17 de novembro de 2024

Dia do folclore: lendas amazônicas refletem tradição e respeito pela natureza

No Dia do Folclore, celebrado nesta quinta-feira (22), o g1 relembra histórias que são representações da conexão entre a comunidade e o meio ambiente. Uirapuru-verdadeiro é mencionado em diversas lendas amazônicas, canções folclóricas e populares
Victor Castanho/VC no TG
Quem nunca ouviu falar do curupira, do boto cor-de-rosa ou da vitória-régia? As lendas atravessam gerações carregando a identidade e a sabedoria dos povos tradicionais amazônicos. No Dia do Folclore, celebrado nesta quinta-feira (22), o g1 relembra histórias que são representações da conexão entre a comunidade e o meio ambiente.
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O folclore brasileiro, um conjunto de costumes, crenças e saberes tradicionais, é vasto e diverso, variando de região para região.
No Amazonas, as lendas vão além das “histórias de pescador” e, para o folclorista e historiador, Nonato Torres, os contos não são simples relatos, mas uma forma de sabedoria ancestral.
“Elas oferecem uma visão rica e multifacetada de como esses povos compreendem e valorizam o mundo natural, refletindo uma profunda conexão e respeito que moldam suas práticas e tradições até os dias atuais”, afirmou Torres.
Lendas amazônicas
Em meio a vasta riqueza cultural da Amazônia, o g1 selecionou x lendas que se mantém vivas até os dias de hoje no imaginário popular.
🐍 Cobra Grande
A lenda da Cobra Grande, também conhecida como Boiúna, conta a história de uma enorme serpente que habita nos rios da Amazônia e tem capacidade de mudar o curso das águas. Há quem diga que o animal sai do fundo dos rios para atacar barcos e devorar pescadores.
Em algumas partes da região, a lenda também diz que a cobra engravidou e teve dois filhos: o bondoso Honorato e a cruel Caninana. Um dia, os irmãos travaram uma grande luta mortal, até que Tupã interferiu e das cobras surgiu uma linda mulher.
🦅 Uirapuru
Em muitos lugares, acredita-se que o Uirapuru é um pássaro mágico, e quem o encontra pode ter um desejo realizado.
A lenda diz que um jovem guerreiro indígena apaixonou-se pela filha do grande cacique e, sem a aprovação dele, não podia se aproximar de seu amor. Para que pudesse ficar perto da mulher amada, pediu ao deus Tupã que o transformasse em um pássaro com um canto maravilhoso.
Um dia o cacique ouviu o canto do Uirapuru, ficou fascinado e, ao tentar capturar o pássaro, se perdeu na floresta e nunca mais foi visto.
🧙🏻‍♀️ Matinta Pereira
Segundo a lenda, Matinta Pereira é uma entidade que ronda a floresta com um assobio agudo e horripilante. Quem a escuta deve prometer tabaco ou fumo, que é recolhido no dia seguinte por uma senhora idosa. Reza a lenda que a velha senhora é uma pessoa da região que carrega a maldição de se tornar Matinta Pereira.
A crença popular diz que a entidade ajuda a proteger a fauna e a flora, espantando caçadores e madeireiros. Também é difundido que quando a idosa está preste a morrer, ela pergunta: “Quem quer?”. Se alguém responder “eu quero”, pensando em se tratar de alguma riqueza, recebe na verdade a a maldição de ‘virar’ Matinta Perera.
Reflexo cultural
Nonato destaca ainda que as lendas amazônicas desempenham um papel fundamental na compreensão da relação entre as comunidades e a natureza, já que seus moradores percebem e interagem com o o meio ambiente ao seu redor.
“Na Amazônia, as lendas muitas vezes personificam elementos da natureza, transformando animais, plantas e fenômenos naturais em personagens dotados de intenções e emoções”, esclareceu.
O historiador destaca a lenda do boto cor-de-rosa, em que o animal se transforma em um jovem atraente para seduzir as mulheres. Para ele, o conto explica e codifica as complexas relações entre os seres humanos e as criaturas do rio, bem como os riscos e maravilhas da vida nas águas.
Além disso, essas histórias acabam assumindo, por muitas vezes, o papel de ensinar sobre práticas sustentáveis e respeito pela natureza.
Também é possível notar que as lendas refletem as próprias experiências e crenças de cada povo, que têm visões diferentes sobre um mesmo conto. Enquanto algumas comunidades ribeirinhas vêem o jovem boto cor-de-rosa como benevolente e encantador, outras o enxergam com uma pessoa mais traiçoeira e ameaçadora.
Apesar de populares, a preservação dessas histórias ou lendas tem sido ameaçada por uma série de desafios, entre eles a migração e o deslocamento das comunidades indígenas e ribeirinhas. Ao g1, o folclorista apontou como garantir que essas tradições orais se mantenham vivas.
“É essencial que haja políticas públicas voltadas para a valorização das culturas tradicionais, iniciativas de educação intercultural que promovam o respeito e o conhecimento das tradições orais entre os mais jovens, e esforços de documentação e revitalização das línguas indígenas”, finalizou.

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