10 de janeiro de 2025

Do primeiro encontro na igreja ao ‘sim’ em cima do trio elétrico: a história de amor dos noivos que se casaram na Parada LGBT+ em SP

Anderson Batista Almeida Oliveira e Silvano Lopes da Silva, de Sorocaba (SP), se casaram durante a Parada LGBT+, em São Paulo, no domingo (2). Em entrevista ao g1, eles falaram sobre como se conheceram, o pedido de casamento, a cerimônia e a luta contra o preconceito. Moradores de Sorocaba (SP) se casaram na Parada LGBT+ em SP
Arquivo pessoal
Mais do que o Mês do Orgulho LGBTQIA+, junho é particularmente especial para o casal Anderson Batista Almeida Oliveira e Silvano Lopes da Silva. Isso porque, além de ser o mês do aniversário de Ander, os dois se conheceram em junho de 2017, começaram a namorar no dia 9 do mesmo mês e, no último domingo, dia 2 de junho de 2024, trocaram as alianças em cima de um trio elétrico na 28ª Parada do Orgulho LGBT+, em São Paulo.
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A história de amor entre o analista de customer service Anderson, de 26 anos, e o analista tributário Silvano, de 36 anos, começou com uma troca de olhares no último lugar onde os dois esperavam conhecer o futuro esposo: em uma igreja localizada no bairro Parque Vitória Régia, em Sorocaba, no interior de São Paulo.
“É muito engraçado, porque nós nos conhecemos na igreja, na Paróquia Santa Maria dos Anjos. Em um domingo, era a missa de crisma do irmão do Silvano. A gente se viu, se olhou, e amigos em comum que estavam ali apresentaram a gente. Nós começamos a nos conhecer e, aí, nunca mais nos separamos”, lembra Ander.
“Nós dois somos muito devotos de Nossa Senhora. Então, a gente fala que foi ela que deu um para o outro de presente. É muito especial a maneira como a gente se conheceu, dentro da igreja”, continua.
De lá para cá, já são quase sete anos de relacionamento, sendo seis em união estável e morando juntos. Só faltava o próximo passo: o pedido de casamento para, enfim, oficializar a relação. E ele veio da maneira mais emocionante o possível para Anderson.
Anderson e Silvano se conheceram em uma igreja e estão juntos há quase sete anos
Arquivo pessoal
💍 Pedido mágico
Fã de carteirinha da saga “Harry Potter”, o analista de customer service escolheu a cidade de Orlando, nos Estados Unidos, para passar as férias de abril deste ano com o companheiro, fazendo com que Silvano enxergasse na viagem uma oportunidade indispensável para fazer o tão esperado pedido.
“Eu comecei a organizar tudo isso há dois anos, quando a gente deu entrada no processo do visto americano. Acabou demorando um pouco, porque, devido ao pós-pandemia, acumulou a quantidade de pedidos de visto, então a gente acabou demorando para ter a entrevista e a aprovação”, relata.
Depois de muita espera, Silvano pediu Anderson em casamento em um dos parques da Universal, que contam com atrações e referências dos filmes de “Harry Potter”. A reação de Ander foi totalmente inesperada (assista abaixo).
“Ele imaginava que iria para o parque realizar o sonho de criança de conhecer o lugar, mas jamais esperava que fosse ter um pedido de casamento. Então, primeiramente, ele teve uma reação de choque e, depois, ele ficou muito emocionado”, conta Silvano.
Pedido de casamento no Castelo de Hogwarts surpreendeu Anderson
Arquivo pessoal
Para Anderson, que já havia chorado o dia inteiro só por ter conhecido o castelo fictício de Hogwarts, foi impossível segurar as lágrimas novamente quando o então namorado pegou a caixinha com as alianças.
“Durante o dia, vimos um espelho que reflete os nossos desejos mais profundos. Eu brinquei com ele: ‘faz um pedido’. Ele só riu. Depois, na hora de me pedir em casamento, ele falou: ‘lembra que mais cedo você falou para eu fazer um pedido? Então, eu vou fazer esse pedido agora’. Aí, ele ajoelhou e me pediu em casamento”, detalha.
Como presente da Universal, os noivos ainda ganharam uma volta na montanha-russa do personagem Rúbeo Hagrid, sem precisar pegar fila.
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🥂 O dia do ‘sim’
Algumas semanas depois, Anderson e Silvano foram convidados pela empresa onde trabalham para, ao lado de um casal de influenciadoras, participar de uma cerimônia rápida de casamento em cima de um trio elétrico da marca, na Parada do Orgulho LGBT+, que seria realizada na Avenida Paulista, no domingo.
Acompanhados de cinco amigos, que foram escolhidos a dedo para serem os padrinhos e madrinhas do casal, os noivos foram para São Paulo bem cedo no dia do casamento. A primeira parada foi um salão de beleza, onde fizeram cabelo, maquiagem e se vestiram. Em seguida, o grupo pegou uma van para a Avenida Paulista.
Noivos levaram cinco padrinhos e madrinhas escolhidos a dedo para São Paulo
Reprodução/Instagram
Uma vez em cima do trio elétrico, Anderson e Silvano se depararam com um DJ e o celebrante. Com validade no civil, a cerimônia foi breve, mas o casal teve a oportunidade de fazer os votos, trocar as alianças e ouvir um pouquinho da sua história por outro ângulo.
“Foi uma experiência incrível. Desde o momento em que a gente aceitou fazer parte desse momento, a gente achou que seria uma coisa grande, mas não do tamanho que foi, porque foi grandioso demais, foi especial demais para os dois poder dizer esse ‘sim’ na frente de milhões de pessoas”, explica Anderson.
Noivos do interior de SP se casam em cima de trio elétrico da Parada LGBT+ na Paulista
Anderson e Silvano se casaram em trio elétrico, junto com casal de influenciadoras
Arquivo pessoal
Como os noivos têm parentes em Itapeva (SP), Alagoas e Rondônia, a cerimônia foi transmitida pela internet. “A gente pôde sentir a energia dessas pessoas, mesmo que de longe. Então, foi uma sensação muito gostosa, de conforto, de acolhimento, de carinho, de estar no meio da nossa comunidade”, reforça Silvano.
Para fechar com chave de ouro, o casal ainda assistiu a um show da cantora Gloria Groove de cima do trio: “ela conversou com a gente e desejou boa sorte. Nós até postamos nas redes sociais que tivemos a bênção da nossa madrinha ali, que foi a Glória. Então, agora, a gente a considera como madrinha mesmo de casamento”, brincam.
Após cerimônia, casal assistiu a show da cantora Gloria Groove de cima do trio
Arquivo pessoal
🏳️‍🌈 História de luta
O objetivo era colocar um ponto final na violência policial contra a comunidade LGBT dos Estados Unidos, mas, na verdade, a Rebelião de Stonewall acabou se tornando o primeiro parágrafo de uma história de muita luta por respeito e direitos.
Com as frequentes invasões de policiais a bares gays de Nova Iorque, ativistas se reuniram, no dia 28 de junho de 1969, em frente ao bar Stonewall Inn, e atiraram pedras contra a polícia. A data se tornou um símbolo importante na história da comunidade e, até hoje, marca o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+.
Rua Christopher, em Nova Iorque, se tornou um endereço histórico e marca o início da Parada do Orgulho na cidade
Erica Berger/Newsday RM via Getty Images
Durante as férias nos Estados Unidos em abril, Anderson e Silvano também estiveram em Nova Iorque e aproveitaram para conhecer o local onde tudo começou: o Stonewall Inn.
“Não tem como você estar lá e não sentir a energia do bar, não ver o quanto aquilo foi importante. Muitas pessoas lutaram e algumas até perderam suas vidas para que hoje a gente pudesse ter o direito de ter mais liberdade, mais igualdade, de viver o nosso amor”, comenta o analista tributário.
Noivos conheceram o local onde tudo começou: o Stonewall Inn, em Nova Iorque
Arquivo pessoal
Em 1970, os norte-americanos se reuniram novamente. Desta vez, na primeira Parada do Orgulho LGBT do mundo. O grupo de ativistas partiu da Rua Christopher, onde fica até hoje o Stonewall Inn, e marchou até o Central Park.
No Brasil, a primeira marcha reuniu cerca de duas mil pessoas na Avenida Paulista, em São Paulo, em 1997 – ano em que, por coincidência, Anderson nasceu.
“Agora, a gente está na história da Parada também e de uma forma tão bonita. Através do nosso amor, pudemos ajudar a propagar a mensagem de que o amor é válido, de que todo mundo tem direito a ter casamento. Se a gente impactasse uma, duas pessoas, a gente já ficaria muito feliz. Ter o nosso amor visto por algumas pessoas como inspiração ou como representatividade para ajudar a levar essa mensagem foi muito especial para a gente”, confessa Silvano.
Ao mesmo tempo em que comemora o casamento com Anderson, no entanto, o analista tributário chama a atenção do público para o fato de que o direito ao reconhecimento no civil da união homoafetiva voltou a ser discutido no Congresso.
“Hoje a gente está podendo celebrar, mas também protesta para que o Legislativo volte o olhar para discussões mais importantes para a sociedade, e não para um direito que nós já temos adquirido”, opina.
Primeira Parada do Orgulho LGBT no Brasil aconteceu em 1997, em São Paulo
Pexels
✋ Preconceito velado
Durante os votos na cerimônia de casamento, Silvano emocionou o público ao dizer que o casal já recebeu muitos “nãos” para que pudesse, enfim, dizer o “sim” naquele dia, em cima do trio elétrico. Embora os dois nunca tenham sofrido bullying ou violência apenas por serem quem são, o distanciamento de algumas pessoas próximas por puro preconceito os marcou bastante.
“De quem a gente só esperava acolhimento ouviu aquela frase ‘aceito, mas não seja assim, evite carinho em público’. É o preconceito ou a intolerância fantasiados de cuidado, de tipo ‘evite fazer isso para que os outros não te olhem torto’, mas será que a pessoa está preocupada com a gente ou com o que vão falar dela por sermos próximos? É muito triste precisar passar por isso. Foi complicado, mas isso acabou que uniu mais a gente.”
Na opinião de Silvano, o preconceito contra a comunidade LGBT+ no Brasil, que estava velado ou disfarçado, voltou muito forte nos últimos anos, pois as pessoas se sentiram encorajadas a expor o que pensam. É aí que entra a importância de eventos de conscientização como a Parada de São Paulo, que é considerada a maior do mundo.
“Melhorou muita coisa, mas o preconceito continua forte nos dias de hoje e a gente tem que continuar brigando pelos nossos direitos. Quando a gente fala sobre ‘pride’, é o orgulho no sentido contrário de vergonha, porque, por muito tempo, a comunidade LGBT sentiu vergonha de ser quem é. Então, que a gente troque a vergonha pelo orgulho e possa celebrar isso”, completa.
Casal reforça a importância de eventos de conscientização, como a Parada LGBT+ de São Paulo
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