Nas imagens é possível ver os olhos dos animais brilhando na escuridão amazônica. O registro foi feito no Lago do Rei, situado no município de Careiro da Várzea, neste mês. Jacarés-açus são registrados no Lago do Rei
Já era noite quando o pescador Rainilson Souza, de 34 anos, se deparou com uma situação assustadora enquanto navegava por um lago no interior do Amazonas: dezenas de jacarés rodearam a pequena embarcação em que ele estava sozinho. A cena foi gravada e compartilhada por ele nas redes sociais. Veja no vídeo acima.
Nas imagens é possível ver os olhos dos animais brilhando na escuridão amazônica. O registro foi feito no Lago do Rei, situado no município de Careiro da Várzea, em 21 de outubro.
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“Vejam a quantidade de jacaré-açú que tem ai nesse registro. E ai, você teria coragem de pescar ai a noite? Essa é a realidade do ribeirinho do Amazonas”, disse nas imagens.
Apesar de intimidadora, a situação não surpreende Rainilson, que se diz acostumado a encontrar os animais enquanto navega pela área para trabalhar. Foi ele o responsável por outro registro impressionante na mesma região, quando passou em uma embarcação perto de vários jacarés em um banco de areia.
Ao g1, o pescador relatou que não tem medo de passar por esses locais, mesmo reconhecendo que seja uma situação perigosa.
“Eu passo por ali há muito tempo, comecei a andar nesse lago desde os 12 anos. Sempre durante esse período de seca, independentemente da intensidade, os jacarés aparecem”, relatou Rainilson.
Segundo ele, já houve ataque de jacaré-açu a um morador da região. “Foi há algum tempo. Ele estava pescando quando a canoa bateu em um jacaré, e o animal pegou o braço dele. Ele ficou internado por muito tempo,” contou Souza.
Durante a seca dos rios, jacarés se reúnem nos bancos de areia formados no leito
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O que diz especialista
O biólogo especialista em crocodilianos amazônicos, Ildean Fernandes, explicou que os animais da espécie jacaré-açu não costumam ficar aglomerados, como aparecem nas imagens.
“O jacaré-açu tem uma tendência natural a ser solitário visto que é um animal territorialista, apesar de ter interações sociais. Porém, essas interações são limitadas principalmente durante a reprodução e proteção dos filhotes. Por exemplo, não é comum que esta espécie fique aglomerado dessa maneira”, diz o especialista.
Fernandes ressalta, no entanto, que o animal apresenta o comportamento de se reunir em grupo em algumas circunstâncias, inclusive durante períodos de seca.
“Em algumas situações eles podem ser observados próximos uns dos outros, como em áreas de alta concentração de alimento ou durante período de seca, quando os corpos d’água disponíveis se tornam limitados. No entanto, mesmo nesses casos, não há uma estrutura social ou cooperação entre eles”, disse o especialista.
O especialista afirma que, normalmente, os jacarés dessa espécie não costumam representar risco para os humanos, exceto durante o período reprodutivo. Nessa época, os machos tentam proteger seus territórios nas margens de rios e lagos, enquanto as fêmeas podem se tornar agressivas para defender seus filhotes.
“É um animal de grande porte e bastante arisco, ou seja, sensível a mudanças abruptas no ambiente, como barulhos e impactos na água. Provavelmente, o som do motor os assustou, gerando a movimentação vista nas imagens,” relatou o professor.
Seca no Amazonas
Neste ano, o Amazonas enfrenta uma grave crise ambiental, resultado da combinação entre a seca dos rios e queimadas. Todas as calhas dos rios que cortam o estado estão em situação crítica de seca.
Manaus, por exemplo, registrou a pior seca do Rio Negro em mais de 120 anos, alterando drasticamente o cenário da cidade. A situação se estende a todos os 61 municípios do Amazonas, com mais de 800 mil pessoas afetadas por esse fenômeno.