De 2013 a 2019, os cientistas compararam o sangue de 123 pacientes voluntários. Pesquisadores da UFMG fazem descoberta que pode ajudar no tratamento de casos graves de dengue
Nesta quinta-feira (21), o Brasil ultrapassou a marca de 2 milhões de pacientes com dengue. E, em Minas Gerais, pesquisadores da UFMG anunciaram uma descoberta que pode ajudar no tratamento de casos graves da doença.
A filha da dona de casa Maria de Fátima, a Ana Paula, de 41 anos, perdeu a vida para a dengue.
“Um mosquitinho matar uma pessoa? Tirar a vida de uma pessoa? Ah, Nossa Senhora…”, lamenta Maria de Fátima.
A dengue já matou 682 pessoas em 2024, no Brasil. Outras 1.042 mortes estão em investigação. Uma descoberta de pesquisadores da UFMG pode mudar o destino de pessoas infectadas pela doença.
De 2013 a 2019, eles compararam o sangue de 123 pacientes voluntários. Um grupo tinha dengue leve, o outro, grave, e identificaram uma diferença importante: quando uma pessoa é infectada, o vírus se espalha pelo corpo e se reproduz.
Neste momento, também começa a ação das células pró-inflamatórias — que se multiplicam e vão combater o vírus. Elas são controladas por um outro grupo de células: as reguladoras. E assim o corpo consegue manter uma quantidade de células pró-inflamatórias suficiente para matar apenas o vírus da dengue.
Mas os cientistas constataram que em alguns pacientes esse controle não acontece por uma disfunção das células reguladoras. E aí vem a multiplicação descontrolada das pró-inflamatórias. Elas ficam em número tão grande que, além de matar o vírus, também atacam o próprio organismo, o que leva o paciente à forma grave da dengue ou até a morte.
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“Existem vários fatores para que as pessoas não consigam ter esse mecanismo regulador em específico, mas um dos fatores que a gente sabe que existe são fatores genéticos. A gente conseguiu detectar que as células T reguladoras, só a ausência delas funcional já é capaz de causar todo esse distúrbio e esse descontrole na regulação da inflamação causando então esse agravamento da doença imunopatológica”, explica Marcela Gonçalves, biomédica autora da pesquisa.
Com essa descoberta dos pesquisadores da UFMG, os cientistas agora têm um caminho para tratar, para evitar casos graves de dengue. É que entendendo quais são os defeitos das células reguladoras, fica mais fácil definir quais medicamentos devem ser usados.
O professor de imunologia UFMG Helton Santiago explica que já há laboratórios pesquisando esses remédios.
“Essa descoberta abre portas para novas terapias para casos complicados de dengue, então a gente agora está entendendo mais uma peça do quebra-cabeça da dengue grave. Estamos perto de chegar lá”, diz ele.
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