Público tem adotado rotinas de cuidados com a pele e cabelo mais elaboradas, motivando a criação de novos produtos. Barbearias e outros espaços de beleza também ampliaram a lista de serviços oferecidos e, consequentemente, o faturamento. Arthur Di Doné (à direita) e outros clientes fizeram o ‘dia do noivo’ em São Paulo
Carbella Studio Hair/Divulgação
Com direito a corte de cabelo, massagens e até um pouquinho de maquiagem, o gerente de investimentos Arthur Di Doné decidiu ter um “dia de noivo” antes de se casar, em 2022, na cidade de São Paulo.
“Foi por total incentivo da minha esposa, mas, no fim das contas, foi bem legal, ainda mais sendo um dos dias mais marcantes da história do casal. É importante a gente estar bem cuidado. Não é exclusividade da noiva estar bonita”, diz.
Arthur contratou o pacote especial em um salão de beleza que fica no bairro Tatuapé e que passou a oferecer o serviço ao perceber a existência da demanda, há aproximadamente 7 anos.
“No começo tinha só o dia da noiva, mas incluímos o do noivo logo em seguida. Os homens chegam até a gente pelo site ou, quando a mulher vem conhecer, a gente também oferece o dia do noivo e eles optam por fazer”, explica Tatiane de Castro, proprietária do Carbella Studio Hair.
No espaço, os homens fazem o penteado para o casamento, a barba, depilação de orelhas e nariz, manicure, pedicure, limpeza de pele e maquiagem, entre outros serviços.
Esse último, segundo Tatiane, às vezes ainda é motivo de resistência por parte dos clientes. “Aí a gente explica que a maquiagem é mais para selar a pele, não ficar suada, e eles aderem”, conta.
Aos poucos, afinal, os homens vêm quebrando preconceitos em relação ao cuidado com a aparência, o que tem impulsionado o setor, com o surgimento de produtos masculinos mais elaborados e até a criação de espaços de beleza só para eles.
“As pessoas enxergam que não deixam de ser quem são só por causa de um procedimento”, afirma Pedro Pitanga Neto, dono de um centro estético exclusivo para homens, com unidades em São Paulo e no Rio de Janeiro.
“Antes, 90% do meu público era gay. Hoje, cerca de 60% dos clientes são héteros”, observa o empresário.
Um mercado bilionário 💸💸
O mercado de beleza masculina movimentou 53,8 bilhões de dólares em todo o mundo em 2022, de acordo com a Euromonitor International.
O Brasil representa 10% deste mercado, tendo movimentado R$ 27,9 bilhões em 2022, e a previsão é de que esse número salte para R$ 38,9 bilhões até 2027, um crescimento de 39,5% (leia mais abaixo).
Igor Evandro Santos, dono de uma barbearia em São Paulo, tem visto de perto o “boom” do setor. Ele afirma que o faturamento do negócio saltou de R$ 12 mil para mais de R$ 55 mil por mês nos últimos três anos.
Barbearia em São Paulo aumentou faturamento e quantidade de serviços oferecidos
Barbeiros em Glórias/Divulgação
E parte desse sucesso, segundo o empresário, se deve à ampliação de serviços oferecidos. Em 2021, a Barbeiros em Glórias fazia somente corte de cabelo, barba e design de sobrancelhas.
Hoje, os clientes contam com uma gama bem mais extensa de produtos, que inclui terapia facial, hidratação e selagem de barba, químicas no cabelo e skincare.
“Os estabelecimentos evoluíram de simples barbearias para se tornarem verdadeiros centros de beleza”, diz.
A barbearia também criou um clube de assinaturas, por meio do qual os clientes pagam um valor fixo por mês e podem cortar o cabelo e fazer a barba quantas vezes quiserem.
E, com o mercado em alta, a ideia de Igor é expandir os negócios ainda mais, incluindo serviços como micropigmentação de barba, consultoria visagista e de coloração pessoal, técnicas que trabalham cabelo e barba de forma a valorizar a beleza natural.
Para ele, uma dica para crescer no segmento é ficar de olho nas tendências e “respeitar os desejos dentro desse mercado”, já que ele é diferente do feminino, afirma.
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Espaços (só) para eles ♂️
Foi pensando nas particularidades do mercado de beleza masculina que o jornalista Pedro Pitanga criou o centro estético exclusivo para homens.
“Não pode nem mulheres acompanhantes”, afirma. “É um local para eles se sentirem à vontade. Podem fazer as unhas, as sobrancelhas, num espaço seguro, onde eles fiquem confortáveis.”
Pedro Pitanga é fundador do EPH – Estética Para Homens
EPH – Estética Para Homens/Divulgação
A ideia de negócio surgiu porque Pedro frequentava clínicas de estética, mas, segundo ele, percebia que a comunicação nesses ambientes era voltada ao público feminino, e que muitos procedimentos não eram testados em homens.
“Você não se sente parte daquilo. Lembro que falavam que eu não conseguiria fazer alguns procedimentos em determinada potência por não aguentar, mas aquele aparelho no corpo do homem é diferente. Então, tem que ter um olhar para isso”, diz.
Assim, Pedro contratou profissionais de estética, fez treinamentos e fundou a EPH – Estética Para Homens. A clínica oferece tratamentos para gordura localizada, massagens, limpeza de pele, fototerapia, manicure, entre outros serviços.
“No começo teve uma explosão. Eu tinha outro emprego, mas tive que largar. Foi muito doido”, lembra.
E, hoje, há quatro anos no mercado, o empresário também já percebeu mudanças no comportamento do público masculino: “Antes, os clientes chegavam meio perdidos, a gente tinha que passar para eles quais eram os procedimentos. Agora, já chegam sabendo exatamente o que querem.”
Clínica de estética só para homens oferece limpeza de pele, fototerapia, manicure, entre outros serviços
EPH – Estética Para Homens/Divulgação
Mas, apesar dessa busca dos homens por espaços exclusivos, donos de empreendimentos que atendem aos dois públicos, feminino e masculino, também notaram um aumento na clientela masculina. É o caso da Michele Tirloni, que tem uma franquia da Espaçolaser no Uberlândia Shopping.
“Além dos homens que proativamente procuram o serviço, muitas mulheres acabam influenciando seus maridos, filhos, amigos a fazerem a depilação a laser. O que aumentou também é que os homens agora fazem mais de uma área do corpo: faixa de barba, costas, peito”, destaca a franqueada.
Há quatro anos, o público masculino representava 9% dos atendimentos de toda a rede de depilação a laser, enquanto, em 2023, essa porcentagem saltou para 17%.
Para a diretora técnica da rede, Ana Carolina Cury, isso demonstra que os homens também estão menos tímidos em ocupar esses espaços.
“O nosso modelo de loja é muito dentro de shopping, tem vitrine aberta, e a gente costumava discutir muito se homem se sentia à vontade nesse ambiente. Hoje, isso já não é uma pauta”, explica.
Uma infinidade de novos produtos🧴🪮
O levantamento da Euromonitor, que aponta o faturamento bilionário do mercado de beleza masculina, inclui produtos pré e pós-barba, para banho, para cuidados com a pele e os cabelos, e desodorantes. Uma lista que vem crescendo, afirma Mariana Teixeira, pesquisadora da empresa.
“Os homens estão adotando rotinas de cuidados com a pele e cabelo mais elaboradas. Nos cuidados com os cabelos masculinos, há um crescente interesse em pomadas, ceras e géis de styling, além de tratamentos para queda de cabelo e fortalecimento capilar”, destaca.
“Mesmo na área de cosméticos para coloração, surgiram novas possibilidades, como lápis para preencher falhas na barba ou pigmentação temporária da pele aplicada profissionalmente para um resultado mais duradouro”, continua.
Homens usam pomada para cabelo e fazem limpeza de pele em barbearia em São Paulo
Barbeiros em Glórias/Divulgação
Quem percebeu bastante essa transformação foi a Denise Coutinho, diretora de marketing da Natura, que está na empresa há 27 anos. Neste período, segundo ela, além dos produtos oferecidos ao público masculino, a forma de vendê-los também mudou.
“A gente relançou a linha Natura Homem com um posicionamento que provoca a liberdade de exercer a masculinidade de forma mais ampla, não ficar restrito àqueles códigos convencionais, de que homem não chora, por exemplo, e isso foi um super sucesso”, comenta.
Por meio das novas campanhas, a marca explorou a possibilidade de o cliente ser o homem que quiser ser, explica Denise. E, nas pesquisas com o público, segundo ela, é possível perceber que o receio dos homens ao falar de beleza vem se perdendo.
“Quando a gente faz grupo com consumidor, a gente vê que os homens estão mais abertos. Eles falam: ‘Se tem um cara cheiroso na academia do meu lado, eu pergunto onde ele comprou o perfume’. Hoje existe essa troca”, completa.
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