26 de outubro de 2024

‘Deixo de comer para comprar água’, ‘é suja, mas não tem outra’: os relatos da população afetada pela seca no Piauí

População é obrigada a escolher entre comprar água potável ou recorrer, quando possível, aos reservatórios, onde, em alguns casos, a água não é a ideal para o consumo. Moradora pega água suja em açude durante forte seca no Piauí
Reprodução/TV Clube
“Deixo de beber comer para comprar água” e “é um pouco suja, mas não tem outra” são alguns dos relatos de piauienses que vivem em cidades afetadas pela seca no estado. A realidade dessa população é escolher entre comprar água potável ou recorrer, quando possível, aos reservatórios, onde, em alguns casos, a água não é a ideal para o consumo.
É o caso da dona de casa Maria Arelina Sousa, que duas vezes por dia vai até um açude, a quase 1 km de casa, pegar a água esverdeada.
“A água saudável, que pode beber, vem da serra e uma carrada para vir para cá custa R$ 600 e o dinheiro não dá”, afirmou.
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“Eu só tenho bolsa família, não dá para comprar a comida e comprar água, então tem que pegar daqui. Mesmo suja, mas tem que usar. Ela tem um pouco de sal, é grossa, tem uns ‘vermezinhos’, mas a gente coa e ferve ela para beber”, completou.
O agricultor Francisco Sebastião de Sousa afirmou que chega de deixar de comer, às vezes, para comprar água potável. “A fome suporta, um dia, dois. Agora, sede não aguenta, não. É difícil”, relatou.
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O caminhão que custa até R$ 600 fornece 8 mil litros. Quantidade que, para uma família de quatro pessoas, deve durar cerca de 18 dias, segundo a média de água para atender as necessidades básicas de uma pessoa, 110 litros/dia, conforme a Organização das Nações Unidas (ONU).
Contudo, é importante ressaltar que muitas dessas cidades enfrentam altas temperaturas e tempo muito seco nessa parte do ano, o que demanda mais hidratação, por exemplo.
A Secretaria de Estado da Defesa Civil (Sedec) informou que começará, até o fim desta semana, a atender os 106 municípios em situação de emergência com carros pipa.
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Forte estiagem agravou a situação
A forte estiagem agravou a situação no sertão piauiense, que há seis meses não tem chuva regular. As cisternas, por exemplo, não resistiram a um período tão prolongado sem chuva.
Outra consequência é que 90% da bacia hidrográfica do Rio Parnaíba, a maior do estado, está em cota de estiagem. E em muitos reservatórios a água está acabando.
A Barragem de Cajazeiras, uma das maiores do estado, por exemplo, pode armazenar até 24 milhões de m³ de água, mas hoje tem apenas 2 milhões, o que representa cerca de 10% da capacidade do reservatório.
Construção de adutora resolveria o problema
A construção da Adutora do Sertão do Piauí, que deverá captar água de poços jorrantes do município de Cristino Castro, no Sul do estado, resolveria o problema de pelo menos 51 cidades que sofrem todos os anos com a falta de água na região.
Aproximadamente 600 mil pessoas serão beneficiadas pela distribuição da água. Por enquanto, apenas parte do serviço de campo (observação dos poços e prova de viabilidade real da obra) foi realizado.
Em julho deste ano, foi anunciado que a conclusão da 1ª etapa para a construção estava prevista para agosto. O g1 procurou o Ministério Público Federal (MPF), que fiscaliza a construção, e a Sedec que acompanharia essa etapa, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem.
O MPF fiscaliza a obra devido a uma ação civil pública ajuizada, em conjunto com o Ministério Público do Piauí (MPPI), em 2015, contra a União e o Estado do Piauí. O objetivo era garantir verbas públicas para a elaboração e execução de projetos.
Além de programas e obras que assegurassem a implementação da adutora. Desde então, os MPs obtiveram liminar, que determinou à União a elaboração de um projeto básico para a adutora, e a confirmação da liminar, determinando à União a execução e a descentralização de crédito orçamentário para a sua construção.
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