Candidatos fizeram 21 pedidos de direito de resposta por ofensas. Houve pouca apresentação de propostas, que se concentraram nos últimos blocos. Candidatos usaram apelidos como “bananinha”, “Chatábata”, “Boules”, “fujão” e “tchuchuca do PCC” para se ofenderem. Debate realizado pela Gazeta.
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O debate realizado pela Gazeta e o portal MyNews, no Auditório Gazeta, na Avenida Paulista, na noite deste domingo (1º) foi marcado por ofensas e troca de acusações entre os candidatos à Prefeitura de São Paulo.
Os cinco candidatos mais bem colocados nas pesquisas, Guilherme Boulos (PSOL), José Luiz Datena (PSDB), Pablo Marçal (PRTB), Ricardo Nunes (MDB) e Tabata Amaral (PSB) participaram do debate.
A mediação foi feita pela jornalista Denise Campos de Toledo, que chamou atenção dos participantes em diversos momentos. Foram 21 pedidos de direito de resposta, oito aceitos.
O prefeito Ricardo Nunes chamou Pablo Marçal de “Pablito”, foi chamado de “bananinha” na resposta, e devolveu um “tchutchuca do PCC”. Boulos foi chamado de invasor por Nunes e de “Boules”, por Marçal. Tabata foi chamada de “Chatábata” por Marçal, que também chamou Datena de “fujão” e “ditador”.
A troca de apelidos levou a mediadora a pedir que os candidatos se chamassem pelos nomes, para não gerar um fluxo interminável de pedidos de resposta. Mas a tentativa foi inócua, logo na sequência, Boulos já se referiu a Nunes como “ladrãozinho de creche”. (veja mais abaixo)
No final do terceiro bloco, Marçal provocou Datena, que saiu do púlpito e foi em direção ao ex-coach. A apresentadora chamou por seguranças, mas eles não chegaram a subir no palco e Datena retornou ao seu local.
Primeiro bloco: perguntas entre candidatos, nesta ordem: Marçal, Nunes, Tabata, Boulos e Datena.
Segundo bloco: perguntas feitas por jornalistas
Terceiro bloco: perguntas sobre os temas: mobilidade, educação, saúde, meio ambiente e economia. Candidato escolhe adversário para comentar a resposta.
Quarto bloco: perguntas do público que foram encaminhadas pelas redes sociais e selecionadas pela organização do debate
Quinto bloco: considerações finais
A temperatura frustrou as expectativas de que o debate tivesse um nível mais propositivo do que os anteriores. Inicialmente, apenas Tabata e Marçal participariam, a exemplo do debate da revista Veja, realizado no dia 19 de agosto.
Segundo Boulos, a organização acatou pedido das campanhas por regras mais restritivas, para estimular um nível mais alto de discussão –como uma espécie de cartão vermelho como punição, o que não chegou a ser aplicado.
Primeiro bloco
No primeiro bloco, foram feitas perguntas entre os candidatos. Pela ordem do sorteio, Marçal fez a primeira pergunta para Boulos e questionou o psolista sobre o episódio do comício em que a letra do Hino Nacional foi alterada para linguagem neutra. Marçal também perguntou se Boulos já fez uso de substâncias alucinógenas e se realizou um exame toxicológico.
Boulos respondeu chamando Marçal de “bandido condenado”. E afirmou que o candidato do PRTB foi “condenado por humilhar funcionários”.
Na sequência, Nunes perguntou para Marçal como ele iria lidar com os problemas de segurança pública da cidade. O atual prefeito também disse que membros do partido de Marçal têm ligação com o PCC. Marçal respondeu chamando Nunes de “bananinha” e “amante do Bolsonaro”. E, mais uma vez, Nunes retrucou chamando Marçal de “tchutchuca do PCC”.
Tabata perguntou para Nunes sobre a queda dos índices de alfabetização e da posição da capital no Ideb. Nunes respondeu que São Paulo está “acima da média” nos índices do Ideb em comparação com outras capitais. Ele admitiu que nos anos iniciais o índice caiu, mas ainda são melhores do que outras capitais.
Na sequência, Boulos perguntou para Datena sobre falta de médicos, falta de medicamentos e filas para cirurgias. Datena apresentou propostas sobre zerar filas, deixar Unidades Básicas de Saúde (UBS) abertas 24 horas para atendimento, mas também fez acusações a Nunes durante sua fala.
O último a perguntar foi Datena, que questionou Tabata sobre o crime organizado na política. Durante a resposta, Tabata afirmou que vai entrar com uma ação na Justiça Eleitoral contra Pablo Marçal. Ela também fez críticas à gestão Ricardo Nunes sobre o caso da suspeita de milícia na Cracolândia.
Segundo, terceiro e quarto blocos
Após ter negado direitos de resposta, Guilherme Boulos ameaçou ir embora do debate, mas foi convencido a ficar.
No segundo bloco, jornalistas fizeram as perguntas para cada candidato, com direito a escolher outro candidato para comentar a resposta. Entre os temas das perguntas estiveram segurança pública, privatização e campanha política.
No terceiro bloco foram selecionados temas específicos: segurança, zeladoria, mobilidade, educação, saúde, meio ambiente e economia. Cada candidato escolheu um adversário para comentar a resposta. Mais uma vez os candidatos voltaram a se ofender e a organização pediu que os candidatos se chamassem apenas pelo nome. Ainda assim, Nunes chamou Boulos de invasor e o candidato do PSOL chamou o prefeito de “ladrãozinho de creche”.
Datena e Marçal também se ofenderam durante o bloco. O coach provocou o apresentador, que saiu do púlpito e se aproximou de Marçal, que continuou provocando. A mediadora chegou a chamar por seguranças no palco, mas Datena retornou ao seu local.
No quarto bloco, os candidatos tiveram que apresentar propostas respondendo dúvidas que foram enviadas por internautas e selecionadas pela organização. Foram discutidos temas como saúde, zeladoria e a Cracolândia.
As soluções para os problemas de São Paulo ficaram em segundo plano. Sobre a crise de moradia, Pablo Marçal disse que fará mutirões de habitação. Em relação à Cracolândia, Tabata Amaral afirmou que fará com que São Paulo seja referência em saúde mental. Boulos prometeu um Poupatempo da Saúde, com 16 unidades na periferia da cidade. Datena defendeu escolas integrais como solução para a Educação, e o fim do analfabetismo. Já Nunes falou em dar continuidade a projetos de sua atual gestão, como o Smart Sampa, sistema de monitoramento, e “continuar avançando” nas ações para o fim da Cracolândia.
Considerações finais
Ao final, cada um teve oportunidade de fazer suas considerações finais.
José Luiz Datena (PSDB) – “Minha maior preocupação é a infiltração no PCC para eleger candidatos em SP, já falo isso há duas eleições. Se o PCC não for retirado de empresas se ônibus, continuar financiando candidatos, andar de braços dados com candidatos que chegam próximos de arranhar a democracia. Dá pena de ver um cidadão como esse prefeito de São Paulo, sorte que o povo sabe quem é esse cidadão e jamais votaria em um sujeito que já foi preso por roubar dados de velhinhos para passar para quadrilha. Ele me chama de comunista e tem ideias de fascista, que é contra todo mundo, onde você perde a liberdade. Eu quero ter uma São Paulo livre de bandidos e de gente que é um atentado à democracia como esse cidadão. Ele fala que eu combato o crime organizado de longe, mas eu pelo menos combato.”
Tabata Amaral (PSB) – “Eu começo lamentando o que aconteceu aqui, não só pelo desrespeito aos jornalistas, como o desrespeito a você que nos acompanha. Daqui pouco mais de 30 dias a gente vai definir o nosso destino nos próximos 4 anos. Temos sim uma grande ameaça de ter o crime cada vez mais presente na prefeitura de SP, mas também o risco, diante dessa baderna, de eleger mais uma pessoa para fazer mais do mesmo e os mesmos interesses de você. A vida me deu muito, não é para eu estar aqui se você olha onde eu nasci. Sou uma filha orgulhosa de uma diarista e um cobrador de ônibus, se estou aqui é por conta de uma professora e políticas públicas. O que eu fiz no Congresso nos últimos 6 anos foi retribuir cada oportunidade que a vida me deu, colocando absorvente nas escolas, aprovando o pé de meia porque a gente tem que pegar tudo que a vida dá de oportunidade e trabalhar com seriedade. Estou aqui porque eu quero que outras mães de São Paulo realizem o que a minha realizou: ter os dois filhos formados na faculdade. Quero que outras mães possam deixar suas filhas e filhos irem atrás de ensino técnico, acessar bons empregos sem se preocupar se eles vão chegar em segurança a noite. Estou aqui para cuidar de quem precisa, recompensar quem batalha com honestidade e seriedade.”
Guilherme Boulos (Psol) – “Eu sou candidato a Prefeito de São Paulo porque eu acredito que a cidade mais rica do Brasil pode ser mais justa e humana. O que me move é a mesma coisa que há 25 anos me moveu para entrar no movimento social: lutar para que as pessoas tivessem casa, me indignar e não aceitar ver que a cidade mais rica do Brasil tenha pessoas dormindo na rua. O país que é um dos maiores produtores de comida do mundo, a gente vê na cidade mais rica gente revirando o lixo para comer. Ter a capacidade de sentir essa dor de ver um senhor jogado na calçada e enxergar nosso pai, ver uma criança revirando lixo e enxergar nela nossa filha. O prefeito de São Paulo precisa ter a capacidade de sentir no fundo da alma a dor das pessoas que sofrem. Eu acredito que a cidade pode ser mais humana, mais solidária, certamente não vai ser com alguns que a gente viu aqui nesse debate. Gente que foi condenada por enganar idoso, que nem daqui é, não conhece São Paulo. Gente que teve 3 anos e meio e teve oportunidade de fazer e não fez. Juntei um time, chamei a Marta para ser minha vice, juntamos um time de especialistas e andamos pelas periferias de São Paulo e conversamos com as pessoas olho no olho para apresentar um projeto que vai mudar a história de São Paulo.”
Ricardo Nunes (MDB) – “Vocês puderam observar, nós não podemos de forma nenhuma – a cidade mais importante da América Latina, inserida na quinta maior metrópole do mundo – cair na mão de alguém que é invasor de propriedade e, agora revelado, o invasor de contas de aposentados. Não podemos correr esse risco. Você viu os candidatos só criticarem, mas nunca fizeram nada, é só crítica a cidade. Quero compartilhar com vocês de que a continuidade desse trabalho, da gente continuar acordando cedo, todos os dias possamos continuar as conquistas. Fiz o Domingão Tarifa Zero, Mãe Paulistana, maior programa habitacional da história da cidade. Vou entregar até o final do ano 7 mil obras. Essa saúde financeira, que ajustamos o caixa da Prefeitura, trouxemos muitas empresas para cá, estamos com o menor índice de desemprego desde 2015, economia vibrante e é isso que a gente precisa com segurança dar continuidade. Eu amo minha cidade, nasci aqui e me preparei para ser prefeito e para isso precisamos continuar em um caminho seguro.”
Pablo Marçal (PRTB) – “Se você somar o 15 do ‘bananinha’ e o 13 do ‘Boules’ dá 28 – o número que você vai digitar para punir esse consórcio comunista. Fiz uma promessa para um garoto chamado Theo, tá aqui Theo o seu relógio e eu vou carregar ele porque esse vai ser o governo das crianças. Nós daremos esportes para os seus filhos até 2030, vamos criar uma política para zerar a população de rua, daremos emprego próximo a sua casa, você que mora na sua casa de lata e de madeira – que já estou terminando de fazer na África com o meu dinheiro – vamos fazer na cidade de São Paulo. Vamos limpar mananciais, botar pressão para o governo do estado terminar o Rodoanel que vai liberar o trânsito. Iremos ganhar o folego de uma cidade sem comunistas, eles vão falar que sou bandido, que sou isso, aguento qualquer pancada. Quero pedir seu voto, poderia estar fazendo qualquer coisa – ‘Boules’ é extrema esquerda, o Datena vai desistir a qualquer momento, só receber o PIX que ele para o ‘bananinha’ que está feroz porque despencou. A melhor pesquisa é o povo, eu peço como cidadão como seu sócio nessa cidade, me deixa ser o seu servo e vamos puni-los.”
Confusão e boicote
Ao final do debate, enquanto Pablo Marçal concedia entrevista a jornalistas, integrantes da campanha de Datena proferiram ofensas, e partiram para cima de um de seus assessores. Entre as pessoas envolvidas na confusão estava o candidato a vice de Datena, o ex-senador José Aníbal (PSDB).
Em nota, o assessor Marcos Diniz, de Marçal, disse que “não houve desentendimento”. “Houve uma agressão verbal do vice do Datena, não sei o nome dele, ainda quando Marçal estava sendo entrevistado. Ele gritou algumas vezes ‘bandido’. Eu apenas retruquei: ‘bandido é o senhor’. Eles imediatamente me cercaram, quatro pessoas, como se vê nos vídeos e começaram a tentar me intimidar e empurrar. Eles não se conformam de terem sido condenados pelo povo e expurgados da política nacional. Foram rejeitados pelo voto e agora querem de maneira autoritária desqualificar quem se identifica com o povo. O medo de ver alguém sendo aclamado pelo povo é maior que a vergonha de terem sido rejeitados pelo voto”, disse em nota o assessor Marcos Diniz.
Os candidatos também falaram com a imprensa após o fim do debate, Nunes reforçou a importância do debate e voltou a criticar Boulos afirmando que “São Paulo é a cidade do emprego, não pode correr o risco de votar em alguém que invade casas”.
Já Tabata chamou o debate de “nível baixíssimo”, mas ainda assim disse que vai continuar participando. “Não é opção do candidato, é direito do eleitor. foi justamente um desrespeito ao eleitor que tivemos aqui. Me parece que hoje diferente dos outros o problema foi a má postura, não da organização.”
Datena fez mais críticas à Marçal e disse que o candidato “é uma ameaça à democracia. Precisa ser parado, não por mim nem por ninguém, pela lei eleitoral”. Marçal disse que Datena “saiu do controle” e pediu desculpas “à sociedade paulistana porque não dá para discutir proposta” com o que ele chamou de “consórcio de comunistas”.
E Boulos também criticou Marçal e voltou a dizer que o candidato foi “foi condenado por humilhar trabalhador”.
O clima beligerante e o baixo nível do debate faz com que algumas campanhas considerem rever a participação nos próximos debates. O evento da revista Veja já tinha sido sem Nunes, Boulos e Datena, com Tabata, Marçal e a candidata do Novo, Marina Helena. Na última semana, a Jovem Pan anunciou o cancelamento do seu debate, que seria no próximo dia 5, frente à recusa de alguns candidatos em participar. O próximo debate previsto está marcado para o dia 15 de setembro, na TV Cultura.