27 de janeiro de 2025

Do Oriente a Minas: fragmentos de tapeçaria árabe ganham nova vida nas mãos de artesã e se transformam em solidariedade


Dona Rosa, de 72 anos, transforma o material em passarinhos únicos. Peças são vendidas e renda é revertida em doações a instituições carentes. Rosa Maria, ou simplesmente Dona Rosa transforma restos de tapetes em pássaros em Lagoa da Prata
Gisele Borges/Divulgação
Em uma fazenda em Lagoa da Prata, no interior de Minas Gerais, Rosa Maria Borges de Carvalho, carinhosamente conhecida como Dona Rosa, de 79 anos, transforma sobras de tapetes orientais em verdadeiras obras de arte.
Cada pedacinho que teria como destino o descarte ganha vida nas mãos da artesã, que transforma o material em passarinhos únicos, repletos de história e significado.
Mais do que um simples ofício, o trabalho de Dona Rosa é um gesto de amor à sustentabilidade, uma celebração da criatividade e uma inspiração para a transformação social.
Na arte, ela encontrou não apenas uma forma de realização pessoal, mas também um caminho para mostrar que, assim como os materiais que reutiliza, a beleza está nos detalhes mais inesperados da vida.
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A infância criativa que moldou uma artista
Ao relembrar os primeiros passos na criatividade, Dona Rosa conta que, ainda na infância, marcada pela ausência de brinquedos industrializados, ela mesma criava sua forma de diversão.
“Quando eu tinha uns cinco ou seis anos, a gente fazia os próprios brinquedos. Usávamos frutas, caroços de manga e o que mais estivesse disponível”, relembrou.
Foi com a descoberta de um caroço de manga que se parecia com um coelho que Dona Rosa percebeu seu talento artístico.
“Sentei debaixo do pé de manga, fiz a carinha, pintei com barro porque não tinha tinta, e criei um bichinho. Quando alguém perguntou se era um coelho, fiquei tão feliz. Foi aí que percebi que tinha aptidão para isso”.
A origem dos passarinhos
Pássaros são feitos artesanalmente em Lagoa da Prata
Gisele Borges/Divulgação
A inspiração para os passarinhos surgiu de um encontro entre Dona Rosa e Francesca Alzati, uma empresária do ramo de tapeçaria e amiga da filha dela, Gisele Borges, que é arquiteta e a principal incentivadora da mãe no universo da arte.
“A ideia dos pássaros nasceu de uma visita dessa grande amiga, Francesca, à casa da minha filha, onde ela viu um passarinho que eu havia bordado no feltro. Ela ficou encantada com a peça e começou a imaginar os pássaros nos fragmentos de seus tapetes. Logo, me propôs experimentar. Como gosto de desafios, abracei essa oferta. Já nesse momento, pensei que a confecção e o rendimento poderiam ajudar mais pessoas”, explicou Dona Rosa.
O apoio e a inspiração da filha, Gisele, sempre levaram Dona Rosa além. “A Gisele sempre quer uma peça diferente e me incentiva a criar com o que temos em casa. Sobre a criação desses pássaros, eu já havia trabalhado com tapeçaria, por exemplo. Começamos, então, com moldes e passamos a elaborar peças únicas, que foram os passarinhos decorados com materiais reaproveitados”.
Para dona Rosa, cada detalhe conta e, como ela mesma afirma, nada vai para o lixo. Até os menores retalhos ganham vida em suas mãos.
Técnica e criatividade
Dona Rosa utiliza um processo minucioso para criar cada peça. Primeiro, ela avalia a textura dos tecidos para definir o tamanho e os detalhes dos passarinhos. Os tecidos mais rígidos são destinados a moldes maiores, enquanto os macios permitem a criação de peças menores e mais detalhadas.
Além dos passarinhos, Dona Rosa também explora novas ideias, sempre inspirada pela natureza e pela moda.
“Me inspiro na natureza. Faço sondagem da moda do momento. Tenho uma filha formada em arquitetura que tem um refinado gosto pela moda. Ela sabe muito bem avaliar os detalhes dos meus trabalhos. Além de peças decorativas, trabalho com detalhes para incrementar looks, como bordados, flores e colares”, explicou.
Pássaros são criados por Dona Rosa em uma fazenda em Lagoa da Prata
Gisele Borges/Divulgação
Impacto social e realizações pessoais
Mais do que uma atividade criativa, o projeto de Dona Rosa tem gerado impacto social significativo. Após a confecção, as peças são entregues para Francesca, que as vende na empresa dela. Todo o dinheiro arrecadado é revertido para doações a instituições carentes.
“Essa iniciativa já beneficiou diversas causas, como a primeira revoada de pássaros, que contribuiu para melhorar os espaços destinados a crianças em abrigos durante as enchentes no Rio Grande do Sul. No final de 2024, ajudamos a adquirir alimentos e fraldas para a Vila Vicentina, uma instituição que acolhe idosos sem família em Lagoa da Prata. Além disso, temos o desejo de expandir essa ação solidária por meio de oficinas que capacitem outras pessoas a confeccionar os pássaros, ampliando ainda mais o impacto social do projeto”, pontuou Gisele.
“Este projeto me trouxe realizações: de um lado, proporcionou fazer o que gosto. De outro, pude ajudar algumas entidades que cuidam de pessoas carentes”, completou Dona Rosa.
Recepção e futuro promissor
O sucesso do projeto tem surpreendido a artesã. “Fico impressionada com o alcance da mídia. Me sinto muito feliz em saber que este projeto tem muita aceitação”, disse.
Segundo Gisele, há o desejo de expandir a ideia e ensinar outras pessoas a criar itens artísticos semelhantes.
“O projeto nasceu sem grandes pretensões. Minha mãe, na fazenda, sempre quer fazer algo novo. Francesca nos forneceu essa riqueza de materiais e nosso maior desejo é inventar coisas. Então, gostaríamos de ensinar pessoas a fazer o que criamos e continuar inventando coisas novas. A energia circulante é colaborativa e impulsiona novas criações. É aquela máxima em que cada um coloca o que sabe e incentiva o outro a fazer o mesmo, numa soma constante”, finalizou Gisele.
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