que, aos 7 anos, esteve à beira da morte, se recuperou e ficou conhecida como Santa Dica.
A história de vida improvável de Benedita é contada no documentário Santa Dica, produzido e dirigido pelo jornalista Márcio Venício. Ela enfrentou o coronelismo goiano e atraiu devotos para Lagolândia.
“Mulher messiânica que pregava igualdade, divisão de terras e era muito política, isso incomodava os coronéis da época. Atraiu até 10 mil devotos para região e foi chamada de santa de uma forma pejorativa pela igreja”, disse o jornalista.
Considerada uma das mulheres mais poderosas do Estado naquela época, Santa Dica carregava a crença de ter um corpo fechado, capaz de fazer até bala ricochetear. Benedita morreu em 1970, em Goiânia, e foi enterrada debaixo de uma gameleira, em Lagolândia.
Presidente do STJ
Laurita Hilário Vaz, primeira mulher a ocupar a presidência do Superior Tribunal de Justiça (STJ)
Gustavo Lima/STJ
De Anicuns, cidade do centro goiano, Laurita Hilário Vaz foi a primeira mulher a ocupar a presidência do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e do Conselho da Justiça Federal (CJF), entre os anos de 2016 e 2018. Atualmente, ela é aposentada.
Segundo o STJ, com 45 anos de atividade jurídica, sendo 22 deles no órgão, a atuação de Laurita é reconhecida pela proteção aos direitos das mulheres, pela revolução digital nos processos, pela intensa busca da decisão justa e equilibrada e outros.
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“Vamos fazer com que as mulheres, que são o esteio do lar, a estrutura da família, possam viver plenamente sua cidade e sejam felizes. Isso é o que desejo de coração para todas as mulheres”, declarou Laurita em evento no STJ no Dia Internacional das Mulheres de 2023.
Delegada
Delegada Laura Castro Teixeira
Wildes Barbosa/O Popular
Laura de Castro Teixeira foi a primeira mulher trans a ser delegada no Brasil. Atualmente, a investigadora atua na Grupo Especializado no Atendimento às Vítimas de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (GEACRI), da Polícia Civil de Goiás (PCGO).
Ao g1, Laura conta que foi advogada e se apaixonou pela atividade policial. Ela se tornou delegada em 2008 e, em mais de 15 anos no cargo, foi titular das delegacias de Senador Canedo e Trindade e chefe do Grupo Especial de Repressão a Narcóticos (Genarc).
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A delegada atuou 10 anos na Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher (Deam), em Goiânia, e, nesse tempo, percebeu a importância da mulher para o atendimento às vítimas de violências. Além disso, destaca que elas são mais organizadas na gestão dos processos.
“O lugar de fala é muito importante, uma mulher entende a dor de outra mulher. Certos assuntos e intimidades, homens não entendem e nós mulheres sabemos disso”, destaca.
Atriz
Floracy Alves Pinheiro, também conhecida como Cici Pinheiro
Reprodução/Aflag
Fundadora da primeira Companhia de Teatro Profissional de Goiás, a Cia. Cici Pinheiro, Floracy Alves Pinheiro, também conhecida como Cici Pinheiro, nasceu em Orizona, na região sul de Goiás, e foi pioneira do teatro no estado.
Dona da 12ª Cadeira da Academia Feminina de Letras e Artes de Goiás (Aflag), também foi pioneira da radionovela pela Rádio Brasil Central. Ela também produziu, dirigiu e apresentou a primeira telenovela goiana, “A Família Brodie”, exibida em 1965 pela TV Anhanguera.
“Ela deu a oportunidade única para a cultura goiana de se projetar nacionalmente por meio da dramaturgia”, afirmou o sobrinho de Cici, Antenor Pinheiro, em entrevista ao jornal O Popular, em abril de 2018.
Apaixonada pelo teatro, Cici foi quem teve a primeira ideia de fazer um cinema em Goiás e também pioneira no teatro infantil e Teatro Educacional Infantil. Após anos de dedicação ao trabalho, Cici morreu aos 72 anos em 2002, em Goiânia.
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Conheça seis mulheres importantes para a história de Goiás
Montagem/g1 Goiás
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