O sucesso do primeiro filme original Globoplay, que vai representar o Brasil no Oscar, desperta o interesse também sobre a família Paiva. A história da família Paiva protagonista do filme Ainda Estou Aqui
Neste domingo (2), vai chegar ao fim o maior suspense da história do cinema brasileiro: o desempenho do filme “Ainda Estou Aqui” no Oscar. A primeira produção cinematográfica original do Globoplay tem três indicações e a torcida dos milhões de pessoas que foram aos cinemas conhecer a história de Eunice Paiva, de Rubens Paiva e dos filhos deles.
O drama que repercute nas telas nos tornou íntimos da numerosa família Paiva.
“Veroca; a Eliana era Cuchimbas; eu, Lambancinha; Marcelo, o Careco; e a Babiu que é Beatriz. Então, todo mundo tinha apelido”, conta Ana Lúcia Paiva, filha de Eunice e Rubens Paiva.
Cena do filme “Ainda Estou Aqui”
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Quando o pai é levado pela ditadura, os dias ensolarados na casa em frente ao mar, no Rio de Janeiro, chegam ao fim. Marcelo conta que, antes dessa reviravolta, o diretor do filme, Walter Salles, frequentava a casa da família.
“O Walter conheceu isso. Ele viu ali aquela família que dançava aquelas músicas, muita música… Minha mãe era muito fã de música. Ele se apaixonou por aquilo. Então, ele quis contar essa história”, diz Marcelo Rubens Paiva, autor do livro “Ainda Estou Aqui”.
Vera Paiva
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A família precisou se reinventar. A mudança para São Paulo foi o ponto de partida. O caminho da filha mais velha foi a USP. Vera Paiva começou como estudante, se tornou professora titular do Departamento de Psicologia e luta por famílias que até hoje tentam encontrar parentes que desapareceram durante a ditadura.
“Para a gente é um pouco duro, porque a gente fica revivendo várias coisas. Como é para todas as famílias que viveram isso. Que isso sirva para que nunca mais aconteça, que não se esqueça, nunca mais aconteça”, diz Vera Paiva, professora da USP e integrante da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos.
Maria Beatriz , filha de Eunice e Rubens Paiva
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Maria Beatriz também se formou em Psicologia e mora na Suíça. Eliana Paiva tinha 15 anos quando foi presa junto com a mãe. Ela seguiu a carreira de jornalista e professora, e contou em uma entrevista à GloboNews como era o clima dentro de casa:
“Política era falado, cultura era falado. Música, cultura… A gente ouvia coisas novas. Política, eu conhecia. Quem era preso a gente sabia, o que estava acontecendo, principalmente no Rio de Janeiro”, conta a jornalista Eliana Paiva.
Jornalista Eliana Paiva, filha de Eunice e Rubens Paiva
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Ana Lúcia, a Nalu, a filha que vê o pai pela última vez quando entra na casa e pede uma camisa dele, mora na França há mais de 30 anos. Tem três filhos e fez carreira na área de tecnologia da informação. A ajuda dela foi fundamental para equipe de filmagem.
“Eu gosto de uma régua e um compasso. Fui lá e desenhei a casa. Mas eu fiz muitos detalhes. Eu pus o sofá, as poltronas. E parece que ajudou”, lembra Ana Lucia Paiva.
Ana Lucia Paiva, filha de Eunice e Rubens Paiva
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Faz tempo que o Brasil conhece o talento de Marcelo Rubens Paiva na literatura. Ele tinha 22 anos quando publicou “Feliz Ano Velho”, em que conta a história do acidente que o deixou tetraplégico. Marcelo já escreveu 18 livros. Um deles é “Ainda Estou Aqui” – que deu origem ao filme.
“Escrever não é sentar em frente ao teclado e datilografar ou digitar. Você está no banho, você está escrevendo, você pensa, você acorda, você dorme, você está no metrô, você está na rua, você está em uma festa pensando uma cena”, diz o escritor Marcelo Rubens Paiva.
Marcelo também tem frequentado os palcos. É que ele acrescentou mais uma atividade ao currículo já extenso e cheio de sucessos: ele toca em uma banda. E em uma daquelas coincidências da vida que arrancam um sorriso da gente, o show do dia foi em uma sala de cinema.
“Um dia, minha irmã mandou uma gaita para o meu filho de presente. E eu percebi que eu tocava gaita. E isso reacendeu em mim toda uma vontade de ser músico que eu tinha antes do meu acidente”, diz Marcelo Rubens Paiva.
Escritor Marcelo Rubens Paiva, filho de Eunice e Rubens Paiva
Jornal Nacional/ Reprodução
E assim como muitas famílias que vão torcer pelo Oscar, os Paiva também estão na expectativa pela premiação inédita para o Brasil.
“Eu acho que quem merece os aplausos e ser honrado são os atores, diretores e os roteiristas que fizeram esse filme que muito nos honra com sua delicadeza e brilhantismo”, diz Vera Paiva.
“Eu acho que, assim, uma homenagem para os meus pais muito bonita. Podia colocar uma premiação, uma medalha… Mas o Oscar? É uma coisa que o mundo inteiro vai ver. Não é só o Brasil. Incrível”, festeja Ana Lúcia Paiva.
“Quer coisa mais legal do que o Oscar no carnaval? Não podia ser mais perfeito. É um presente para o Brasil. O Brasil merecia ter esse momento Ayrton Senna da nossa cultura”, afirma Marcelo Rubens Paiva.
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