15 de novembro de 2024

Defesa de tutor do cão Joca recorre à Procuradoria-Geral de Justiça de SP para reabrir inquérito que investigou morte do animal em voo


Advogado alega que o arquivamento pela Justiça “ocorreu sem que foram realizadas diligências essenciais, como a análise das imagens de câmeras de segurança, fotos apresentadas pelo funcionário responsável da retirada do animal no momento da chegada no aeroporto de Fortaleza (CE). João ao lado o cão Joca, que morreu após ser transportado em avião.
TV Globo/Reprodução
A defesa do engenheiro João Fantazzini Júnior, tutor do cão Joca, recorreu à Procuradoria-Geral de Justiça de São Paulo (PGJ-SP) para que a Justiça paulista reabra o inquérito policial que investiga a morte do animal durante um voo em abril deste ano.
Em petição assinada pelo advogado Marcello Primo, João Fantazzini pede que a PGJ-SP reconsidere o inquérito criminal e aprofunde a investigação sobre a morte do animal.
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Segundo o documento que o g1 teve acesso, o próprio inquérito antes de ser arquivado apontava de forma detalhada que a caixa onde o cachorro Joca era transportado entre Fortaleza e São Paulo, pela empresa aérea Gol Log, sofreu uma queda no Aeroporto de Fortaleza e pode também ter contribuído para a morte do animal.
A defesa do tutor também alega que o arquivamento pela Justiça “ocorreu sem que foram realizadas diligências essenciais, como a análise das imagens de câmeras de segurança, fotos apresentadas pelo funcionário responsável da retirada do animal no momento da chegada da aeronave no aeroporto de Fortaleza, onde restou provado que a caixa de transporte não seguiu qualquer protocolo de segurança”.
“Tais elementos são fundamentais para averiguar se houve crime de maus-tratos, e sua ausência impede uma conclusão justa e embasada dos fatos”, disse Marcello Primo na petição.
“Devido a um erro da empresa, o animal foi transportado para Fortaleza, Ceará, em vez do destino correto. (…) Quando o animal finalmente chegou ao terminal de carga, foi encontrado morto, sem que a empresa prestasse alguma explicação de forma satisfatória sobre os procedimentos e cuidados aplicados durante o transporte”, explicou.
Ao pedir revisão do caso na Procuradoria, João Fantazzini Júnior alega que “a conduta do funcionário da empresa [que derrubou a caixa e se omitiu em relação aos procedimentos de segurança] caracteriza crime de maus-tratos, conforme artigo 32 da Lei de Crimes Ambientais, ao expor o animal a risco e causar-lhe sofrimento, culminando em sua morte”.
“Tal conduta pode configurar dolo eventual, pois o funcionário agiu de forma negligente ao não utilizar o cinto de segurança no transporte de animais, mesmo sabendo que tal omissão aumentava o risco de lesão”, avalia.
Procurado pelo g1, o advogado do tutor João Fantazzini, Marcello Primo, disse que não pode se manifestar neste momento porque aguarda decisão do procurador-geral de Justiça sobre o pedido de desarquivamento e andamento nas investigações.
A reportagem também procurou a Gol Log, mas não recebeu retorno até a última atualização desta reportagem.
Arquivamento
João Fantazzini e Joca, cão que morreu em transporte aéreo da Gol
Arquivo pessoal
Conforme o g1 noticiou, no final de outubro a Justiça de São Paulo arquivou o inquérito policial que investigava a morte do cão Joca, o golden retriever de 5 anos que morreu no serviço de transporte da empresa Gol. O caso foi em abril deste ano.
O pet deveria ter sido levado do Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, para Sinop (MT), mas foi colocado num avião que embarcou para Fortaleza (CE). O trajeto, que seria de até 2h30min, durou cerca de 8 horas.
O pedido do arquivamento foi do Ministério Público do estado (MP-SP), que alegou que não há elementos suficientes para o oferecimento de denúncia de maus-tratos.
Na decisão, o Gilberto Azevedo de Moraes Costa, juiz do caso, argumentou que “não houve intenção de maltratar o cão Joca. Se vê nos autos uma sucessão de condutas culposas, advindas de negligência e imprudência, praticadas por funcionários da companhia.
Ainda, não há elementos aptos a demonstrar a ocorrência de maus-tratos e sofrimento do cão Joca em razão desta circunstância. Os funcionários que tiveram contato com Joca após sua chegada em Fortaleza noticiaram que ele estava bem e calmo, sem aparente situação de estresse”.
O crime de maus-tratos não prevê a modalidade culposa. Para o crime só existe a modalidade dolosa, ou seja, o agente tem que ter tido a intenção.
Polícia de SP encerra investigação sobre a morte do cão Joca e não indicia ninguém
Em nota, a Gol disse que “contribuiu com a apuração dos fatos junto às autoridades competentes e respeita a decisão judicial.”
Já a defesa do tutor de Joca disse que vai recorrer da decisão.
Em junho, a Polícia Civil de Guarulhos concluiu a investigação sobre a morte de Joca. Segundo o relatório final, “houve efetivo erro no embarque do animal” em uma caixa de transportes lacrada.
Causa da morte
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O laudo da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (USP) concluiu que a causa da morte do cachorro foi choque cardiogênico, uma ineficiência do coração em bombear o sangue para os órgãos.
Joca embarcou em 22 de abril em Guarulhos e deveria ir para Sinop (MT), onde moraria com o tutor João Fantazzini Júnior, mas foi enviado para Fortaleza (CE). Depois, foi mandado de volta a SP. O trajeto, que seria de até 2h30min, durou cerca de 8 horas.
O supervisor operacional de logística da Gollog, empresa responsável pelo transporte, justificou o erro dizendo que os aviões para Sinop e Fortaleza estavam próximos, e que dois funcionários colocaram a caixa de Joca na posição para embarque da aeronave que iria para Fortaleza. Por isso, o cachorro embarcou no voo errado.
Joca chegou vivo a Fortaleza e foi despachado de volta a Guarulhos, onde a morte foi constatada.
Segundo o relatório da investigação, o animal permaneceu em Fortaleza por cerca de 40 minutos, e a morte ocorreu no interior da aeronave, no retorno a SP. O trajeto de Joca no aeroporto do Ceará foi mostrado pelo Fantástico.
No total, 12 pessoas foram ouvidas nas investigações, inclusive o tutor e funcionários da companhia.
O Ministério Público e um juiz ainda vão se manifestar sobre o inquérito da Polícia Civil, e podem pedir que mais apurações sejam feitas.
Erro de conferência
A notícia do caso foi registrada na delegacia pela mãe do tutor do animal. Ela contou que a empresa Gollog foi contratada pelo filho para fazer o transporte do animal entre as cidades. João Fantazzini, o tutor, contou à polícia que presenciou a lacração da caixa de transporte no aeroporto de Guarulhos, assistiu vídeos de Joca ainda vivo em Fortaleza e, na ocasião, se preocupou com a sede do animal. O rapaz recebeu o corpo do cão sem vida, ainda na caixa, em Guarulhos.
O coordenador operacional de logística da GOLLOG descreveu detalhes sobre o dia do embarque. À polícia, disse como tomou conhecimento do extravio do animal e afirmou que um agente de cargas e outro funcionário do setor de gerenciamento de riscos conduziram o animal até outro colaborador responsável pelo embarque do animal na aeronave.
Já o supervisor de operações de cargas da Gol alegou que assim que o erro foi percebido, com o animal já em Fortaleza, foi montada uma equipe para o acompanhamento do caso.
Outro supervisor responsável pelo embarque do animal na aeronave assumiu o erro de conferência de carga e afirmou que, por conta disso, fez todo o acompanhamento do retorno do animal.
Outro agente de cargas de pista da empresa afirmou que, companhia de outro colega, fez o transporte do animal até o local de embarque da aeronave errada em Guarulhos. Outros dois funcionários afirmaram que o cão já estava morto assim que retornou ao estado de São Paulo.
Laudo da morte
A TV Globo teve acesso ao laudo oficial feito a pedido da Polícia Civil que foi anexado no inquérito. Além do choque cardiogênico, ele também aponta alterações cardíacas em Joca.
A veterinária Fátima Martins analisou o laudo e, no seu ponto de vista diante do que foi constatado, o choque cardiogênico foi consequência da hipertermia (elevação da temperatura corporal) que Joca sofreu e, por isso, houve a parada cardiorrespiratória.
“Quando o laudo fala que os órgãos apresentavam vasos ingurgitados de eritrócitos isso se deu à falta de oxigenação. No meu ponto de vista, ele teve, então, uma hipertermia, um quadro de hipertermia e estresse que levou esse quadro de choque cardiogênico”.
“O próprio estresse que ele passou já poderia levar a óbito. E o estresse seguido de desidratação com as comorbidades que ele tinha, e vivia muito bem com elas e não era limitante, ele não teria morrido. Ele tinha alterações cardíacas, porém o agravante foi a hipertermia que levou a desidratação e o choque hipovolêmico”, explicou a profissional.
Ainda conforme Fátima, cachorros de raça grande têm normalmente alterações no coração, principalmente em situação de estresse.
“Mas no Joca as alterações cardíacas não levariam a óbito se ele não tivesse essa desidratação severa. O choque cardiogênico foi provocado pela hipertermia”, ressaltou.
Cão da raça Golden Retriever morreu em voo da Gol por choque cardiogênico, diz laudo
Reprodução/TV Globo
O advogado do tutor, Marcello Primo Muccio, disse que entende que o principal motivo do choque cardiogênico foi o estresse e calor.
“Até porque ele foi levado de São Paulo a Fortaleza dentro da caixa totalmente solto sem qualquer equipamento de segurança. Esperamos que com a conclusão do laudo que as investigações apontem o responsável pelos maus-tratos sofrido pelo Joca”.
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O pet deveria ter sido levado do Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo, para Sinop (MT), mas foi colocado num avião que embarcou para Fortaleza (CE). O animal acabou sendo mandado de volta para Guarulhos e, quando o tutor chegou para encontrá-lo, o cão estava morto.
Após desembarcar em Sinop, o tutor de Joca, João Fantazzini, aguardava que o cachorro fosse entregue para ele. No entanto, soube que o animal tinha sido levado para o destino errado.
João Fantazzini disse que o veterinário havia dado um atestado indicando que o animal suportaria uma viagem de 2 horas e meia, mas, com o erro, o cachorro ficou quase 8 horas no avião.
Tutor João Fantazzini com Joca, Golden Retriever de 5 anos que morreu durante transporte aéreo da Gol
Arquivo pessoal
Imagens obtidas pelo Fantástico mostram o cachorro em solo cearense. Depois do pouso do avião, ele passa pelo carrinho dentro da caixa de transporte e está a caminho do outro avião, para voltar para São Paulo.
“Depois o Renato, eu não sei quem é esse Renato, começou a mandar fotos para mim falando que a companhia recebeu o Joca em Fortaleza, que ele estava bem e estava recebendo água”, contou João.
No vídeo, é possível ver uma pessoa interagindo com o cão, dentro da caixa.
“Pronto ó. Cachorrinho, tranquilo, tem água. Menino do papai, bebê. Tá tranquilinho, bonitinho. Tá bom? Vai retornar lá para Guarulhos”, diz uma funcionária que aparece com Joca.
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Veja a íntegra da nota da Gol:
“A GOL lamenta profundamente o ocorrido com o cão Joca e se solidariza com a dor do seu tutor. A Companhia informa que o cão Joca deveria ter seguido para Sinop (OPS), no voo 1480 do dia 22/04, a partir de Guarulhos (GRU), porém, por uma falha operacional o animal foi embarcado em um voo para Fortaleza (FOR).
Assim que o tutor chegou em Sinop, foi notificado sobre o ocorrido e sua escolha foi voltar para Guarulhos (GRU) para reencontrar o Joca.
A equipe da GOLLOG na capital cearense desembarcou o Joca e se encarregou de cuidar dele até o embarque no voo 1527 de volta para Guarulhos (GRU). Neste período, foram enviados para o tutor registros do Joca sendo acomodado de volta na aeronave. Infelizmente, logo após o pouso do voo no aeroporto de Guarulhos (GRU), vindo de Fortaleza, fomos surpreendidos pelo falecimento do animal.
A Companhia está oferecendo todo o suporte necessário ao tutor e a apuração dos detalhes do ocorrido está sendo conduzida com prioridade total pelo nosso time. Nos solidarizamos com o sofrimento do tutor do Joca. Entendemos a sua dor e lamentamos profundamente a perda do seu animal de estimação.”
João reencontrou Joca já sem vida, em Guarulhos.
TV Globo/Reprodução

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