26 de dezembro de 2024

Dengue: demora na confirmação de casos dificulta o atendimento e o combate aos focos do mosquito

Atualmente, dos mais de 2,4 milhões de casos prováveis da doença no país, apenas a metade foi confirmada. Demora na confirmação das mortes por dengue impede avaliação mais precisa sobre a doença
A demora na confirmação das mortes e casos provocados por dengue estão dificultando o atendimento e o combate aos focos do mosquito.
A Bianca Fernandes, gerente de restaurante, perdeu a mãe e a irmã no intervalo de uma semana.
“Foi, assim, muito rápido. Mesmo com acompanhamento, foi muito rápido”, conta.
Juvenilda da Silva, de 65 anos, e Beatriz Fernandes, de 39, estavam internadas em um hospital de Varginha, no sul de Minas Gerais, depois que exames comprovaram que as duas tinham dengue. Na certidão de óbito da mãe consta que ela morreu de diabetes. A da irmã não informa a causa da morte.
“Ficamos um mês, um mês e pouco já de luto muito tenso. E, agora, a gente vai buscar uma resposta”, diz Bianca.
Investigação de morte por dengue
Jornal Nacional/ Reprodução
O Brasil tem hoje 1.337 óbitos em investigação por dengue – quase 50% a mais do que o número de mortes confirmadas. A investigação da causa da morte é feita por equipes da vigilância epidemiológica dos municípios, que devem notificar o óbito suspeito em até 24 horas. A Secretaria de Saúde de cada cidade deve preencher um formulário, com a análise detalhada do histórico do paciente, e inserir em até 60 dias em um sistema de notificação do Ministério da Saúde.
Em nota, o Ministério da Saúde reforçou que presta apoio técnico aos estados e municípios que estão com elevado número de casos de óbitos em investigação; e que monitora os dados confirmados e os que estão em investigação de forma a identificar locais prioritários e subsidiar as recomendações e ações necessárias nas regiões, incluindo várias visitas técnicas realizadas constantemente.
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O médico Carlos Starling, que é consultor científico da Sociedade Brasileira de Infectologia, diz que muitos municípios não têm estrutura investigar as mortes com agilidade.
“Quanto menor a estrutura de recursos humanos para fazer essa investigação, mais tempo se demora para identificar os óbitos, analisá-los, coletar a informação e transmiti-los para o nível central, onde as análises epidemiológicas mais sofisticadas são realizadas”, explica.
Ainda segundo os especialistas, o número de casos confirmados de dengue também ajuda a monitorar a propagação da doença. Mas, hoje, dos mais de 2,4 milhões de casos prováveis de dengue no país, apenas a metade foi confirmada.
A demora na confirmação dos casos e na investigação das mortes impedem uma avaliação mais precisa sobre o avanço da dengue no país, segundo infectologistas. É uma lacuna de dados que prejudica as estratégias para combater os focos do mosquito e melhorar o atendimento aos pacientes.
“Se o governo federal, estados e municípios perdem a capacidade de monitorar em tempo real esses óbitos, a gente vai ter um retrato do passado. E esse retrato do passado já não serve mais para propor intervenções de organizações de serviços de saúde”, explica o infectologista da Fiocruz e professor da UFMG Júlio Croda.
No Rio de Janeiro, a Secretaria de Saúde anunciou o fim da epidemia de dengue e a cidade saiu da situação de emergência. Mas ainda há mais de 400 municípios em situação de emergência em saúde pública.
“O estado de emergência é justamente para, eventualmente, a gente poder contratar mais pessoal. E é importante que, nesse momento, municípios e estados contratem pessoas para fazer essa investigação em tempo oportuno do óbito”, afirma Júlio Croda.
“O que aconteceu que veio a óbito assim, tão rápido? A gente, realmente, espera uma resposta”, diz Bianca Fernandes.
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